Modelo icônico da Ford – F-150 – a maior picape do mundo prova que desempenho e força também podem ser atributos dos lendários motores V8 a gasolina

Mauro Cassane

TranspoData, Divulgação

Um motorzão V8 a gasolina que desenvolve 405 cv de potência. Esse deveria ser logo de cara o cartão de visita da maior picape do mundo que, desde o início do ano passado, está na rede de concessionárias da Ford em todo o País. Mesmo sabendo que frotista tem forte predileção por diesel, a aposta da montadora foi acertada: as vendas da Ford F-150 vêm galopando desde sua apresentação oficial no País há mais de um ano.

Produzida nos EUA, a Ford F-150 sempre foi objeto de desejo dos picapeiros brasileiros. Muitas chegaram aqui por meio de importações independentes especialmente para atender demanda de toda gente que curte aquele tradicional estilo americano de mobilidade seja urbana ou para viagens: se deslocar por aí por meio de vistosas e brilhantes picapes de grande porte.

Pessoas que até amam a natureza mas torcem o nariz para veículos elétricos. Esse público, censo algum mede, embora sabemos que são contabilizados aos milhões pelo mundo e milhares aqui no Brasil. A lacuna deixada pela Ford foi, por bom tempo, preenchida pela Ram com seus modelos 1500, 2500 e 3500 vendendo muito a despeito dos preços acima de 400 mil reais.

Ligeira, a Ford tratou de trazer oficialmente a Ford F-150 nas suas duas versões: Lariat (um pouco mais simples, mas ainda assim luxuosa) e Platinum (topo de linha). Os valores são compatíveis com todo pacote de luxo embarcado nesses veículos: cerca de 480 mil reais para a primeira e perto de 520 mil reais para a segunda.

Para se ter uma boa ideia de como esse tipo de picape tem fãs no Brasil, um dado da própria Ford é muito ilustrativo: assim que lançou o modelo F-150 por aqui a Ford disponibilizou 500 unidades para reserva online aos seus clientes já cadastrados. Em menos de uma hora, 250 unidades foram reservadas. No dia seguinte, quando a empresa abriu para o público geral, em menos de 10 minutos, as demais foram arrematadas.

Avaliamos a versão topo de linha: Platinum. É uma picape do mais alto padrão. Vem equipada com tudo que se pode imaginar em tecnologia para conforto, dirigibilidade, conectividade, segurança e performance.

A chave é por aproximação. E, sensores leem a chave em seu bolso ou sua mão, acionando automaticamente portas (que se destrancam), estribos (que descem) e retrovisores (que se ajustam). Você sai do carro, clica em fechar e vai fazer suas coisas. Na volta, quando estiver próximo ao carro, cerca de um metro, tudo é ativado automaticamente. É uma boa mas, talvez, nem sempre você queira ativar seu carro neste momento, especialmente se suspeitos estão rondando por perto.

As dimensões avantajadas agradam quem já vem de berço com o gosto pelos caminhões e dirige esses gigantes com destreza. O comprimento de quase seis metros não causa estranheza. Muito menos a largura e altura, também com quase dois metros cada uma. Estranha um pouco, mas bem pouco, o silêncio do motor V8 (o mesmo do Mustang, mas com ajustes) que, comparado ao diesel, é tão quieto que parece elétrico.

Para manobras, assim como as grandes Ram, há o suporte eficiente de sistema de câmeras que cobrem 360 graus em visão assistida por sensores. Se bater em alguma manobra é porque não prestou atenção no monitor e nos alarmes auditivos de aviso de potencial colisão. Ou seja, a despeito de ser grande, é mais fácil manobrar (com segurança) que um carro pequeno popular.

A Ford F-150 pesa pouco mais de 2,5 toneladas. Não é muito para um carro dessa dimensão. Isso porque a engenharia da Ford tratou de construí-la com mais metais leves como o alumínio. Por isso mesmo, leve e com um motor de cavalagem de caminhão pesado a tocada só é tranquila porque a transmissão automática tem dez velocidades e é possível escolher o modo de condução em função do tipo de terreno e, especialmente, o estilo do condutor.

Convenhamos que carro algum, nem mesmo os esportivos, devem ser conduzidos em velocidades em desacordo com as regras locais de trânsito. Potência é bom e deve ser bem empregada em retomadas de velocidades e ultrapassagens seguras. Estradas e áreas urbanas não é lugar de corrida. Quem tem gana de correr, deve procurar uma boa pista específica para este fim.

Como todo mundo bem sabe o motor V8 nunca deixa a desejar. Esse 5.0 (reforçando as credenciais desse motor: é uma versão mais calibrada para picape do bólido usado pela Ford no Mustang), trabalha com 405 cavalos com torque de 56,7 kgfm (é força para dar e vender). A transmissão automática de 10 velocidades foi bem ajustada e, com ela, é possível escolher, no seletor ao lado do painel, a forma mais adequado de condução. São oito modos diferentes mas o mais usuais são quatro: “Normal”, “Eco”, “Esportivo” e “Escorregadio”. Tudo muito intuitivo pois o painel muda de cor conforme o modo escolhido.

Se estiver que encarar pista molhada ou lama mesmo, o melhor a fazer é selecionar o modo “Escorregadio”. Neste caso o sistema entende a situação e já aciona, direto, a tração 4×4. Nos demais modos, fica no 4×2. O mais adequado, e equilibrado, é o modo “Normal” (o nome já diz tudo, certo?). Neste modo a F-150 dá respostas rápidas com pisadas leves no acelerador e, para viagem, é muito apropriado. Fizemos, neste modo, na estrada, sem carga, 8,2 km/l. É uma média excelente em se tratando de um motor V8 a gasolina.

No modo “Eco” a diferença fica bem gritante. A picape fica, de fato, bem mais comportada e com uma tocada frouxa lembrando os antigos carros “mil”. Francamente, não agrada mas pode ser útil no trânsito dos centros urbanos. Não medimos consumo neste modo. Acreditamos que passa de 10 km por litro. Por outro lado, no modo “Esportivo” o comportamento da F-150 é bruto, arisco e nervoso demais. Trisca-se levemente o pé no acelerador e ela pula para frente. A relação de marcha fica curta, muito reduzida, e a F-150 vira um torpedo que dá até calafrio. Anda muito forte neste modo. Também não medimos consumo mas estimamos: no máximo 6 km por litro.

Tecnologicamente falando é bacana ter esses dois modos distintos e opostos “Eco” e “Esportivo”, mas, convenhamos, dá para ficar bem feliz sem eles. O modo “Normal” é nota 10 em todos os quesitos pois entrega esportividade na medida certa e é econômico quando o condutor é consciente.

Por dentro a Ford F-150 é, de longe, a mais luxuosa do segmento. Não tem nada no mercado, atualmente, que rivalize com ela. O conforto é até exagerado. Viaja-se horas e não dá para dizer que há alguma dor lombar ou nas pernas. Os bancos dianteiros permitem diversos ajustes elétricos na lombar, inclinação, altura e tudo mais. Desliga-se o carro em qualquer parada e o banco automaticamente se afasta para permitir que você saia do posto do motorista com total conforto. O console central caberia uma pequena geladeira. A alavanca da transmissão pode repousar completamente (100% retrátil) de modo a permitir que, no espaço entre motorista e carona, vire uma boa mesa para refeição ou mesmo reunião pois abrigaria tranquilamente um notebook.

O sistema de som é perfeito com autofalantes potentes espalhados estrategicamente por todo carro. Do mesmo modo eficiente funciona o sistema de ar-condicionado capaz de, rapidamente, adequar e equalizar a temperatura por dentro. Quem paga por luxo, vai encontrar exatamente isso na F-150. Nenhum detalhe escapa: dos bancos em couro, volante anatômico e o painel ergonômico com tela multimidia de 12 polegadas.

O teto solar com tela entrega ainda mais charme e, a noite, viaja-se curtindo, quando der, claro, estrelas e luar. A caçamba tem 1m70 de comprimento por 1,52 de largura e tem capacidade para 1.370 litros (quase 700 kg). E seu CMT (Capacidade Máxima de Tração) é de 3.515 kg.

Um conselho importante aos amantes de picapes que se animaram a comprar uma F-150: antes de rodar consultem, com calma e atenção, tutoriais para se trocar pneus. Ou, ainda melhor, na entrega técnica na concessionária, peça para um técnico te mostrar como baixar o estepe. Não é uma operação simples. Macaco e chave de rodas ficam posicionados atrás do banco traseiro. Isso aí, ok. Até aí, muito simples. Desparafusar as rodas igualmente é fácil. Mas, camarada, na hora de tirar o estepe a coisa complica. Não é nada intuitivo. O estepe é preso por parafuso com mola de segurança (para impedir furtos) e, para retirá-lo, é preciso encontrar um orifício escondido atrás da placa de trânsito traseira e inserir uma chave para baixa-lo. Essa operação pode até ser simples, mas verdadeiramente precisa de alguém que saiba exatamente como fazer para dar as instruções. Ou seja, este é um item que não é intuitivo como deveria.

É a única ressalva desse carrão de luxo com caçamba. A Ford F-150 Platinum é uma picape que chama a atenção por onde passa ou estaciona. A performance é de se tirar o chapéu com esse motor classudo V 8 5.0 que é capaz de fazer de 0 a 100 km/h em menos de oito segundos (aferimos no modo “Normal”). Além disso, deixando esportividades desnecessárias de lado, convenhamos, em tocada civilizada, primando pelo conforto e curtindo a estrada, ainda por cima é econômica.

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