Mercado total deve avançar 11%, mas segmento de caminhões tem projeção de recuo superior a 20%

Roberto Hunoff

Foto Banco de Imagens

Com base nos resultados acumulados no período de janeiro a setembro, a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) revisou as projeções de vendas para 2023. No cômputo de todas as categorias, a entidade estima crescimento de 11,1% ante os 3,3% iniciais, totalizando 3 milhões 945 mil unidades – em números absolutos, o acréscimo é de 395.543 veículos.

O segmento de caminhões é o único a contrair no ano. A estimativa de recuo é de 20% a 23% diante de uma visão inicial de estabilidade sobre 2022, na casa de 124,6 mil emplacamentos. A nova projeção é de 96 mil. Na avaliação da Fenabrave, a queda decorre do forte impacto provocado pela troca de tecnologia, do Euro 5 para Euro 6, associado às restrições nas linhas de crédito.

Sempre muito alinhados com o comportamento de caminhões, os implementos rodoviários devem descolar em 2023. De uma queda inicial estimada em 10% a tendência é de fechar com alta de 6%. O fator determinante é a renovação da frota que não ocorreu em 2022, notadamente, ligada ao segmento de extrapesados.

Na mesma direção seguirá o mercado de ônibus. A projeção inicial de aumento de 5% foi agora elevada para 18%. Pesa na mudança a recuperação do setor rodoviário e de fretamento e a velocidade e eficiência na implantação do Programa Caminho da Escola.

No segmento de comerciais leves e automóveis, a Fenabrave trabalha agora com alta de 7,3% diante de uma projeção inicial de estabilidade. O desempenho está associado às medidas provisórias editadas pelo governo federal e ao aumento das vendas corporativas.

As motocicletas, que já vivem uma de suas melhores fases, em função da consolidação da mudança de comportamento do consumidor no pós-pandemia, com o aumento do transporte individual, entregas e substituição do segundo automóvel, deve consolidar alta de 20% no ano contra 9% iniciais. A única preocupação apontada pela Fenabrave está relacionada aos problemas no transporte fluvial devido à seca existente na Região Amazônica, que deve persistir até o final do ano.

Com menos dias úteis, setembro tem recuo nos emplacamentos

Além do menor número de dias úteis em setembro (20) sobre agosto (23), a continuidade do crédito restrito e a perda do poder de compra da população seguem entre as preocupações do setor para uma recuperação mais acelerada. De acordo com levantamento realizado pela Fenabrave, o mercado absorveu, em setembro, 351.301 veículos, recuo de 5,4% na comparação com agosto. Sobre igual mesmo mês de 2022, houve alta de 4,8%.

No acumulado de nove meses, o setor registra crescimento de 12,5%, com quase todos os segmentos, à exceção de caminhões, apresentando resultado positivo sobre o ano passado. O número total é de 2 milhões 971 mil 324 unidades. “Apesar da evolução nos números, os desafios do setor automotivo permanecem, com o crédito restrito e a diminuição do poder de compra da população ainda dificultando o acesso das pessoas a veículos novos”, analisa Andreta Jr., presidente da entidade.

Os emplacamentos de caminhões permanecem em movimento de ajuste de mercado devido à introdução do Euro 6. “O segmento veio de dois anos muito positivos, mas o crédito restrito e o ajuste de preços dos novos modelos afetaram o desempenho do mercado”, observa o dirigente.

Apesar da ligeira retração no mês, o segmento de ônibus segue positivo em 2023.

Andreta Jr. avalia que o mercado passa por um momento de consolidação da recuperação iniciada ainda em 2022. “Esse, que foi um dos segmentos mais impactados pela pandemia, vem se recuperando e mais ainda neste ano, quando foi beneficiado pelo Programa Caminho da Escola”, avalia. Existe a expectativa de que, na segunda-feira (09/10), sejam licitados mais 16.300 ônibus como parte do programa federal. “Isto impactará positivamente também 2024, pois não haverá tempo para a transação efetiva ser concluída ainda este ano”, acredita.

Os emplacamentos de implementos mantêm o ritmo positivo consolidado ao longo do ano. “Apesar da oscilação de caminhões, segmento que costuma apresentar resultados equivalentes, os implementos apresentam números em alta e consistentes ao longo de 2023, mostrando que haverá um descolamento maior de caminhões este ano em função de uma renovação de frota que não ocorreu em 2022”, analisa.

Os segmentos de automóveis e comerciais leves se recuperaram nos emplacamentos diários na comparação com agosto. Os resultados foram superiores à média mensal do ano, especialmente, sobre os emplacamentos do primeiro semestre de 2023. “Os emplacamentos de julho e agosto foram bastante influenciados pela MP 1.175, que incentivou a aquisição de veículos sustentáveis no país”, argumentou o presidente.

Segundo dados da entidade, a média de emplacamentos diários de automóveis e comerciais leves foi de 8.560 unidades, em agosto, contra 9.372 unidades em setembro, num aumento de quase 9,5%. “Isso mostra que o mercado está se reerguendo, em boa parte graças às vendas corporativas, mas ainda num ritmo abaixo do esperado para a escala necessária, principalmente, no varejo”, alerta Andreta Jr.

O segmento de motocicletas continua aquecido em 2023, apesar da alta restrição de crédito. “Mesmo com dificuldades para obtenção de financiamentos bancários, os consumidores têm movimentado o mercado, apoiados pelo consórcio e impulsionados pela mudança comportamental da população, que passou a utilizar mais serviços de entrega, transporte individual e, também, realizar a substituição do segundo automóvel pela moto”, assinala.

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