De cada 10 caminhões vendidos no Brasil, cinco são do segmento de pesados. Dentro deste segmento, os 10 mais vendidos são quase todos com perfil mais utilizado para as atividades de transportes do agronegócio. Executivos da indústria de caminhões, como Roberto Leoncini, vice-presidente de vendas e marketing caminhões e ônibus da Mercedes-Benz do Brasil, e Ricardo Barion, diretor de vendas e marketing Iveco, afirmam que mais de 30% das vendas hoje são para empresas ligadas ao agronegócio.
Dentro deste contexto, o transporte de grãos e outros produtos das diversas regiões do País são feitos por cavalos mecânicos dotados de boa potência para puxar bitrenzão, tecnologias para a logísticas e cabines confortáveis para os motoristas que atravessam o País por diversos dias de viagens. Assim, para ajudar o transportador a conhecer melhor os produtos e a decidir na sua escolha, a TRANSPODATA, fez o levantamento das opções de cada marca para atender este tipo de demanda.
Como os caminhões também são usados para outras atividades entre as safras e, também, são revendidos geralmente ainda seminovos, o cavalo mecânico deve atender o transporte de longa distância do agronegócio e também precisa ser configurado em suas características técnicas, como entre-eixos, tanque de combustível, cabine etc., para ser versátil no atendimento de outros segmentos.
Assim, confira a seguir o que cada marca apresenta como melhor escolha em termos de configuração. Em comum, por questões óbvias, todos os modelos são 6×4, cabine leito teto baixo ou teto alto e altas potências. Vamos apresentar as opções na ordem alfabética das marcas.
1. DAF XF105 510
A DAF é uma marca holandesa que pertence ao grupo norte-americano Paccar. Produz os caminhões em Ponta Grossa (PR) desde 2013 e, desde então, elegeu os transportadores do agronegócio como seus principais clientes. O modelo recomendado da DAF é o XF 105 510 6×4, o mais potente da marca ofere- cido no Brasil. A potência do motor Paccar MX de 13 litros é de 510 cv e o torque de 254,9 mkgf garantem boa velocidade média no PBTC do bitrenzão de 74 toneladas.
De série, a caixa é a ZF AS-Tronic de 12 velocidades, já preparada para suportar às demandas da operação com grãos. A relação da primeira marcha é de 15,86:1 e a última é direta (1:1). Esta caixa é uma das mais utilizadas pelas marcas europeias.
A relação de diferencial que a DAF oferece nessa atividade é a 3,07:1, mais longa. Porém, ela também tem a versão 3,42:1 mais curta para atender aquela operação cuja velocidade é controlada por influência do embarcador. Essa relação também é adequada aos operadores que atuam em topografias de muitos aclives. Para o XF, a DAF também recomenda o eixo sem redutor nos cubos nessa atividade para reduzir o consumo de diesel. A marca disponibiliza dois entre-eixos: 3.300 mm e 3.500 mm, sendo o mais usual o de 3.500 mm para comportar dois tanques de maior litragem que, juntos, totalizam 720 l. No quesito segurança, o freio-motor de 430 cv de poder de frenagem é oferecido como série no XF, assim como o ASR (controle de tração) para evitar desgaste desnecessário de pneus.
Para essa operação, a suspensão metálica é a mais usada, aliás algo em comum em todos os caminhões para o transporte de grãos em estradas precárias. Um caso ou outro que não envolve a operação no Centro-Oeste poderá usar a pneumática, o que é raro se tratando do agronegócio com atividade também dentro de fazendas.
Tanto para a DAF quanto para as demais fabricantes, o pneu utilizado é o 295/80R22,5 sem câmara e radial, por sua grande dissipação de calor e maior durabilidade.
O preço médio do XF105 praticado no mercado em meados de 2019, segundo pesquisa Fipe, é de R$ 444.545.
2. Iveco Hi-Way 800S56TZ 6×4
A opção com maior potência pode ser encontrada no portfólio da Iveco. Para bitrenzão de 74 t de PBTC, o modelo da marca italiana mais indicado é o Hi-Way 800S56TZ 6×4.
O motor é FPT Cursor 13 (litros) de 560 cv e torque de 254,9 mkgf de 1.000 a 1.500 rpm. Esse cavalo mecânico possui um diferencial de 3,73:1 adequado à operação rodoviária de longa distância para alçar velocidades cruzeiros entre 80 km/h e 90 km/h.
Sua cabine indicada pela engenharia da marca é a leito teto alto cujo piso é semiplano, e tem como maior qualidade a largura de 2,5 m, oferecendo mais conforto interno.
A caixa automatizada, apesar de ser de 16 velocidades, é da mesma família da caixa do DAF, a ZF-Astronic. Trata-se da ZF 16AS 2630 TO, porém, com a vantagem da última marcha ser overdrive (relação 0,83:1), o que significa velocidade cruzeiro em uma rotação menor e, consequentemente, menor consumo em comparação a uma caixa de relação direta. A alta potência e torque do motor Cursor 13 também permite uma primeira marcha com relação de 14,12:1.
Com entre-eixo de 3.500 mm de série, ele é oferecido com dois tanques de 600 + 300 litros. Conta com a opção também de entre-eixos de 3.200 mm, mas neste caso, o tanque teria que ser um de 550 litros.
No quesito segurança, o modelo está equipado com freio-motor CEB de 460 cv de poder de frenagem, o que garante ao motorista maior controle ainda mais se for usar implemento de 9 eixos. O caminhão possui freio ABS (por força da lei) com EBL (Eletronic Brakeforce Limitation – Balanceamento da Força de Frenagem).
O preço médio do Hi-Way 800S56TZ 6×4 é de R$ 462.740.
3. MAN TGX 29.480
A opção na marca MAN não ultrapassa os 500 cv, mas entrega 245 mkgf de torque entre 1.050 rpm e 1.400 rpm. O TGX 29.480 6×4 é um caminhão para quem é bem atendido com 480 cv e busca uma boa relação-benefício entre trem de força, cabine confortável e ampla rede de concessionários pelo preço médio de R$ 449.222, segundo pesquisa Fipe. O motor é o alemão MAN D2676 de 12,4 litros. Assim como no DAF e Iveco, a caixa de marchas também é da mesma família ZF AS-Tronic automatizada de 16 marchas com a mesmas relações do Iveco Hi-Way, a primeira de 14,12:1 e a última overdrive 0,83:1.
O grande volume de vendas do TGX é da cabine leito teto alto, mas para o segmento graneleiro, a engenharia da MAN recomenda o teto baixo, porque ele fica perto da altura do implemento carregado, o que favorece a aerodinâmica e o menor consumo de diesel.
Sobre a segurança, o TGX possui o freio motor por cabeçote de 400 cv de poder de frenagem, denominado Brake Matic, também capaz de gerenciar a frenagem com os freios de serviço. O modelo, por ser traçado, possui bloqueio de diferencial que funciona tanto na transversal como na longitudinal, ou seja, trava as quatro rodas – algo comum a todos os demais modelos traçados do mercado.
A relação coringa nesse caminhão é a 3,70:1 que permite o veículo trafegar a uma velocidade cruzeiro de 90 km/h.
4. Mercedes-Benz Actros 2651
Trata-se de um fenômeno em crescimento de vendas nos últimos dois anos? Não, não há fenômeno. O Mercedes-Benz Actros é resultado de um longo trabalho de engenharia, que foi ao campo entender as reais necessidades do transportador que atravessa o País por complexos percursos, do marketing e da comunicação da empresa que soube comunicar esse trabalho ao mercado.
O Actros 2651 foi lançado no final de 2015, com vendas no início de 2016. Para se ter uma ideia, segundo dados da Fenabrave, no final de 2016 este modelo não aparecia entre os 10 caminhões cavalos mecânicos mais vendidos; em 2017 foi o 6º mais emplacado no segmento dele; em 2018 foi o 4º; e nos cinco primeiros meses de 2019 já é o segundo, atrás apenas do Volvo FH 540, líder do segmento.
Para atividade de graneleiro, a Mercedes-Benz recomenda o Actros 2651S com suspensão metálica. Para maior autonomia nas viagens que, geralmente são acima de 2.000 km, o tanque de combustível tem de ser de grande porte. Para o Actros com entre-eixos de 3.600 mm, a fábrica oferece a opção de dois tanques que totalizam 1.080 litros (780+300). Esse volume permite ao frotista controlar a sua planilha de gastos e garantir um combustível de melhor qualidade eliminando a necessidade de reabastecimento em postos desconhecidos.
A opção de cabine com maior nível de conforto e segurança oferecida pela Mercedes-Benz é a Megaspace, com piso plano e com muitos equipamentos. Deve-se destacar que nesse segmento é mais comum a cabine leito teto baixo, contudo, o cliente leva em consideração o valor de revenda que é maior na versão leito teto alto.
O Actros possui motor MB OM-460 de 510 cv e torque de 244,7 mkgf a 1.100 rpm que trabalha combinado a uma transmissão automatizada Powershift de 12 marchas com a primeira relação mais curta e mais adequada a topografia brasileira (11,63:1) e a última overdrive mais longa entre as caixas dos modelos deste artigo (0,77:1), o que proporciona menos giros do motor em 12ª marcha, favorecendo o menor consumo em velocidade cruzeiro.
A relação de diferencial entregue pela marca é a i=3,91 que atende 90% das operações – por ser mais flexível, já que prioriza boa velocidade em terreno plano como também quem trafega eventualmente em velocidades menores e em estradas mais acidentadas.
Para a segurança, o Actros sai de fábrica com o freio motor Top Brake, sistema de gerenciamento e distribuição de força eletrônico dos freios, controle de tração e o Hill Holder (assistente de partida em rampa). Opcionalmente, o modelo pode ser equipado com retarder.
O preço médio do Actros 2651S é de R$ 451.130.
5. Scania R 450 ou R 540
Na geração fabricada até o final de 2018, o R 440 foi o campeão de vendas da marca e do segmento de cavalos mecânicos rodoviários. Na nova geração, por analogia, o seu substituto é o R 450, que segue como o modelo mais vendido da Scania e com potencial de disputar as primeiras posições no segmento de pesados. O R 450 conta com o motor de 13 litros, 450 cv e torque de 239,6 mkgf, o que atende a necessidade de um bitrenzão de 74 t de PBTC.
Porém, para fazer frente aos concorrentes e se precisar de uma melhor velocidade média maior em trechos longos, é interessante conferir o R 540, com o mesmo motor, mas com potência de 540 cv e 275 mkgf de torque, o maior torque da categoria.
Vale considerar o investimento inicial, que no R 450 é de R$ 489.564 (preço médio segundo pesquisa Fipe), e no R 500, de R$ 535.965. Esses valores são médios, o valor pago por um caminhão depende muito da capacidade de negociação do comprador, o que envolve quantidade e serviços agregados, como contratos de manutenção e serviços conectados. Por exemplo, a Tora Transportes adquiriu 180 caminhões Scania dos modelos R 450 6×2 e R 500 6×4 com contratos de manutenção e serviços conectados. O valor do investimento foi de R$ 70 milhões, o que dá uma média de R$ 388.888 por unidade.
Com o lançamento da nova geração de caminhões, a Scania também mudou a forma de vendas para Tailer Made Application (TMA). Por meio de um software e com a ajuda do vendedor da concessionária ou de um engenheiro de vendas da fábrica (se for um volume maior ou uma compra mais complexa), o transportador começa a fazer a configuração do modelo a partir do segmento de atuação, sendo o de graneleiro de longa distância, uma das 36 opções. A partir de outros dados, como quilometragem anual, rota, tonelada a ser transportada, velocidade média desejada, nível de conforto da cabine etc., o software indica a melhor configuração e o preço. A partir disso, o transportador ainda pode fazer alterações para reduzir o preço do caminhão ou melhorar algum item do caminhão.
6. VW Constellation 26.420
Dentro do Grupo Traton, as opções para bitrenzão de 9 eixos são das marcas MAN e Scania. Mas, para bitrem de sete eixos e distâncias médias, a Volkswagen Caminhões conta com o Constellation 26.420 6×4 com suspensão metálica. A escolha da cabine leito teto alto é uma melhor garantia de valor de revenda, mas a opção de teto baixo (dependendo da estatura do motorista e lembrando que o piso não é plano), resolve e favorece a aerodinâmica no caso do segmento de carroceria graneleira.
Apesar de ser um caminhão mais simples em comparação aos mencionados nesta reportagem, vale ressaltar que o Constellation é entregue de série com trio elétrico, coluna de direção regulável e banco com suspensão pneumático. A transmissão também é de série, automatizada ZF de 16 marchas com a primeira bem reduzida (17,03:1) e a última direta (1:1) para combinar com o motor Cummins ISL de 8,9 litros, com potência de 420 cv e torque de 188,7 mkgf a 1.300 rpm. Outro item que o caminhão para esse segmento precisa ter é o bloqueio de diferencial, pelo fato de que o veículo pode acessar estradas de terra e de terrenos arenosos. Com o sistema é possível travar o diferencial para sair de uma situação crítica. Por ter 3.300 mm de entre-eixo, o modelo possui dois tanques que, juntos, somam a capacidade de 615 litros. A relação de 3,42:1 foi a eleita por ser mais versátil, já que na terra o caminhão roda em boa velocidade e na estrada consegue alçar os 90 km/h.
No quesito segurança, o caminhão possui o EBD, sistema que faz a distribuição de força na hora da frenagem, e o ASR, sistema de controle de tração. O freio motor de 325 cv funciona por cabeçote.
7. Volvo FH 540
Até 2016, o Volvo FH 460 era o mais vendido da marca para o transporte de longa distância. A partir de 2017, talvez por uma política de preço similar entre os modelos, o Volvo FH 540 passou a ser o mais vendido e segue assim. Em meados de 2019, o preço médio do FH 540 estava em R$ 544.375 e o FH 460 em R$ 522.012. Essa diferença não existia há pouco mais de um ano e, o interessante, que, mesmo o FH 540 sendo o mais caro não só da marca, mas deste segmento, ele segue na liderança do mercado. Este Volvo é mais caro, inclusive, do que o Scania R 540, que tem preço médio de R$ 535.965.
O motor Volvo de 540 cv é o que tem o segundo maior torque dos modelos desta reportagem, com 265 mkgf, porém, a Scania tem uma opção que ainda não é muito conhecida. Trata-se do R 540 que conta com o motor com a maior potência da mesma família DC13 e torque de 275 mkgf.
Assim como a Scania, a Volvo também oferece serviços de conectividade para melhor atendimento de pós-venda. Isso beneficia aquele cliente que está no meio de uma operação, por permitir que ele receba alerta da fábrica informando que está na hora de parar o veículo para a revisão, dando tempo para ele se programar e fazer a parada na concessionária mais próxima na qual estiver o caminhão.
Hoje oferecido também por Scania e Mercedes-Benz na cabine Megaspace, mas a Volvo é a pioneira na oferta de equipamentos de segurança. São soluções bastantes apreciadas no transporte de longa distância. No caso do operador de grãos, um item que a marca recomenda é o radar frontal para ajudar a reduzir colisões ocasionadas por distração ou cansaço, uma vez que as vias são com retas longas e planas. O ESP (controle eletrônico de estabilidade) também pode agregar na segurança, mesmo porque os caminhões indicados para grãos têm uma dinâmica veicular diferente.
Os atributos físicos de um caminhão adequado para grãos são cabine mais baixa e com defletores laterais – já que a carga é mais baixa e dispensa o defletor de teto. Mas caso opte pelo item, ele também deve ser baixo.
A relação do eixo traseiro é mandatória, já que é ela que vai definir o nível do consumo de combustível. A mais comum na Volvo é a 3,09:1, mais longa e sem redutor nos cubos de roda.
A I-Shift, transmissão automatizada, em sua sexta geração, possui o sistema I-See, uma ferramenta capaz de fazer a leitura da pista por onde o veículo rodar. E por ser capaz de memorizar, da próxima vez que o caminhão trafegar pela mesma rota, o sistema ajudará a tirar a melhor performance de condução do veículo. Todos esses itens juntos podem render em uma economia de combustível na ordem de 3% a 5%.