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Foto Divulgação, Fenabrave
Presidente da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), Alarico Assumpção Júnior projeta recuperação no mercado de veículos comerciais. A expectativa é de quase 22% em caminhões e de 8% em ônibus. Mas alerta: a velocidade da imunização da população contra a covid-19 exercerá papel central na consolidação destes resultados.
TranspoData – Ainda que inferior a dezembro, considerado mês atípico em 2020, o mercado de caminhões iniciou o ano com vendas totais em leve alta sobre janeiro do ano passado. Com base neste desempenho é possível vislumbrar um mercado em recuperação mais efetiva e consistente? Acredita ser possível crescer quanto sobre 2020?
Alarico Assumpção Júnior: O ano de 2021 deve ser de crescimento para o segmento de caminhões. De acordo com nossas primeiras projeções, divulgadas em janeiro, esperamos que os emplacamentos cresçam 21,7% neste ano. Mas é importante destacar que, em 2020, as vendas de caminhões sofreram queda menos acentuada, se comparada a outros segmentos. Enquanto a retração geral do setor da distribuição de veículos, que inclui todos os segmentos automotivos, foi de 21,63%, o segmento de caminhões caiu 12,31% e poderia ter tido queda menor não fossem os problemas de abastecimento de componentes na indústria, que afetaram a produção e entrega às concessionárias que, em dezembro, já tinham pedidos para março para alguns segmentos.
TranspoData – Em 2020, o setor teve o crescimento sustentado, especialmente, pelo agronegócio. A tendência é de manter esta situação ou é possível prever a retomada de outras atividades econômicas, principalmente para a reativação do mercado de leves?
Assumpção Júnior: O agronegócio deve continuar forte também em 2021. É um setor fundamental para o PIB brasileiro e vive momento muito bom no cenário internacional. Outro setor que gera muitos empregos e apresenta crescimento sustentável é o da construção civil. Com a vacina, esperamos que os demais setores da economia possam se recuperar de maneira consistente. O mercado de caminhões leves foi bastante afetado pela pandemia, mas o retorno da confiança dos empresários na economia e a volta do trabalho presencial nas grandes cidades são fatores que podem voltar a aquecer o segmento. O ritmo de vacinação vai ser determinante para a forma de recuperação da economia.
TranspoData – Quais tendem a ser as principais dificuldades que o mercado de caminhões deve enfrentar em 2021?
Assumpção Júnior: Neste início de ano, a dificuldade na oferta de peças e componentes continua sendo um gargalo na produção, mas acredito que essa situação será normalizada no decorrer de 2021. É preciso estar atento, também, a questões políticas e econômicas.
TranspoData – Quais têm sido as principais práticas comerciais que as concessionárias têm adotado para suportar o mercado competitivo e ainda sujeito a muita instabilidade?
Assumpção Júnior: Mesmo com queda menor que a de outros segmentos automotivos, em 2020, o concessionário de caminhões também teve de se adaptar, adequando sua estrutura para continuar operando com as restrições de circulação impostas pela pandemia. No entanto, já há algum tempo, concessionários, de todos os segmentos, têm investido em estratégias de pós-vendas, com boa oferta de serviços e peças, além de ampliar os canais de atendimento aos clientes. No caso de caminhões, estamos em nível internacional de atendimento e qualidade de produtos, com altíssima tecnologia, e fazemos atendimento, muitas vezes, onde o veículo está.
TranspoData – O pós-vendas vem ajudando muito a equilibrar as contas, em períodos de retração nas vendas. Há concessionárias apostando na locação de veículos comerciais como forma de gerar nova fonte de renda? Esta estratégia é viável para o setor como um todo?
Assumpção Júnior: A locação de veículos comerciais pode agradar determinados perfis de transportadores, como aqueles que utilizam veículos adicionais em determinadas épocas do ano, de acordo com a sazonalidade dos seus negócios. Esse pode ser um negócio complementar às concessionárias, mas vale lembrar que a propriedade do veículo é, culturalmente, muito forte no Brasil. Além disso, há boa oferta de crédito, o que favorece a aquisição de veículos.
TranspoData – O mercado sofreu com falta de produtos no ano passado. Já se tem a oferta normalizada?
Assumpção Júnior: A oferta ainda não está normalizada. Dependendo do porte e do modelo do caminhão, a entrega pode demorar até 160 dias.
TranspoData – O mercado de ônibus, por sua vez, segue desaquecido. Com base no desempenho de janeiro, como pode-se projetar o mercado para o ano? Acredita-se ser possível retomar o crescimento, ainda que tímido?
Assumpção Júnior: Nossas projeções indicam alta de 8,2% em 2021. É um crescimento tímido, ainda mais se levarmos em conta que este foi o segmento que registrou a maior queda nos emplacamentos em 2020, com 33%. A pandemia e as quarentenas afetaram muito as empresas de transporte de passageiros, e a queda na compra de ônibus, no ano passado, reflete este cenário.
TranspoData – Em 2020, o setor foi sustentado, principalmente, pelo mercado de modelos escolares, que não gera resultado direto para as concessionárias. Esta situação tende a permanecer, na avaliação da Fenabrave? Ou se vislumbra recuperação de outros segmentos? Quais apresentam possibilidades mais concretas de reação?
Assumpção Júnior: O Programa Caminho da Escola é muito importante para o segmento e, realmente, impediu uma queda ainda maior nas vendas de ônibus. Ele deve continuar movimentando os emplacamentos em 2021, mas, com a vacinação contra a covid-19, a demanda por transporte de passageiros vai aumentar e as vendas do segmento podem se normalizar.
TranspoData – Quais tendem a ser as principais dificuldades que o mercado de ônibus deve enfrentar em 2021?
Assumpção Júnior: As empresas de transporte de passageiros seguem com muitos desafios em 2021, já que, como disse, foi um setor bastante afetado pelas restrições de circulação, que ainda permanecem em diversas regiões. A velocidade de imunização da população brasileira e a retomada das atividades regulares das pessoas é, provavelmente, o principal fator de influência na retomada do segmento.
TranspoData – Quais têm sido as principais práticas comerciais que as concessionárias têm adotado para suportar o mercado?
Assumpção Júnior: A estratégia não difere da adotada no segmento de caminhões: oferta de serviços de pós-vendas, ampliação de canais de atendimento aos clientes e adequação de estrutura e gestão.
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