O comércio eletrônico mudou o modo de operar das transportadoras que buscam diariamente soluções para driblar as dificuldades na logística e assim tornar mais eficaz o transporte dos produtos garantindo entregas rápidas e fretes baixos ao consumidor

Por Daniela Giopato

O comércio eletrônico surgiu no Brasil em meados do ano 2000 com a promessa de revolucionar o modo dos consumidores adquirirem os produtos. Em um primeiro momento, a ideia de comprar e fazer o pagamento on-line, e aguardar o produto sem precisar sair de casa, gerou certa insegurança em relação a eficácia desse tipo de operação. Para conquistar o consumidor, as empresas passaram rapidamente a investir em sistemas de segurança para proteção de dados dos clientes e, principalmente, na logística, com a finalidade de agilizar entregas, o processo de devolução e troca de produtos e também proporcionar valores menores de frete.

“No Brasil, o valor do frete é alto por conta da mão de obra, combustível, seguro, manutenção dos veículos e áreas de riscos. Caminhões não entram em certos locais nem mesmo
com escolta”
— Mauricio Salvador

Para o presidente da ABComm, Mauricio Salvador, com o passar dos anos a insegurança de comprar pela internet diminuiu e houve também uma adequação dos consumidores. Ele explica que as pessoas foram aprendendo a usar os sites de reclamação, as redes sociais para analisar o conceito das lojas, a verificar se o site é criptografado (com o cadeado) e a fazer comparativo para comprovar se as ofertas estão realmente valendo a pena.

No entanto, mesmo com todo o investimento realizado nos últimos anos, a logística permanece como um importante fator crítico de sucesso para os varejistas virtuais. Isso é o que revelou a quarta edição da pesquisa Logística no E-commerce Brasileiro (2019), realizada pela Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (ABComm) e pela ComSchool.

O estudo apontou também as principais tendências no segmento, no que se refere à armazenagem, manuseio e frete no e-commerce brasileiro.

Na Jadlog as entregas de produtos adquiridos pelo e-commerce impulsionaram as movimentações de encomendas e representaram 8% das entregas do primeiro semestre

A pesquisa mostrou também que o frete permanece como o maior responsável pelos custos logísticos, com participação de 65,9%. Os números cresceram significativamente em relação a 2017, último ano de realização do estudo, em decorrência dos aumentos realizados nas tabelas dos Correios e nos custos diretos das transportadoras. Investimentos em automação e modernização de processos, bem como em capacitação de equipe, são medidas que podem contribuir para melhor performance no manuseio e, consequentemente, redução dos custos operacionais.

“As principais dificuldades logísticas do comércio eletrônico ainda estão relacionadas ao preço alto do frete. No Brasil, o valor é alto por conta da mão de obra, combustível, seguro, manutenção dos veículos e áreas de riscos. Caminhões não entram em certos locais nem mesmo com escolta. Em relação esse problema, a ABComm tem uma sugestão com Projeto de lei 148 de 2019, em tramite no Congresso”, destacou Salvador.

Outra questão que também compromete a eficácia do comércio eletrônico no Brasil, apontou Salvado, é o prazo de entrega, considerados largos, com média que varia entre quatro e seis dias. Diferente da China e dos Estados Unidos, onde cai para um dia útil.

Nesses países a roteirização logística é muito mais avançada que no Brasil. “Assim, os principais desafios hoje são atender as demandas dos consumidores de pagar menos pelo frete e receber os produtos em prazos mais curtos”, concluiu.

O advento do e-commerce mudou também o modo de operar das transportadoras. Segundo Salvador, o volume de pacotes de encomenda expressa aumentou bastante e abriu um mercado interessante para as empresas no B2C. Ele explica que antes as transportadoras focavam muito no B2B e com o crescimento do comércio eletrônico abriu mais essa oportunidade. “Os problemas enfrentados pelos correios também ampliaram o leque, por isso o número de transportadoras privadas aumentou consideravelmente nos últimos cinco anos”, contabilizou.

Na Jadlog, por exemplo, as entregas de produtos adquiridos pelo e-commerce impulsionam as movimentações de encomendas. No primeiro semestre de 2019, a empresa registrou mais de 8,5 milhões de entregas, número 58% superior ao mesmo período do ano passado. Grande parte deste crescimento foi puxado pelos embarcadores do varejo virtual.

Bruno Tortorello explica que as operações com o e-commerce já representam mais de 50% dos negócios da Jadlog e a expectativa ainda para este ano é de mais crescimento

“Nossas operações do e-commerce cresceram 50% em 2018 e já representam mais de 50% dos negócios da Jadlog. Essa porcentagem tende a aumentar ainda neste ano, por conta da captação de novos clientes e da ampliação da parceria com os varejistas e marketplaces que já utilizam os serviços de logística da transportadora”, disse o presidente da empresa, Bruno Tortorello.

O executivo acrescentou que a Jadlog tem boa participação no B2B em diversos setores, mas o grande foco é incrementar o atendimento no B2C, ou seja, no e-commerce, por ser um mercado ainda com um imenso potencial de crescimento no Brasil e no mundo.

Tortorello concorda que existem alguns desafios na logística do comércio eletrônico e acredita que um dos grandes para os embarcadores é oferecer ao consumidor final cada vez mais opções de serviços de entregas.

Isso significa conveniência o consumidor final. Outro desafio é realizar as entregas dentro do prazo, de modo que os varejistas eletrônicos e marketplaces precisam contar com uma transportadora eficiente neste quesito. “Na nossa visão, estes acabam sendo os principais desafios para os embarcadores e também para as transportadoras que atuam no mercado de transferências e distribuição urbana”, acrescentou.

Para tornar mais eficiente as operações, o presidente da Jadlog explica que a empresa vem investindo em ativos, automação, inovação e novos serviços. Em 2019 serão R$ 20 milhões. Tortorello disse que houve forte investimento em automação e mecanização de todo o nosso Centro de Distribuição. “A troca de equipamentos e a instalação de mais de 300 metros de esteiras permitiu um avanço de 70% no número de pacotes movimentados por hora neste hub e contribuiu para o crescimento de 50% das operações B2C no ano passado, voltadas, principalmente, ao atendimento do comércio eletrônico”, destacou.

Outra ação da Jadlog é o lançamento do Pickup, sistema que permite a retirada dos produtos comprados online em pontos comerciais estrategicamente localizados nas cidades.

A previsão da empresa é expandir o serviço esse ano chegando a 6 mil pontos até o final de dezembro. Em 2020, a meta é alcançar a maturidade do projeto, com 8 mil pontos instalados. “Estaremos, no máximo, a 10 minutos a pé de 90% do mercado consumidor.

Hoje temos alguns grandes clientes no Pickup, incluindo a Dafiti, uma das maiores varejistas de moda e lifestyle do e-commerce; e a rede de varejo Lojas Renner; entre outras empresas de vendas diretas e marketing multinível”, explicou.

Para o futuro, a empresa aposta que a tecnologia terá importância cada vez maior para garantir a maior eficiência nos sistemas de transporte, com recursos como a automação dos meios de transporte público, o uso de sistema de dados e o uso de aplicativos, entre outros recursos. “Hoje já vemos hoje o uso da ciência de dados no setor de logística, com a aplicação de algoritmos para definir as rotas de veículos e analisar dados que garantem mais segurança, com o rastreamento das cargas em tempo real, por exemplo. Podemos citar ainda o uso de aplicativos para identificar problemas na frota e realizar a gestão das entregas. Todas estas tecnologias deverão estar cada vez mais disseminadas e integradas, por meio da ‘Internet das Coisas’ e do uso dos sistemas de Inteligência Artificial”.

Tortorello acredita também que no setor de cargas fracionadas, deve crescer também a opção de retirar as compras do e-commerce nas lojas físicas, de se criar serviços novos como a entrega ou retirada da mercadoria com horário programado e demais facilidades para os usuários. Outra tendência é se trabalhar mais com carga fracionada, de modo a reduzir a circulação de caminhões nos centros urbanos, já que apenas a restrição à circulação de caminhões em determinados horários não é suficiente para aliviar o grande volume de tráfego.

E-commerce x centros urbanos

Sistema Pickup ajuda a Jadlog na retirada dos produtos comprados online em pontos comerciais estrategicamente localizados nas cidades

Outro entrave na logística envolvendo o comércio eletrônico está ligado diretamente ao operacional de transporte dentro dos centros urbanos. De acordo com diretor de abastecimento e distribuição do Setcesp, Marinaldo Barbosa, fazer o abastecimento nas grandes cidades está cada vez mais complicado, a começar pela infraestrutura da cidade, que não é preparada para ter o volume de pessoas, cargas e veículos circulando.

Para Marinaldo Barbosa um dos principais entraves na logística envolvendo o comércio eletrônico no Brasil está nas entregas realizadas nos centros urbanos

Ele disse que uma pesquisa com os motoristas que abastecem principalmente a região central de São Paulo, realizada pelo Setcesp concluiu que o principal problema é a falta de vaga para estacionar e descarregar as mercadorias do veículo. Destacou também que esse trabalho está sendo realizado junto com a prefeitura de São Paulo em projetos para melhorar a agilidade no abastecimento da cidade.

De acordo com Barbosa, a pesquisa foi feita em alguns bairros com mapeamento de informações como o tempo de descarga para fazer a entrega, distância entre o local que estaciona e o de entrega. “Mostramos quais os pontos são necessários para agilizar essa entrega. O trabalho está sendo analisado e depois do piloto se colocado em prática pretendemos ampliar”, afirmou.

Aumentar o número de vagas para estacionar também está no escopo do trabalho, pois conforme frisou, em alguns lugares no centro da cidade o motorista é forçado a dar mais de quatro voltas na rua para achar um local para estacionar e fazer a entrega. “Com isso, a produtividade da operação fica comprometida e impacta diretamente no prazo de entrega, nos custos e na modalidade urbana”, finalizou.

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