“Vale a pena lutar? Sem um propósito, não.”
Em maio de 1996, dezenas de alpinistas foram surpreendidos por uma violenta tempestade enquanto retornavam do cume do monte Everest. Um patologista norte-americano chamado Beck Weathers, viveu uma experiência inacreditável. Praticamente cego, a 8.200 metros de altitude, de noite, em meio a uma tempestade, ele se desprendeu do grupo e vagou pela montanha até cair na neve, congelando. A morte por congelamento é chamada de “morte suave”, a pessoa vai apagando aos poucos, lentamente, como uma vela. Quando tudo parecia perdido, Beck teve um lampejo de vida, levantou e continuou a caminhar, com um braço congelado, delirando, sem ter ideia de para onde estava indo.
Chegou próximo a um acampamento onde foi visto por um alpinista e levado para dentro de uma barraca. Milagrosamente Beck sobreviveu até ser resgatado por um helicóptero. Perdeu dedos das mãos e dos pés e até o nariz. Mas sobreviveu. Ao ser perguntado sobre que força fez com que ele, mesmo virtualmente morto, levantasse para a salvação, Beck respondeu:
– Pensar em minha família. Em meus filhos.
Beck Weathers, em meio a uma situação desesperadora, focou no que dava sentido à sua vida. E algo lá no fundo de sua mente quase congelada acendeu, gerando calor suficiente para que ele lutasse pela vida. Aquela noite fatídica no Everest produziu uma dúzia de corpos. Menos o de Beck Weathers.
Tem gente que se agarra à fé, Deus há de dar um jeito. Tem gente que se agarra a um ente querido. Tem gente – como eu – que se agarra a uma causa política, cultural ou social. Todos, de alguma maneira, buscando um propósito que dê sentido à pergunta que não quer calar: vale a pena lutar?
Sem um propósito, não. E então, como um alpinista sem esperança, abaixo de zero, a saída é aguardar a morte suave chegar.
Assista o vídeo: https://youtu.be/F7pxmzqA4gA
Luciano Pires foi por 26 anos executivo de marketing da Dana, multinacional do segmento de autopeças. Desde 2008 é um empreendedor digital. Palestrante há pelo menos 30 anos, escreveu e publicou nove livros, é colunista de diversas publicações e criador e apresentador de alguns dos mais importantes Podcasts brasileiros, o Café Brasil, o LíderCast e o Cafezinho.
