CEO e Co-Fundador da Praxio, Valmir Colodrão participou do quarto episódio da segunda temporada do projeto Notáveis do Transporte, uma realização da TranspoData, que teve a parceria da Revista AutoBus, especializada no segmento do transporte de passageiros. Colodrão, que atua há três décadas na atividade de soluções tecnológicas, enfatizou que o momento atual exige ações mais assertivas em torno das demandas dos clientes e do entendimento do que quer o consumidor final. Alertou que a concorrência no segmento de transportes de passageiros continuará crescendo com ingresso de novas opções, o que torna ainda mais imprescindível preparar a empresa para enfrentar este momento.

TRANSPODATA – Neste momento de crise sanitária, que benefícios se pode tirar das tecnologias e no que ainda se pode avançar?

VALMIR COLODRÃO – Estou no mercado desde 1986 e conheço a maioria dos empresários do setor de transporte de cargas e passageiros. Temos enfrentado juntos muitas crises. Até 2000, o objetivo das tecnologias era tornar as empresas mais ágeis, reduzindo os trabalhos manuais. Com o bug do milênio, entraram em cena os processos de gestão integrada para evitar retrabalho e ganhar produtividade. Nosso setor também está bem concorrido, tem apagão de mão de obra na área de tecnologia e o mundo todo está de olho do Brasil para oferecer o que tem de melhor. E a gente não pode concorrer como o mundo. Então, posicionamos a empresa como hub de soluções tecnológicas. Passamos a olhar muito para as demandas dos clientes. Assim, entrego soluções que fazem a diferença. Não adianta entregar algo que não tem sentido, ainda mais com o setor enfrentando concorrência muito grande. Antes, tinha os perueiros, agora é o Uber. Eu olho como é que eu posso trazer valor para o cliente. Assim, eu penso no cliente do meu cliente, porque tudo foi feito em relação à redução de custo, já tem uma gestão madura. Agora, é uma outra fase. Temos de trazer dinheiro para o mercado, atrair novos passageiros, desenvolver formas modernas de negociar as passagens, ter preço diferenciado, conhecer a concorrência e os clientes. Foi o que fez a Uber, identificou demandas do público e desenvolveu um negócio, inicialmente contestado por todos, mas que se consolidou, achou espaço que poderia ter sido aproveitado por quem cuida de mobilidade. Temos de nos preocupar em como atrair e melhorar a vida dos clientes, inclusive reduzindo custos. Hoje em dia, a tecnologia é muito mais ampla, os custos de transportes aumentaram consideravelmente. Para atender aos órgãos gestores e o empresário monitorar o trabalho do motorista se colocou muita tecnologia embarcada. Isto também precisa passar por depuração logo mais adiante, com redução do peso dos investimentos.

TD – No começo das aplicações tecnológicas, muita gente achava um gasto absurdo, ideia que foi mudando com o tempo. Hoje esta ideia é ainda muito presente.

Colodrão – Quando entramos no mercado, o empresário calculava quantos pneus ele teria de deixar de comprar para pagar a tecnologia. Isto evoluiu muito, este conceito mudou. Mas o Brasil é muito grande, esta visão depende do setor, tem uma nova geração chegando, mais profissionalizada. Então, temos de tudo no mercado. Mas entendo que quem se preparar melhor, vai sair mais forte lá na frente. A nossa empresa tem mais de 80 soluções de tecnologia e parcerias com mais de 20 empresas. Estamos nos apresentando como hub de soluções para o setor de transportes. Nossos clientes de transportes, que representam 65% da receita, tiveram drástica perda de faturamento com esta crise. Por isso, estamos negociando, entendendo o momento. Tem muito fornecedor de peso de fora que não faz isto, exige o pagamento pelo serviço e pronto. Nós queremos estar alinhados e próximos às empresas de transportes.

TD – Segmento que mais cresce hoje na atividade do transporte é o da nova mobilidade por meio de novas tecnologias. O que há de inovador que pode transformar o transporte rodoviário?

Colodrão – Até um ano atrás, quando se falava em BlaBlaCar era um terror. A plataforma começou com caronas para pequenos trajetos. Evoluiu e hoje oferece a venda de passagem da empresa de ônibus pelo portal deles. Tem empresa aumentando em 15% as vendas com isto. Prova que é preciso estar aberto para ouvir e escolher. O que temos feito é a busca da integração com estas plataformas. Eu apresento um leque de opções e quem escolhe é o empresário, pela qual mais lhe convém. Também estamos envolvidos em projeto com a LOG, que de certa forma concorre no setor de transportes. Ela tem volume gigante de cargas para enviar para o interior, mas não tem estrutura para fazer com carro próprio. Surgiu a oportunidade de colocar volumes no bagageiro do ônibus para levar de um ponto a outro. Isto eleva o faturamento das empresas de transportes. Outra ação é um portal de compras de peças, onde ligo os fornecedores e compradores, cada um pratica e aceita o preço que lhe convém. Isto reduz custos e aumenta o controle das empresas. A tecnologia também pode ajudar nas viagens rodoviárias de longa distância, fazendo como o modal aéreo, que vai compartilhando voos até chegar ao destino.

TD – O que mais atrapalha na evolução destas tecnologias?

Colodrão – A gente briga muito para convencer os empresários de que isso é importante. O país é grande, aí encontramos aqueles que investem muito, outros já têm a cabeça aberta e há os que ainda estão esperando para ver o que vai acontecer. A verdade é que não dá mais para esperar. A Uber, por exemplo, acabou de comprar empresa fora do Brasil para fazer o transporte coletivo. Pensando nisto fizemos parceria com a UBus, plataforma já integrada às nossas soluções para atender o mercado de transporte sob demanda. Pelo celular é possível solicitar um ônibus. Mas é software para empresário regulamentado, que tem concessão ou opera linha legalmente. O objetivo é proteger o patrimônio do empresário e preservar de concorrências desleais.

TD – Na cidade de São Paulo tem um projeto para implantar o transporte sob demanda?

Colodrão – Tem sim, até já participei de reunião. Mas o objetivo deles é abrir geral, o que está errado. Precisa priorizar a concedente. Caso este não queira, aí sim abre para terceiros. Se o negócio começar torto, não vai funcionar. Sou um apaixonado pela Uber, que trouxe comodidade e preço menor. Mas é quase um serviço escravo, o motorista trabalha 20 horas por dia para ter um salário muito baixo. De tanto usar, o carro se danifica rapidamente. Não renova a frota e busca outro trabalho. Queremos oferecer tecnologias para quem atua dentro da lei, onde possa haver concorrência justa. Se fala muito em abertura do mercado do rodoviário. Precisa estar preparado para isto, porque vai acontecer. Se todos tiverem as mesmas condições, ótimo. Agora, se vai criar regras diferentes não haverá competição sadia. Talvez, o único favorecido venha a ser o passageiro, só não se sabe a que preço e quanto tempo vai durar o serviço. A pandemia só veio comprovar a situação do transporte que já vinha capenga há muito tempo. Quem paga acha caro; quem recebe, que é barato. Para oferecer algo de qualidade precisamos estar muito bem alinhados. Se não, o setor vai continuar servindo só para pauta de políticos.

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