Engenheiro mecânico com pós em administração e gestão estratégica de mercado, Walter Barbosa ingressou na Mercedes-Benz em 2011 com a responsabilidade de garantir e, ainda, melhorar a posição de liderança da marca no segmento de ônibus. Com um jeito discreto e firme, além de profundo conhecimento do negócio, Barbosa ganhou respeito dos empresários do setor particularmente quando, por empenho pessoal, seguiu à risca o lema da marca “As Estradas Falam, a Mercedes ouve”.

Ouvindo as demandas dos clientes, em todos os segmentos onde são empregados transporte coletivo, Barbosa promoveu mudanças ao mesmo tempo ousadas e assertivas dentro da divisão de ônibus da montadora no que diz respeito a produtos e serviços e, sob sua gestão, a marca da estrela se aproximou ainda mais na liderança desses segmentos.
Aos 48 anos, o executivo exercita seu lado engenheiro mantendo o hobby de preparar carros (não por outra razão é fã de Fórmula 1) e o lado criativo é ativado com baquetas tamborilando bateria. A boa forma é mantida com disciplina praticando regularmente corrida e musculação e, nas horas vagas, mesmo bem abaixo da altura dos atletas desse esporte, gosta de jogar basquete.

“Waltinho” como é carinhosamente conhecido pelos colegas de trabalho e, também, por clientes amigos, foi o artífice da mais recente ousadia da Mercedes-Benz que lançou, este mês, seu chassi elétrico para ônibus urbano de olho nas novas regras que vão entrar em vigor na cidade de São Paulo, o maior e mais importante mercado da América do Sul para esses veículos. Nesta exclusiva entrevista à Transpodata, o executivo comenta mais sobre essa estratégia de ônibus urbano elétrico e analisa todo o mercado de coletivos no País.

TranspoData: Quando falamos de ônibus urbanos podemos dizer que os motores do ciclo Diesel para esta aplicação estão mesmo com os dias contados? Qual a sobrevida do diesel para ônibus urbanos?

Walter Barbosa: Apesar de possuir um custo mais elevado, o veículo elétrico é uma excelente solução técnica. Porém, é necessário equacionar uma solução financeira para que o valor da tarifa não suba com a aquisição da tecnologia. Em se tratando do diesel, ele não está com os dias contados. Nos próximos anos podemos esperar que essa alternativa tenha uma evolução para o Euro 6 e, na Europa, já se fala em Euro 7. Ou seja, essa alternativa apresenta alto índice de melhorias em eficiência. Além disso, também existem outras alternativas de combustível, como o HVO e o BioDiesel, que mitigam as emissões de gases do efeito estufa.

TranspoData: Em um momento em que operadores estão reclamando dos valores das tarifas e até adiando ao máximo renovação de frotas, é interessante oferecer ônibus urbano elétrico?

Walter Barbosa: A maioria dos sistemas de transporte são custeados somente pela tarifa, existe sim um desafio para que os operadores adquiram um grande volume de veículos elétricos neste primeiro momento. Será necessário estruturar subsídios para acomodar os custos adicionais que essa nova tecnologia vai trazer. Por outro lado, com as novas legislações de emissões de gases, os operadores e as cidades terão uma demanda que só poderá ser suprida com os ônibus elétricos.

TranspoData: Combustíveis alternativos como gás, etanol e até mesmo HVO e biodiesel não seriam alternativas mais viáveis para a realidade brasileira em se tratando de transporte coletivo urbano?

Walter Barbosa: A Mercedes-Benz aposta em diversas tecnologias, como o biodiesel, HVO e, agora, o elétrico. No contexto atual, o segmento de ônibus no Brasil está começando a desenvolver uma infraestrutura para receber os veículos elétricos, por conta de uma necessidade urgente de se adequar à redução de CO2 no planeta. Isso acontecerá de maneira mais efetiva por meio das futuras leis de emissões de gases para a frota de ônibus urbano, que só podem ser atendidas com veículos elétricos. Por exemplo, podemos citar a cidade de São Paulo, em que recentemente, foi promulgada uma lei de emissões de gases para a frota de ônibus urbanos, onde os veículos elétricos se fazem necessários para sua operação. Essas alternativas, como gás, HVO, biodiesel, álcool, diesel de cana e biocombustível, ainda que apresentem reduções de CO2, NOx ou materiais particulados, serão sempre tecnologias transitórias por não serem zero emissão de poluentes. Em alguns municípios poderão até perdurar por mais ou menos tempo, dependendo da disponibilidade do combustível.

TranspoData: Quais os caminhos para que as metrópoles ofereçam mobilidade ao mesmo tempo eficiente e sustentável? Considerando, naturalmente, a realidade nacional, não exatamente a realidade da Europa.

Walter Barbosa: Quando falamos em sustentabilidade no sistema de transporte público, muitas vezes, temos a ideia do sistema ambientalmente sustentável. Mas também temos que ter em mente que ele deve ser tecnicamente e financeiramente sustentável. O nosso modelo atual, que consiste no transporte público sendo custeado basicamente pela tarifa, não oferece sustentabilidade para promover um transporte de melhor qualidade ao cidadão. O que poderia auxiliar nesse ponto, seriam projetos viabilizados por meio de políticas público-privadas com novos modelos de contratação de serviços de mobilidade, como já acontece em algumas cidades no Brasil, para oferecer um transporte mais sustentável e eficiente. Mas isso deve vir atrelado a modelos que busquem fontes de receitas extra tarifárias ao transporte público.

TranspoData: A Mercedes-Benz chegou a apresentar ônibus urbano autônomo há dois anos. Como anda este projeto atualmente na Alemanha? É viável? É possível ter algo assim no Brasil em um futuro relativamente próximo?

Walter Barbosa: O projeto do ônibus autônomo foi uma maneira de demonstrar, em termos de tecnologias, tudo aquilo que é possível incorporar aos ônibus da nossa marca. Desde então, componentes importantes do veículo, como as tecnologias de segurança ativa, passaram a estar presentes nos ônibus da Mercedes-Benz e da Setra para viagens urbanas e de longa distância. No Brasil, nós já seguimos esse mesmo modelo. Para se ter uma ideia, desde 2018, nós trouxemos itens como o ACC (Piloto Automático Adaptativo), LDWS (Sistema de aviso de faixa) e AEBS (Sistema de Frenagem de Emergência) para a nossa linha de ônibus rodoviários.

TranspoData: Quanto dificuldades econômicas, PIB baixo e educação de baixa qualidade dificultam a entrada de novas tecnologias no sistema de transporte urbano de passageiros?

Walter Barbosa: A maioria dos sistemas de transporte público do Brasil são sustentados pela tarifa. E os aumentos de custos com as novas tecnologias, dificilmente conseguem ser custeados dentro das tarifas que a população tem que pagar. Logo, existe a necessidade de um programa nacional com incentivos, liderado pelo governo federal, para elevar a qualidade de transporte. Assim, conseguiremos incorporar novas tecnologias ao nosso sistema de transporte coletivo em sua máxima eficiência.

TranspoData: Uma sociedade que ainda tem o péssimo hábito de incendiar ônibus sob qualquer pretexto político ou social, tem condições de absorver ônibus elétricos?

Walter Barbosa: Os ônibus, muitas vezes, acabam sendo vítimas durante manifestações. Apesar disso, entendemos que há sim espaço para veículos de tecnologia elétrica em nosso sistema de transporte público. Os motores elétricos dos nossos ônibus são blindados, garantindo a segurança de todos, mesmo em condições extremas.

TranspoData: O senhor considera que, nesta década, o Brasil terá verdadeiras melhorias no sistema de transporte coletivo urbano de passageiros?

Walter Barbosa: A cartilha da ANTP, elaborada em conjunto com a Mercedes-Benz, Fabus, NTU e Anfavea, traz uma série de propostas concretas para garantir a viabilidade e qualidade do sistema de transporte coletivo urbano. Acreditamos que com a sua implementação, podemos trazer melhorias e garantir que o transporte de passageiros opere com qualidade e eficiência nessa década e muito além, no futuro.

TranspoData: Como o senhor imagina o transporte coletivo de pessoas nas grandes metrópoles brasileiras na próxima década e como será o transporte coletivo rodoviário?

Walter Barbosa: Temos observado uma migração mais acentuada da população no uso do transporte coletivo. Isso tem sido motivado pelas melhorias dos sistemas nos últimos tempos, facilidades advindas da conectividade, melhorias de conexão de multimodais e até mesmo pelo encarecimento do uso de um veículo próprio. Agora, com as novas tecnologias, podemos esperar por um meio de transporte mais sustentável e ainda mais eficiente, com qualidade para o passageiro. Como por exemplo, diversos modais conectados com zero emissão de poluentes, como metro, ônibus elétricos, patinetes, bicicletas e automóveis elétricos alugados por trechos. Já para o segmento rodoviário, também podemos observar a expansão do uso dos ônibus, que agora permitem facilidade de acesso a viagens e muito mais conforto, segurança e conectividade para todos.

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