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Bruno Tortorello tem mais de 20 anos de experiência na área de logística e distribuição. Graduado em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da USP, com especialização em Administração pela FGV e MBA em Gestão Internacional pela FIA,  é CEO da Jadlog, uma das maiores empresas de logística e transportes de cargas expressas fracionadas do País, que completa 15 anos no mercado em 2020. Nesta entrevista para TranspoData, Bruno nos conta sobre o exponencial crescimento da empresa nos últimos anos e sua visão sobre os rumos do transporte e logística na era digital.

“A Jadlog destaca-se no mercado pela rapidez e qualidade de seus serviços e dispõe de uma das maiores estruturas de distribuição porta a porta de encomendas do Brasil. Através de sua rede de franquias, com mais de 500 unidades espalhadas por todas as capitais, Distrito Federal e principais cidades, a empresa atende todos os municípios brasileiros”.

TRANSPODATA – Bruno, quem é o DPDgroup? Desde quando vocês fazem parte deste grupo?

BRUNO TORTORELLO –  DPDgroup é a segunda maior rede de entregas de encomendas da Europa, pertencente a holding GeoPost. Combina tecnologia inovadora e conhecimento de cada um de seus mercados para oferecer cada vez mais conveniência para embarcadores e consumidores finais. Diariamente, a rede entrega 5,3 milhões de encomendas em todo o mundo por meio de mais de 77 mil especialistas em entregas. Em 2019, faturou 7,8 bilhões de euros e entregou 1,3 bilhão de encomendas. Em janeiro de 2017, a GeoPost, por meio da DPDgroup, adquiriu 60% e o controle da Jadlog.

TD – O segmento de cargas fracionadas e e-commerce sentiu menos a crise que devastou outros setores logísticos?

BrunoSim, pois o e-commerce vem colecionando crescimentos. Análises demonstram que em poucos anos ele deve dobrar de tamanho. Hoje, as vendas online respondem mais ou menos por 5% das vendas totais do varejo no Brasil e deve alcançar 10% conforme mencionado, e ainda temos um enorme mercado a ser explorado. Só para dar exemplos de outros países, o e-commerce representa 17% das vendas totais do varejo no Reino Unido, cerca de 10% nos EUA e mais ou menos 20% na China.

TD – Falando em crise, como a Jadlog está se posicionando em relação à pandemia causada pela COVID-19?

BrunoPor enquanto, a Jadlog mantém normal a sua operação e permanece focada em monitorar possíveis impactos em decorrência da Covid-19, além da preocupação em cuidar de seus funcionários e rede franqueada. A experiência da empresa nos países europeus via DPDgroup mostra, sim, que há um impacto positivo no e-commerce. Alguns segmentos chegaram a dobrar seus volumes nas últimas semanas. Compras online no geral. As pessoas estão evitando sair, então compram desde um livro, uma escova de dente e até papel higiênico. Basicamente, são os bens de consumo, seguidos de materiais de estudos. Contudo, por aqui no Brasil, a Jadlog ainda não registrou maiores reflexos, até porque ainda estamos meio que no começo. 

Devido ao crescente número de casos e com o intuito de manter a saúde e o bem-estar de funcionários, franqueados, clientes e consumidores, a Jadlog criou um comitê específico de monitoramento e passou a adotar um protocolo de prevenção em relação ao coronavírus. Esse protocolo está sendo cumprido pela empresa, em sua sede e filiais, e pelas franquias. Foram reforçadas as informações sobre o Covid-19 e as medidas de higiene e proteção; equipes de limpeza foram reforçadas para aumento da frequência de limpeza, principalmente em banheiros e demais áreas comuns, incluindo torneiras, maçanetas e corrimão, bem como nos veículos; presença de álcool gel nas áreas operacionais e administrativas para aumentar a frequência de higiene das mãos; quantidade de pessoas limitadas em salas e refeitórios; presença de equipe de saúde aferindo temperatura dos funcionários, parceiros e fornecedores; suspensão de viagens corporativas e presença em eventos de todos os colaboradores e franqueados; intensificação de reuniões através de videoconferência e de home office das atividades que permitam.

TD – É possível avaliar os impactos desta crise no setor?

BrunoNão é possível fazer previsões sobre os impactos na logística, pois é necessário esperar para ver se teremos ou não uma escalada significativa do número de casos registrados no Brasil. Acreditamos que as medidas adotadas pelas autoridades governamentais e de saúde foram corretas e a expectativa é que a epidemia seja melhor controlada por aqui. Em termos econômicos, pacotes anunciados pelo governo para minimizar os impactos do coronavírus são muito bem-vindos e devem ser ampliados, para garantir o bem-estar das pessoas e a perenidade das empresas.

TD – Muitas empresas atuam neste setor, e são empresas grandes e bem estruturadas, como é competir em um ambiente assim, entre gigantes?

Bruno –  Acreditamos que no B2C estamos entre as três principais transportadoras do mercado e, no segmento B2B, a Jadlog aparece entre as seis ou sete principais. Trata-se de um setor competitivo e com uma rentabilidade muito justa, de modo que buscamos incansavelmente a produtividade e a eficiência. Neste sentido, investimentos em inovação, em novos serviços e soluções que são fundamentais para competir em um ambiente de muita concorrência. Estamos caminhando neste sentido, aprimorando a prestação de nossos serviços e agregando conveniência para embarcadores e consumidores finais. Além disso, temos uma flexibilidade para estruturar as nossas operações de acordo com as necessidades dos clientes, e isso acaba sendo um diferencial competitivo muito importante. A Jadlog não exige uma quantidade mínima de remessas e isso, somado também ao fato de termos uma capilaridade nacional, colabora para a constante conquista de novos clientes e ao crescimento da empresa. 

TD Como serão as entregas urbanas, aqui no Brasil, nesta década? Alguma grande mudança vai acontecer neste negócio?

Bruno –  A tecnologia terá uma importância cada vez maior para garantir a maior eficiência nos sistemas de transporte, com recursos como a automação dos meios de transporte público, o uso de sistema de dados e o uso de aplicativos, entre outros recursos. Já vemos hoje o uso da ciência de dados no setor de logística, com a aplicação de algoritmos para definir as rotas de veículos e analisar dados que garantem mais segurança, com o rastreamento das cargas em tempo real, por exemplo. Podemos citar ainda o uso de aplicativos para identificar problemas na frota e realizar a gestão das entregas, ou até mesmo o uso de robôs e de drones inteligentes nas operações logísticas, por exemplo, para inventariar armazéns.

Todas estas tecnologias deverão estar cada vez mais disseminadas e integradas, por meio da Internet das Coisas e do uso dos sistemas de Inteligência Artificial. Por outro lado, a busca por maior conveniência também deverá impulsionar mudanças no mercado. No setor de cargas fracionadas, deve crescer a opção de retirar as compras do e-commerce nas lojas físicas, de se criar serviços novos como a entrega ou retirada da mercadoria com horário programado, entre outras facilidades para os usuários.

Outra tendência é de se trabalhar mais com carga fracionada, de modo a reduzir a circulação de veículos pesados nos centros urbanos, já que apenas a restrição à circulação de caminhões em determinados horários não é suficiente para aliviar o grande volume de tráfego.

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Bruno Tortorello

TD – O e-commerce vem crescendo a passos largos e as pessoas agora têm condições de monitorar passo-a-passo suas encomendas. Como inovar e, ao mesmo tempo, oferecer fretes competitivos?

BrunoAs transportadoras precisam cada vez mais oferecer opções de entregas e conveniência aos consumidores finais. Para isso, é necessário investir pesado em ativos, automação, inovação e em novos serviços. Em 2019, por exemplo, a Jadlog investiu R$ 20 milhões. Investimos forte em automação e mecanização de todo o nosso Centro de Distribuição, localizado na altura do Km 18 da rodovia Anhanguera, em São Paulo. A troca de equipamentos e a instalação de mais de 300 metros de esteiras permitiu um avanço de 70% no número de pacotes movimentados por hora neste hub e contribuiu para o crescimento de 50% das operações B2C da Jadlog no ano passado, voltadas, principalmente, ao atendimento do comércio eletrônico.

Para 2020, voltaremos a investir mais de R$ 20 milhões, especialmente em ativos, inovação e novos serviços. Um dos novos serviços, que foi importado da Europa, é o Pickup, que permite a retirada das encomendas do e-commerce em pontos comerciais parceiros da Jadlog estrategicamente localizados nas cidades brasileiras. Trata-se de uma opção inovadora, prática e conveniente para facilitar a vida do consumidor, que escolhe o ponto mais próximo da sua residência ou trabalho e planeja a retirada da encomenda em qualquer dia da semana, em horários estendidos, inclusive aos finais de semana. O serviço foi lançado no segundo trimestre de 2018, com 1,5 mil pontos parceiros, a partir dos Estados de São Paulo e Rio de Janeiro e, agora, quase dois anos depois, foi ampliada para 3 mil pontos a rede de parceiros, já operando em 25 estados e no Distrito Federal. 

Este serviço está consolidado na Europa, através da DPDgroup, controladora da Jadlog e a segunda maior rede de cargas expressas daquele continente, e é uma novidade por aqui. Em 2020, o Pickup será ampliado ainda mais, de modo que o modelo deve atingir cerca de 6 mil pontos, fazendo com que os consumidores de grandes cidades estejam a menos de 10 minutos a pé de um ponto parceiro da Jadlog.

O Pickup, por representar mais conveniência à logística, é um grande alavancador de vendas no e-commerce, já que mais opções de entregas influenciam os consumidores a concluírem suas compras. Também é uma opção eficiente para as entregas, porque reduz significativamente o insucesso e os custos logísticos para os embarcadores e ainda aos consumidores finais, já que é, em média, 20% mais barato que a entrega domiciliar.

Além disso, vale ressaltar os investimentos em TI, que contemplaram o novo aplicativo da Jadlog, que possui um papel fundamental para a qualidade das operações. Moderno e preparado para agregar mais funções, ele permite a circulação das informações em tempo real, a partir do momento em que o entregador dá baixa no sistema, através de um dispositivo móvel. A empresa também possui um avançado sistema informatizado de código de barras e software próprio focado na rastreabilidade das encomendas, que fornece todas as informações para o acompanhamento da remessa, tanto aos embarcadores como aos consumidores.

TD – A eletromobilidade é algo para curto, médio ou longo prazo no Brasil quando pensamos em logística urbana?

BrunoAcredito que a eletromobilidade na logística urbana deva se consolidar talvez ainda nesta década no Brasil, pelo menos nos grandes centros e capitais. Estamos falando de veículos mais leves que percorram distâncias menores em perímetros determinados durante o dia e sejam recarregados durante a noite, independentemente de uma estrutura de eletromobilidade oferecida pelo poder público. 

Já temos algumas iniciativas no Brasil e grandes montadoras trabalhando em projetos neste sentido. Particularmente, a Jadlog segue as diretrizes da rede DPDgroup também em relação às preocupações com a preservação do meio ambiente e sustentabilidade, de modo que apoia e planeja trazer ao Brasil as ações implementadas e já testadas na Europa relacionadas à eletromobilidade. 

Com o crescimento do número de veículos circulando nas cidades e a necessidade de regular esse volume de tráfego, a DPDgroup trabalha em soluções para revolucionar a forma como as encomendas serão entregues nas cidades. As soluções demandam certa complexidade, passando por micro depósitos ao redor e dentro das cidades, e pelo uso de veículos alternativos de entrega como bicicletas e carbobikes, trolleys, triciclos, carros elétricos, scooters e triciclos elétricos. Em Paris, por exemplo, todas as entregas da DPDgroup são feitas com veículos elétricos.

Por aqui, desde 2012, a Jadlog já conta com algumas iniciativas de eletrificação. Franqueados de algumas cidades utilizam triciclo elétrico para as entregas de última milha. 

TD –  A que o senhor atribui esse crescimento médio de 35% a 40% da Jadlog nos últimos dois anos? Vocês tomaram mercado de concorrentes ou o mercado é que vem se expandindo mesmo?

BrunoO crescimento da Jadlog está amparado na conquista de novos clientes e na ampliação do relacionamento com os atuais parceiros embarcadores. O e-commerce, que vem crescendo ano a ano, contribui muito com isso, já que nossa estratégia é atender com cada vez mais excelência as demandas do B2C. Neste sentido, o e-commerce foi responsável por mais da metade do total das encomendas transportadas em 2019 e estas operações B2C cresceram mais de 50% no ano passado, alavancadas por conquistas importantes para o portfólio da Jadlog, como Amazon e Magazine Luiza.

TD- Para entregas urbanas, como encomendas, os melhores veículos são caminhões leves ou vans? Quais veículos são melhores e mais eficientes em quais aplicações quando pensamos em logística urbana?

BrunoCom o crescimento contínuo do comércio eletrônico, no qual uma gama cada vez maior de produtos está sendo disponibilizada aos consumidores para compra pela internet, as operações de última milha (last mile, em inglês) ganham em importância. Neste sentido, é fundamental as empresas que atuam no transporte de cargas, principalmente em centros urbanos, oferecerem soluções de entregas aos embarcadores e aos consumidores finais. Ainda deve ser considerada a questão do alto fluxo de veículos nas ruas que acabaram gerando restrições de tráfego de grandes veículos em centros urbanos. Desta forma, vans e utilitários são os mais indicados para a realização desta última milha. 

TD – Drones serão realidade em entregas urbanas ou, por ora, é apenas marketing?

BrunoDesde dezembro de 2016 a DPDgroup realiza entrega de encomendas por drones em uma linha comercial regular no sul da França, entre Saint-Maximin-la-Sainte Baume e Pourrières. Esta foi a primeira iniciativa do gênero na Europa e, esta linha, evidenciou os benefícios da tecnologia de entregas de encomendas por drone em locais isolados. Graças a esses dois anos de operação, as subsidiárias de encomendas da DPDgroup estão em posição de lançar soluções para entrega por drone. No fim do ano passado (2019), uma segunda linha comercial regular foi autorizada a iniciar operação, em Isère, no sudeste da França, ligando Fontanil-Cornillon à vila de Mont-Saint-Martin, em uma viagem de ida e volta de 8 minutos do drone. Apoiada pela expertise da DPDgroup, a Jadlog estuda soluções com drone, mas ainda não há iniciativas em andamento.

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