O BRASIL É GRANDE E PRECISAMOS CONTAR ISSO PARA NÓS. TODO DIA

O Brasil é grande. Todos sabemos. Mas nesta pandemia se revelou algo além dos mais de 8,5 milhões de quilômetros quadrados que aprendemos na escola, muitos deles percorridos diariamente pelos caminhoneiros e transportadores espalhados e em movimento por este País.

A grandeza territorial foi descoberta na imensidão dos detalhes geográficos e socioeconômicos, nos sotaques e nas diferentes situações vividas pela grandiosa diversidade dos brasileiros em uma terra sem fim, num estradão de carências que cada lugar apresentava e pedia ajuda aos outros cantos do país para enfrentar os efeitos da pandemia do novo Coronavírus.

Necessidade de medicamentos, de alimentos, de material hospitalar, de tecido para máscaras, de álcool em gel, de água e liberdade. Sim, liberdade! Liberdade de ir e vir, de poder andar, sair, protegido do vírus, mas num intenso combate para passar por barreiras sanitárias do medo, que cidades e estados erguiam em suas divisas, criando problemas para quem era uma das poucas engrenagens que ainda faziam o Brasil avançar.

Os caminhoneiros, já acostumados com a solidão da estrada, viram rodovias ainda mais vazias pelas medidas de isolamento social, viajaram com pouca ou nenhuma assistência, embora carregassem assistência e esperança para hospitais, mercados, feiras, oficinas e hospitais. Era o serviço essencial que não podia parar para não provocar a parada de outros serviços essenciais, até porque a estrada é só o meio entre quem produz e quem consome.  Nas duas pontas estão a vida e a economia, as pessoas e suas necessidades, o produtor e o consumidor, e, no meio de tudo isso, o transportador.

O Brasil conheceu os caminhoneiros bem de perto na greve de 2018. Reviu agora, em outras condições. Lá trás, não foi fácil pra ninguém. Somos um país em constante ebulição e com o que chamo de “demanda reprimida por dar certo”. Com um desejo grande de superar tudo de errado que está aí, todos olham para as dificuldades de seu setor e se voltam às reivindicações. É justo e compreensível.

Vítimas dos tantos solavancos econômicos que criaram dificuldades de caixa para empresas e empobreceram autônomos, quase todo mundo se acha em crédito com o país. O Brasil parece dever a todos. Todos os setores. Longe de fazer as contas de cada um, fato é que isso cria um ambiente que escurece nossos horizontes como nação, a sensação de que nada avança porque a dívida setorial e social, seja de que grupo for, nunca consegue ser paga. Mas o Brasil tem lá suas nuances. Veja lá que a roda que carrega o país e parou a economia em 2018, foi a mesma que a manteve se movimentando agora, esperando o momento da retomada.

E se a pandemia explicitou nossas carências e limitações, também nos ensinou o significado de prioridade e trabalho coletivo em nome de uma causa. E que prioridade tem ordem de execução. No caso recente, primeiro comida e remédios. Depois, outros serviços. Depois, outros desejos. Depois, outros ideais. Coube tudo isso, cada qual no seu momento, na estrutura do transporte brasileiro.

Aprendemos que nossa intensa vontade de fazer tudo dar certo na mesma hora tem sido nosso maior inimigo neste país. Queremos ser melhores, sabemos que podemos dar muito certo, mas tudo tem ciência, método e constância, como dirigir dentro da estrada, com prudência e perícia e por um longo tempo.

A pandemia global nos trouxe o maior desafio desta geração ao custo de milhares de vidas, aprendizado sobre emergências, uma exposição da loucura desnecessária da política e implicações econômicas ainda maiores, visto que saíamos de uma crise doméstica.

Mas também nos mostrou que sabemos, sim, eleger prioridades, compreender gravidades e fazer bem feito. E que juntos fazemos mais.

Se conseguimos não deixar o Brasil parar e preencher suas prateleiras nas suas necessidades básicas e urgentes e em muita coisa mais, mesmo sob o risco de contágio, o receio, o medo, sob pressão e com limitações imensas, até então desconhecidas, imagina na retomada em condições normais?

Somos muito grandes como País. Ficamos ainda maiores. Precisamos contar isso pra nós mesmos. Todo dia.

Adalberto Flaviano Piotto é documentarista, jornalista e âncora de notícias em rádio, TV e Web TV. Formado em Comunicação Social pela Universidade Metodista de Piracicaba, é especialização em Economia pela Fipe-USP

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