Com planos de longo prazo para o Brasil, a fabricante leva seus concessionários à China para conhecerem suas fábricas, laboratórios e toda gama de produtos que em breve chegarão ao País

Mauro Cassane, de Pequim

Imagem, Divulgação

A Foton tem uma estratégia muito eficiente para demonstrar a seus concessionários fora da China o quanto eles podem confiar na marca. Eles desenvolveram um programa batizado de “Foton Week For Chief Experience Officer” que consiste em convidar concessionários de todo o mundo para uma experiência de uma semana na China conhecendo processos produtivos, centros de desenvolvimento de veículos, centros de testes e validações e as parcerias da Foton com grandes marcas de motores, caminhões e transmissões para desenvolver veículos tecnologicamente mais avançados.

Mas, se você quer entender uma fabricante chinesa aceleradamente bem-sucedida como a Foton, primeiro gaste um tempinho para entender a própria China. É difícil explicar como um país pobre e comunista se transformou em uma potência econômica que faz sombra até mesmo aos Estados Unidos, ícone do capitalismo, em menos de 30 anos. Mas vamos tentar. Já nos anos 1970, quando mal tinha indústria por lá, o governo chinês resolveu construir estradas e largas avenidas.

Consegue imaginar algo assim: os caras nem carro tinham, mas começaram a construir formidáveis e largas avenidas nos centros urbanos e modernas estradas ligando essas cidades. Ninguém entendia a razão de um país basicamente agrário investir tempo e dinheiro na construção de uma cuidadosa e gigantesca infraestrutura contemplando, diferente do Brasil, também modernas e eficientes ferrovias com malha ferroviária para tudo quanto é canto e portos bem equipados.

Mais que estradas, os chineses construíram uma fabulosa e eficiente infraestrutura como se já estivessem antecipando o futuro. Estradas largas e modernas que, por quase duas décadas, ficaram ociosas. Eram usadas por bicicletas (milhares delas) e automóveis velhos (bem poucos e muitos dos quais, estatais).

Contudo, a partir dos anos 1990 a coisa mudou drasticamente. Em 1992 o presidente Deng Xiaoping criou metas e condições favoráveis – econômicas e políticas -, para o país crescer e se tornar tão forte e industrializado como os famosos na época “tigres asiáticos” que compreendia Coreia do Sul, Cingapura e duas regiões chinesas, naquele tempo, capitalistas e separadas da China: Taiwan e Hong Kong.

Sem abrir mão ou flexibilizar em nada o comunismo, Xiaoping e seus assessores trataram de criar um ambiente favorável para atrair grandes investimentos estrangeiros na indústria local. Deu certo. E a China é a prova mais eloquente que crescimento econômico nada tem a ver com ideologia política.

De olho nas potencialidades e carências de um contingente de mais de um bilhão de chineses, grandes indústrias, especialmente a automotiva, se animaram em fincar alicerces na China. Mas, em mais uma sacada de gestão governamental sagaz e inteligente, a condição para investir na China seria fazer parcerias com a incipiente e inexperiente indústria local.

Ou seja, em vez das grandes corporações engolirem ou sucatearem a pequena e frágil indústria local (como aconteceu em diversos países da América Latina), a regra previa algo bem simples e, sobretudo, justo: parceria do tipo “ganha-ganha”. E todos realmente ganharam, inclusive o próprio país e, mais ainda, o povo chinês.

O processo de abertura econômica da China passou longe das cartilhas do FMI ou Banco Mundial, organizações que pregavam o neoliberalismo do famigerado “Consenso de Washington” que preconizava liberalização acelerada, desregulamentação da economia e o trágico “tem que privatizar tudo”.

Muitos países (inclusive a Rússia) que seguiram essa receita à risca ou quebraram ou amargaram sérias dificuldades econômicas. Os chineses fizeram diferente e estruturaram suas próprias diretrizes baseadas no desenvolvimento econômico do País, especialmente com parcerias industriais com empresas ocidentais bem-sucedidas. Ou seja, não abriram mão nem do comunismo e, por conseguinte, muito menos das estatais.

Com o país crescendo trataram de combater a corrupção de maneira ferrenha, investir maciçamente em educação (preparando futuras gerações para o que hoje é a China) e reprimir, com mão de ferro, qualquer tipo de incivilidade (leia-se crimes como roubos, por exemplo). As cidades mais seguras e bem estruturadas, se expandiram e atraíram, acelerada e extraordinariamente, cada vez mais investimentos externos.

Foton

A introdução acima é necessária para se entender a Foton. A empresa nasceu neste ambiente de notável “boom” econômico da China. Começou suas atividades em 1996. A Foton é uma amostra do que é a própria China. Em pouco tempo, investindo pesadamente em alta tecnologia, e no treinamento de seu pessoal, se tornou gigante e poderosa.

Para se ter uma ideia da velocidade de crescimento vale essa informação: em apenas dois anos, em 1998, a empresa se estabeleceu como uma das principais fabricantes de caminhões na China, produzindo inicialmente caminhões leves e médios.

Atualmente é comum ver caminhões da marca rodando por todo o País. Já no começo dos anos 2000, a Foton iniciou sua expansão internacional, tornando-se, em pouco tempo, a maior exportadora de veículos comerciais da China.

Foi rápida a decisão para também desenvolver e produzir caminhões pesados. Lançaram a Família Auman no início deste Século 21. As coisas realmente acontecem de maneira muito acelerada em toda China. E isso impressiona todo ocidental acostumado a uma dinâmica mais lenta de evolução. O que leva 30 anos para evoluir no ocidente, na China acontece em menos de cinco anos. É mais ou menos assim mesmo. Não é exagero.

A maioria das empresas gigantes chinesas têm menos de 30 anos. Especialmente as automotivas. Para se ter uma ideia da velocidade chinesas fica uma ilustração: em apenas 10 anos após sua fundação, a Foton atingiu a marca de um milhão de veículos produzidos.

Com essas cifras, a Foton foi notada por grandes marcas do setor automotivo em todo o mundo. Em 2008 a empresa estabeleceu parceria com a poderosa fabricante de motores Cummins. Abriram uma fábrica nova de motores, moderna, bem ao lado da fábrica de caminhões, não há nem cerca para dividir um espaço do outro. Os motores Cummins equipam os caminhões Foton e, nesta fábrica, os engenheiros das duas empresas se empenham em desenvolver soluções mais eficientes e, sobretudo, sustentáveis.

E em 2012 a parceria da Foton foi com a Daimler, que dispensa maiores apresentações. Em 2017 foi a vez da ZF abrir fábrica lá em parceria com a empresa para avançar no desenvolvimento de transmissões de última geração. O objetivo da Foton: desenvolver os caminhões mais avançados do mundo com as empresas que mais entendem deste negócio.

Com a Daimler criaram um imenso centro conjunto de desenvolvimento desses produtos batizado de Beijing Super Truck Experience Center. Um verdadeiro paraíso e centro de testes em Pequim para engenheiros alemães e chineses exercitarem livremente toda criatividade.

Resultado: de lá saiu recentemente uma joia com potencial para chegar ao mercado brasileiro em breve: os caminhões pesados Auman Galaxy com transmissão ZF, motor Cummins (que pode chegar até 680 cv) e dotado de equipamentos avançados de segurança como câmeras, sensores, radares e computadores de bordo com IA.

A Foton juntou o expertise cuidadoso da engenharia alemã com a criatividade acelerada da engenharia chinesa. Esses caminhões estão prontos. Desenvolvidos. Além do convencional, a diesel, tem versão a hidrogênio, gás, biodiesel e 100% elétrico. Condução autônoma? Já estão todos preparados para isso também.

Atualmente, a Foton tem 45 fábricas em mais de 15 países, com mais de 30 mil colaboradores. É a maior fabricante e exportadora de veículos comerciais da China, seus veículos são comercializados em mais de 130 países. No ano passado, a empresa alcançou a marca de 11 milhões de veículos vendidos em todo o mundo.

Foton no Brasil

Os brasileiros começaram a conhecer os produtos Foton em 2011 quando um importador nacional resolveu representar a marca no País. Começaram com os caminhões leves, Aumark, de 3,5 a 9 toneladas. O negócio começou bem mas patinou durante a crise econômica entre 2015 e 2018.

Contudo, diferente de outras marcas chinesas de caminhões como Shacman e Sinotruk, também  geridas por importadores independentes e que, durante a crise, desistiram do negócio  no País, a Foton permaneceu e as vendas seguiram em volume pequeno mas contínuo.  Ainda há caminhões Foton, com mais de dez anos de uso, rodando firme pelo Brasil. O trem de força é robusto: motor Cummins e transmissão ZF.

Com rede constituída, muitas casas que eram ex-Ford, a Foton China assumiu completamente o negócio no ano passado. Agora a conversa é diretamente com os chineses que abriram escritório oficial no Brasil. Em junho deste ano a fabricante chinesa apresentou aos brasileiros uma série de produtos que vão ser vendidos em sua rede de 30 concessionárias:

Os caminhões semileves Aumark S 315 já estão à venda. E em homologação no País estão outros produtos: o semipesado Auman de 17 toneladas, o minicaminhão Wonder para 1,2 tonelada e, ainda, dois modelos da linha de picape Tunland, ambas híbridas diesel com elétrico, algo ainda inédito no mercado nacional.

A Foton quer expandir a rede de concessionárias no Brasil. Pretende chegar a 50 revendas até o início do próximo ano e tem planos para praticamente dobrar esse número nos próximos quatro anos. Para tanto, resolveu levar todos os seus revendedores atuais para China, para conhecer suas fábricas, centros de tecnologia e outros modelos, como o pesadão Galaxy, que podem chegar ao Brasil em breve.

O grupo de 30 concessionários visitou as fábricas da Foton em Pequim, o laboratório de testes gigante da Foton, a fábrica em parceria com a Cummins e o centro tecnológico que a Foton construiu em conjunto com a Daimler. Tudo isso em Pequim.

Depois foi a vez do grupo de empresários brasileiros conhecer a super fábrica de caminhões da empresa em Zhucheng, na província de Shandong, que fica a mais de 500 quilômetros de distância da capital, Pequim.

Distância percorrida confortavelmente com trem de alta velocidade, que vai a mais de 340 km/h. Chega-se em pouco mais de duas horas. Essa fábrica tem capacidade para produzir, sozinha, 100 mil caminhões por ano.

De acordo com Paulo Matias, presidente da Abrafoton, entidade que congrega os concessionários da marca, a experiência de conhecer a estrutura da Foton na China permite que os revendedores tenham plena visão do imenso potencial dos veículos da marca no Brasil.

Disse o executivo: “Fomos surpreendidos aqui na China com a mega estrutura da Foton no País, com a alta tecnologia e qualidade desses produtos e acreditamos que, em pouco tempo, a Foton vai crescer muito no Brasil como cresceu no seu país de origem”.

A Foton, realmente, acelera no Brasil. Recentemente nomeou o Grupo Zucatelli como novo representante da marca no País. Os empresários Reinaldo Zucatelli e seu filho Alexandre Zucatelli, experientes no ramo de vendas de veículos novos, inclusive caminhões, vão abrir concessionárias Foton no Pará, Maranhão, Piauí, Tocantins, Amazonas e, também, na cidade de São Paulo.

Ambos visitaram as instalações da Foton na China. “É preciso ver de perto para entender as dimensões da Foton e ter noção do verdadeiro potencial para a marca no Brasil. Estamos confiantes no negócio e, por isso, decidimos investir para termos revendas completas em todas essas praças que vamos atender”, diz Alexandre Zucatelli.

Para Luciano Menezes, revendedor Foton na região de Santa Catarina, foi uma ótima experiência visitar os parques fabris da Foton em Changping e Beijing. “Ficamos com a certeza que estamos no caminho certo. Num futuro não muito distante, teremos a linha mais completa entre todas as montadoras aqui no Brasil, indo das picapes, passando por comerciais leves, vans, caminhões em todos os seguimentos e, até mesmo, ônibus”.

O empresário é proprietário das revendas Someval, da Foton,  nas regiões da Grande Florianópolis, Planalto e serra catarinense, Médio Vale do Itajaí e Norte de Santa Catarina, atendendo a 126 municípios.

“Atualmente nossos distribuidores estão localizados em Joinville na BR 101, Km 37 e na cidade de Palhoça, também na BR 101, Km 215. Em breve, estaremos inaugurando nossa concessionária no Médio Vale do Itajaí, em Blumenau na BR 470, Km 54”.

Na opinião de Matheus Debacco Mesquita, da revenda da marca Noroeste Motors, concessionária no Rio Grande do Sul, com lojas em Santo Ângelo e Santa Maria, “a viagem afirmou o tamanho da empresa, a diversidade da linha, e os interesses da Foton no Brasil. Na minha visão de concessionário, o que vimos, justamente com a afirmação dos executivos da marca, nos motivou para acelerar os investimentos aqui no Brasil”.


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