A Cargo X, logtech brasileira fundada em 2013, chegou para agitar o mercado brasileiro. A empresa acelera os negócios das transportadoras e dos caminhoneiros autônomos de todo o País por meio de tecnologia e capital de giro. No total, já foram investidos mais de 30 milhões de reais, via fundo próprio de 300 milhões de reais. Além de investimento financeiro, a empresa oferece as tecnologias machine learning — processo que faz o uso da inteligência artificial para que as máquinas aprendam de forma automática — e big data, uso de uma grande quantidade de dados para novos conhecimentos. Federico Vega, CEO da Cargo X, conversou com a equipe da revista Transpodata sobre seu ingresso nesse segmento, o nascimento da organização e sua visão particular e inovadora sobre o futuro do transporte no Brasil. Confira:
TRANSPODATA: Como foi a sua trajetória até chegar a fundação da Cargo X?
FEDERICO VEGA: Nasci e cresci na Patagônia Argentina. Me formei em economia, e durante minha juventude gostava muito de viajar. Fazia parte de um grupo de mountain bike, inclusive. Com eles comecei a conhecer alguns lugares da América do Sul, e ter contato com as estradas.
TRANSPODATA: Foi então que começou a conhecer caminhoneiros?
FEDERICO – Exatamente. Quando viajávamos pela Argentina, era comum pararmos em postos para descansar, tomar um café. No local também ficavam muitos caminhoneiros. A maioria carregava muita água no veículo, devido as longas distâncias percorridas. Eles sempre nos davam um pouco.
TRANSPODATA: Você chegou a estudar alguma coisa relacionada com transportes?
FEDERICO – Durante a graduação, não. Esse contato com caminhoneiros e a realidade das estradas é que me fez pender para o segmento de transporte. No entanto, eu sempre reforço que eu sou um economista.
TRANSPODATA: E como você relacionou tecnologia e caminhões?
FEDERICO – Eu trabalhei alguns anos com tecnologia, e isso me fez ter muita experiência com o ramo. Nessa época também viajei para o Brasil e comecei a entender a situação dos caminhoneiros e do mercado brasileiro de transportes. Me interessei, e acreditei que teria um espaço para as minhas ideias.
TRANSPODATA: O que você enxergou, com seu olhar de economista, analisando o mercado do nosso País?
FEDERICO – O que certamente percebi é que ele é muito complexo. Então, comecei a estudar muito e compreendi que a grande ineficiência desse mercado é que existe muito transportador, e que ele agora opera com uma margem muito pequena. Ele trabalha muitas vezes com caminhões que viajam vazios, e isso pressiona ainda mais a margem, e o custo fica muito alto. É uma indústria tão complexa, que ao mesmo tempo que opera com uma margem pequena, precisa lidar com riscos.
TRANSPODATA: Que tipo de risco?
FEDERICO – São muitos. Risco de roubo de caminhão, risco de fiscalização errada, entre outros. Um pequeno problema pode matar toda a sua margem de negócio e acabar com seu negócio. Além disso, no Brasil existe um alto nível de clientes que não pagam. Ou seja, um empreendedor pode trabalhar com uma margem pequena e ao mesmo tempo levar o famoso “calote”. Isso mata o menor empreendimento.
TRANSPODATA: Mas em meio a todo esse turbilhão, tem como destacar as principais dificuldades?
FEDERICO – Na minha opinião existem três principais problemas: a falta de capital de giro para os transportadores, a margem pequena que pode não estar relacionada com o caminhão, e o risco de “calote” de um embarcador para um transportador.
TRANSPODATA: Com tanto risco, porque você resolveu criar a Cargo X?
FEDERICO Eu penso que um negócio pode dar muito certo quando é singular, entrega um serviço diferenciado dos outros. Então eu pensei que poderia entrar nesse mercado e trabalhar com esses problemas. Pois bem, foi o que eu fiz.
TRANSPODATA: Então, para uma pessoa que nunca teve contato com a Cargo X, o que ela é?
FEDERICO – A Cargo X é um marketplace que conecta embarcadores com transportadores. Além dessa conexão, também fornece diferentes serviços e produtos para o transportador. O que mais estamos fornecendo hoje é capital de giro, mas também, estamos fornecendo tecnologia, e outras coisas mais, por meio de uma plataforma digital para o transportador.
TRANSPODATA: Até outro dia, nós víamos a Cargo X como uma transportadora digital. Alguém que contratava o caminhoneiro, um autônomo e que tinha acesso ao embarcador e que acabava fazendo essa transação através dessas duas partes. E me parece que não é bem assim, certo?
FEDERICO – Esse foi o início, mas nós mudamos. E isso aconteceu porque eu acredito que o futuro do mundo dos transportes está nas transportadoras mesmo, as tradicionais eu digo. É um mercado muito grande.
TRANSPODATA: Então você não acredita nessa onda que está vindo das transportadoras digitais?
FEDERICO – Eu particularmente não acredito. Pode ser que eu esteja errado, mas eu analiso pela matemática, com os números apresentados. Não fecha número. O que a economia menos precisa é mais um transportador que alega que seu agenciamento é melhor porque é digital. Você economiza pouco dinheiro. Não tem espaço para você entrar.
TRANSPODATA: Mas, por que vocês começaram assim então?
FEDERICO – Começamos desta forma porque era necessário conhecer o mercado. Era preciso analisar os clientes, compreender as dificuldades. Na economia você trabalha com as etapas de análise, e essa foi uma delas. Agora, depois desse primeiro estudo, eu acredito muito que o futuro nesse mercado é a criação de sistemas que permitam facilitar o dia a dia do transportador. Algo que amenize esses três problemas que eu citei anteriormente. O mercado necessita de facilitadores. Por isso, a Cargo X está aqui.