Anuário da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos apresenta panorama atualizado do setor

Roberto Hunoff

Foto Divulgação

Entre 2019 e 2022, o sistema de transporte público brasileiro por ônibus urbano registrou queda de 24,4% na demanda, devido, principalmente, à pandemia. Isso significa que deixaram de ocorrer quase oito milhões de deslocamentos de passageiros por dia, em média, no período. Das aproximadamente 33 milhões de viagens realizadas por passageiros pagantes em todo o Brasil em 2019, no ano passado a demanda diária caiu para cerca de 25 milhões.

A informação faz parte do Anuário 2022-2023 da NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos). A publicação, que traz a série histórica do desempenho do setor nos últimos 30 anos, além de dados sobre investimentos em infraestrutura, cidades com subsídios e que adotam a tarifa zero, foi apresentada durante a 36ª edição do Seminário Nacional NTU, em Brasília.

Inédito, o documento mostra que, mesmo com aumento de 12,1% na demanda (número de passageiros transportados) e de 10,3% na produtividade (número de passageiros transportados por quilômetro rodado) em 2022, na comparação com 2021 o segmento não recuperou os patamares pré-pandemia. “A demanda atual está muito distante do desempenho observado no início da série histórica da NTU. E o setor acumula uma queda de 30% no índice de produtividade ao longo do tempo”, observou o presidente executivo da NTU, Francisco Christovam.

O dirigente destaca também que a recuperação da demanda de passageiros pós-pandemia já chegou a 84% do transportado em 2019, mas reitera que há muito a ser feito para alcançar o nível registrado antes da crise sanitária. “Temos observado os sinais de recuperação, mas é preciso lembrar que a pandemia provocou uma perda acumulada de quase R$ 40 bilhões para o setor, e ainda enfrentamos as consequências negativas deixadas pela crise sanitária”, afirma.

Dentre as principais consequências da crise, cita a redução de mais de 90 mil empregos diretos e a impossibilidade de renovação da frota devido à baixa na demanda e queda na arrecadação das empresas, que ainda dependem muito da tarifa cobrada do passageiro. “O número de cidades que subsidiam o transporte público cresceu, mas ainda é minoria”, afirmou. Segundo o Anuário NTU, há atualmente 63 sistemas de transporte público por ônibus que possuem subsídios definitivos, que atendem 163 dos 2.703 municípios que oferecem serviços organizados.

Frota com idade média elevada

Francisco Christovam acrescenta outros dados que também apontam para cenários desafiadores do setor. “Há quase duas décadas, o custo por quilômetro percorrido oscila em uma faixa específica. Porém, entre 2021 e 2022 houve aumento significativo de 8,2%, decorrente principalmente do óleo diesel, que teve alta de 29,8% no ano passado em comparação com o anterior e atingiu o maior valor registrado nos últimos 30 anos. Já a idade média da frota aumentou 4,2%, chegando a 6,4 anos. Aliás, é também o maior valor registrado nos últimos 28 anos. É importante observar esses indicadores, porque o custo e a idade dos veículos afetam a qualidade do serviço prestado ao passageiro”, observou.

Houve ainda um aumento discreto, de 1,4%, na quilometragem produzida no ano passado, em relação a 2021. O índice mede a oferta do serviço. O número de passageiros transportados por veículo diariamente também avançou, mas ainda é 13,8% inferior a 2019. Os 11 indicadores do Anuário foram calculados com base em nove dos maiores sistemas de transporte público por ônibus, tanto municipais como metropolitanos, que operam em diversas capitais do país: Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo, que reúnem cerca de 32,5% da frota nacional e 34,1% da demanda de passageiros transportados em todo o país.

Década de desafios

O anuário apresenta também um balanço da última década, marcada pelas chamadas “jornadas de junho” de 2013, quando ocorreram protestos em todo o país por melhorias no serviço e redução das tarifas dos transportes públicos. Os resultados, segundo a NTU, foram frustrantes. “Tivemos muitas promessas de políticas públicas de incentivo ao transporte público, mudanças nas regras, mas pouca coisa saiu do papel. Os números do documento deixam evidentes que não foram feitas melhorias significativas nos serviços e nem mesmo houve redução nas tarifas para a população. Ou seja, está claro que os anseios e as demandas da sociedade não foram atendidos”, avalia Francisco Christovam.

De acordo com o presidente, foram o impacto e a gravidade da pandemia que convenceram o poder público sobre as limitações do atual modelo do transporte coletivo e forçaram urgência na abordagem do problema. “Hoje, os subsídios aos passageiros começam a ser mais aceitos e há um debate amplo na sociedade sobre a necessidade de um novo marco legal para o setor. Com o anuário, podemos entender onde avançamos e como podemos melhorar a atuação. Estamos diante de uma nova oportunidade para debater o novo marco legal e buscar soluções para resolver os gargalos históricos do setor”, defende.

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