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Agro e e-commerce impulsionam vendas de caminhões

Marco Antonio Saltini está há mais de 18 anos na diretoria da Anfavea. Conhece bem os altos e baixos do setor automotivo e, em especial, dos caminhões. Além disso, é um expert nas relações com o governo uma vez que responde pela diretoria de relações governamentais da Volkswagen Caminhões e Ônibus. Graduado em Engenharia de Produção Mecânica pelo Instituto de Ensino de Engenharia Paulista e com especialização em Desenvolvimento Gerencial pela PUC/MG, Saltini atua no setor automotivo há quase 40 anos. Nesta entrevista exclusiva à Transpodata, o executivo analisa o atual momento do mercado nacional de caminhões como representante da Anfavea.

TRANSPODATA: Por que ninguém previu esse aquecimento de vendas de caminhões neste ano?

SALTINI: Desde a última crise econômica brasileira entre os anos 2015 e 2018 o mercado de veículos comerciais foi dos mais afetados e, portanto, o crescimento era previsto a partir de 2018, principalmente pelo fato de muitos frotistas não terem renovado suas frotas neste período. A pandemia afetou o mercado no primeiro semestre de 2020, mas no segundo semestre já havia demonstração clara de que o mercado de caminhões retomava o crescimento. A projeção para o ano de 2021 do mercado de caminhões feita pela Anfavea em janeiro de 2021 previa um crescimento de 13%. Durante o primeiro semestre, a forte demanda do agronegócio e do e-commerce fizeram com que a Anfavea revisse a projeção em julho de 2021, passando para um crescimento de 36%, o que se mostra neste momento como o provável resultado para 2021.

TRANSPODATA: Será que alguns frotistas não estão antecipando compras já tentando fugir dos grandes aumentos que virão em 2023 com todos os caminhões novos passando a atender ao Conama P8?

SALTINI: Na visão da Anfavea ainda é cedo para uma eventual antecipação de aquisição de caminhões em função da nova fase do Proconve.

TRANSPODATA: Na média, qual o prazo hoje para um cliente receber um caminhão novo?

SALTINI: Depende muito do tipo de veículo, mas não se pode esquecer que estas aquisições são muitas vezes programadas pelos clientes para o momento que é mais adequado a eles.

TRANSPODATA: A falta de semicondutores não está afetando a produção de caminhões?

SALTINI: Da mesma maneira como vem afetando os demais segmentos automotivos, a falta de semicondutores também afeta a produção de caminhões. Claro que em uma dimensão muito menor porque os volumes produzidos são menores. A média mensal de produção de caminhões tem sido de 12 mil unidades quando se compara com veículos leves, por exemplo, a média é de 170 mil.

TRANSPODATA: Na sua opinião, quais segmentos econômicos estão puxando mais esse aumento da demanda por caminhões, especialmente os pesados?

SALTINI: Sem dúvida agronegócio e mineração.

TRANSPODATA: A Anfavea trabalha com que previsão para o mercado de caminhões neste ano?

SALTINI: A projeção da Anfavea é de um crescimento em relação a 2020 de 36% com um total de 122 mil unidades.

TRANSPODATA: Como vocês estão enxergando o ano que vem em que teremos aquelas tradicionais incertezas sobre os rumos políticos e sociais em função das eleições para presidente e governadores?

SALTINI: A Anfavea ainda não fez suas projeções para 2022, mas acreditamos que com a vacinação e a consequente retomada da economia, o mercado de caminhões deverá continuar próximo do patamar atual.

TRANSPODATA: Aquele projeto de renovação de frota que foi apresentado há mais de quatro anos para o Ministério da Indústria e Comércio ainda tem como sair do papel? O que o trava tanto?

SALTINI: O Ministério da Economia vem trabalhando em um Projeto de renovação de frota, que é absolutamente necessário. O fundamental é garantir condições para que um profissional autônomo possa se desfazer de um caminhão com mais de 30 anos e possa ter condições de adquirir um caminhão, novo ou seminovo e para isto é necessário oferecer mecanismos de financiamento/crédito a estes profissionais.

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