Crescem geometricamente os crimes cibernéticos no País.

Uma pandemia de crimes digitais está em pleno curso no Brasil há mais de cinco anos. Os casos crescem à medida que mais pessoas têm acesso a celulares conectados à internet. E este tipo de golpe disparou quando, em função da Covid-19, as pessoas passaram a trabalhar mais em casa e a fazer mais operações financeiras on-line como pagar contas e, particularmente, fazer compras. Empresas especializadas em cibersegurança colocam o País está no topo do ranking, junto com o México, neste tipo de fraude.

“Pelo tamanho do País e número de usuários, é certamente um dos maiores em volume de fraudes. Em incidências, o Brasil se parece com o México”, afirmou Bernardo Lustosa, presidente da empresa de soluções antifraude ClearSale. As fraudes mais comuns são aqueles velhos golpes de se enviar um link e o vigarista se apropriar do whatsapp da vítima. Uma vez que assume identidade alheia, pede dinheiro para todo seu grupo de “amigos”.

O problema é que a legislação do Brasil ainda é atrasada para tratar de golpes digitais. Não tem nada claro. A polícia não sabe ao certo como agir e até mesmo fazer um simples Boletim de Ocorrência é complicado e ineficiente. Em resumo: estelionato digital não é considerado crime no Brasil. Motivados pela impunidade e confusão legal, os vigaristas prosperam no País praticando crimes digitais dos mais simples aos mais criativos e tecnologicamente sofisticados.

“O Brasíl é um paraíso dos cibercriminosos, com penas brandas e procedimento processual penal ultrapassado”, comenta o deputado federal Vinicius Carvalho para a Agência Câmara de Notícias. Segundo o parlamentar, somente em 2019 foram registradas 24 bilhões de tentativas de ataques cibernéticos no Brasil. “Um em cada cinco brasileiros foi alvo do golpe de phishing em 2020. Esse golpe ocorre quando um criminoso cria página falsa para simular um site verdadeiro para roubar dados e desviar recursos da vítima”.

A pandemia de crimes digitais se alastra tanto no Brasil que é difícil encontrar quem nunca tenha passado por alguma situação constrangedora ou financeiramente devastadora. Os famigerados “trojans” (o termo vem do inglês e tem livre tradução como ‘cavalo de troia’, são links que, uma vez clicados, roubam imediatamente seus dados) se multiplicam. Os bandidos atuam fortemente no roubo de dados bancários e fazem vultosos saques em contas do FGTS e, particularmente, empréstimos em bancos digitais.

Alguns bancos digitais, para mostrar bons resultados aos acionistas, facilitam a abertura de contas sem, contudo, adotar procedimentos mais seguros de verificação de autenticidade do correntista. Isso também facilita muito a vida dos criminosos cibernéticos no Brasil.

Conversamos com uma vítima desse tipo de caso, que preferiu não identificar. Ela nos relatou que abriram uma conta falsa em seu nome no Banco Pan, fizeram empréstimos e ela só ficou sabendo três meses depois quando uma empresa de cobrança ligou em nome da instituição para cobrar a segunda parcela atrasada. “A própria atendente me disse, na maior naturalidade, que o Banco Pan não adota protocolos seguros para confirmar se quem está abrindo a conta e pedindo empréstimo é realmente a pessoa verdadeira“. Tentamos contato com o Banco Pan e não recebemos respostas.

Nas redes sociais destas instituições financeiras on-line e no site “Reclame Aqui” há centenas de reclamações de vítimas deste tipo de golpe digital. Há um perigo extra: reclamando nas redes sociais (Facebook ou Instagram) de muitas destas instituições você pode ser vítima de outros golpistas de plantão que se passam por “atendentes” desses bancos. Nossa entrevistada passou por isso ao tentar relatar seu caso na página do Banco Pan no Instagram. “No minuto seguinte que registrei minha reclamação na rede social, um vigarista cujo perfil tinha o logo do banco me enviou mensagem no privado pedindo para clicar em um link que meu caso seria imediatamente resolvido. Desconfiei e não cliquei. Claramente era outra tentativa descarada de golpe”.

Até agora seu problema não foi resolvido e ela teve que contratar, por dois mil reais, advogado para tentar resolvê-lo na justiça. Seu prejuízo: mais de cinco mil reais retirados de seu FGTS. A Caixa Econômica Federal, igualmente, neste caso (certamente em milhares de outros) não adotou os devidos protocolos de segurança digital liberando de maneira fácil e célere o dinheiro a um perfil “fake” que se apropriou unicamente de seu CPF.

Dada as facilidades, os crimes digitais, particularmente financeiros, de fato, encontram terreno fértil no Brasil e se multiplicam assombrosamente. A lei ainda não estabelece punição dura e clara e as instituições bancárias on-line, pela quantidade exorbitante de casos, obviamente não adotaram protocolos mais seguros contra este tipo de golpe cibernético.

Contágio no transporte – O segmento logístico, cada vez mais digitalizado, não está imune a este tipo de golpe. Mas algumas empresas, como a Fretebras, maior plataforma online de transporte de cargas da América do Sul, reduziu o volume de fraudes efetivas contra caminhoneiros que usam a plataforma em 67%, entre 2020 e 2021 (veja entrevista no Top View desta edição de Transpodata). A questão das fraudes é uma grande preocupação de quem trabalha nas estradas e com o programa Frete Seguro, a empresa conseguiu reduzir golpes que vinham sendo aplicados contra frotistas, caminhoneiros e, inclusive, embarcadores.

No ano passado, dos oito milhões de fretes publicados na plataforma, apenas 90 foram fraudes efetivas, o que representa 0,0011% do total.
O programa Frete Seguro foi lançado em março de 2021 e contou com um investimento de R$ 30 milhões no ano. Ele engloba diferentes iniciativas para combater as fraudes no setor, ajudando a levar mais segurança para os usuários da plataforma.

Dentro das ações do programa, a FreteBras triplicou o time de ouvidoria, canal oficial para que os caminhoneiros possam fazer denúncias e solicitar ajuda; criou um novo time de prevenção à fraude, com especialistas com mais de 10 anos de experiência na área; lançou uma série de funcionalidades de segurança e desenvolveu novas campanhas educativas para ajudar os motoristas a rodar de maneira mais segura.

Carro-chefe do programa, o “Motor de Risco do Frete”, um robô que avalia e valida milhares de fretes diariamente para identificar o seu risco, permitiu à Fretebras barrar grande parte das ações de fraudadores. Como resultado, as fraudes efetivas tiveram uma redução de 67%, passando de 273 casos, em 2020, para 90 em 2021.

“É importante ressaltar que pouco mais de um terço dos casos de fraude efetiva (32,7%) não aconteceram de fato via Fretebras, mesmo que tenham sido apontadas num primeiro momento como ocorridas na nossa plataforma. Investimos muito em segurança e isso é percebido pelos caminhoneiros. Dos que sofreram algum tipo de fraude no decorrer do ano, 74% voltaram a buscar fretes através da Fretebras”, afirma Michael Bogajo, Head de Prevenção à Fraude da Fretebras.

Outra ferramenta de grande destaque implementada pela Fretebras no ano passado foi a avaliação de mão dupla, que permitiu que caminhoneiros e empresas se avaliassem após a conclusão de um frete. Além disso, os programas educativos lançados ao longo de todo o ano ajudaram a mostrar aos motoristas as atitudes mais seguras a se tomar na hora de negociar um frete.

“Desenvolvemos esses programas após realizar uma pesquisa, também em 2021, com 1.700 motoristas. O levantamento nos mostrou que 40% deles não adotam nenhuma medida de segurança na hora de fechar um frete. Isso reforçou a importância de usarmos a tecnologia como aliada para aumentar a segurança. Dessa forma, conseguimos de fato ajudar os caminhoneiros parceiros a rodarem de forma mais segura”, destaca Bogajo.

Ao analisar a redução de fraudes por região, a Fretebras identificou que, na comparação entre o primeiro e segundo semestre do ano passado (período de implantação do Motor de Risco de Frete), a maior redução nas fraudes efetivas ocorreu no Pará (-90%). Santa Catarina ficou em segundo lugar (-67%). Na terceira posição ficou São Paulo (-31%), estado que representa cerca de um quarto de todos os fretes cadastrados na plataforma da Fretebras.

DICAS PARA EMBARCADORES EVITAREM FRAUDES

  • Em contratações remotas, sempre que houver possibilidade, fale com o caminhoneiro por chamada de vídeo.
  • Não realize o pagamento do frete em conta bancária de terceiros. Faça sempre o pagamento na conta do motorista ou titular da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) em que o veículo está vinculado. E não realizar o pagamento do adiantamento do valor do frete sem garantias de que o veículo esteja no local de carregamento.
  • Tenha cuidado com contratos falsos de locação ou compra de veículos. Muitos golpistas se utilizam dessa artimanha para transmitir uma falsa sensação de confiança.
  • Confira com muito cuidado toda a documentação recebida, com atenção à autenticidade dos dados e sendo um caminhoneiro novo peça referências de empresas com as quais ele já tenha trabalhado.
  • Não abra mão, mesmo que em situações urgentes, de seguir os processos de segurança da empresa, como, por exemplo, a contratação de seguro, consulta em GR, etc.

DICAS PARA CAMINHONEIROS EVITAREM FRAUDES

  • Cuidado com o “fretão” (nome dado a propostas de fretes cujo valor é bem acima do normalmente praticado pelo mercado).
    Pesquise ou busque referências sobre a empresa embarcadora responsável pela carga.
  • Consulte o endereço do carregamento. Existem relatos de motoristas que utilizam táxi ou mototáxi para verificar o local antes de se aproximarem com o caminhão.
  • Se estiver próximo ao local do embarque e o lugar for muito afastado e deserto, desconfie. Principalmente se as instruções forem para ficar parado e aguardar.
  • Cuidado ao fazer pagamento de taxas ou valores cobrados antes do carregamento, fora do local de embarque ou para pessoas desconhecidas.
  • Atenção ao realizar devolução de valores em contas bancárias de terceiros. Após o recebimento do frete, se realmente for necessário, faça o estorno para a mesma conta remetente.

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