Com investimentos previstos de 50 bilhões de dólares até 2027, setor de mineração aumentará expressivamente a demanda por caminhões especiais off-road já a partir deste ano, as montadoras estão otimistas com setor de mineração
Mauro Cassane
Imagem, Divulgação
As montadoras estão otimistas com setor de mineração. Vendas volumosas, com entrega prevista para este ano, foram fechadas no final do ano passado. A razão vem lá do Oriente. É imensa a fome dos chineses por minério de ferro. Eles são os maiores produtores mundiais e, também, os maiores consumidores. O Brasil, em produção, fica em segundo lugar no ranking dos maiores do mundo. A China é nosso maior cliente. Cerca de 60% de todo minério de ferro produzido aqui vai para o gigante asiático.
Assim como a agricultura, o setor de mineração vem crescendo vigorosamente nos últimos anos. Segundo dados do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), o setor cresceu 6% no primeiro semestre do ano passado em comparação com mesmo período de 2022. Em seis meses o faturamento chegou a 120 bilhões de dólares. Mesmo sem fechar os dados de 2023 já se sabe que houve vigorosa expansão.
Assim como é fácil prever que, neste ano, o crescimento será ainda maior por uma lógica simples: haverá maior demanda global por bens minerais que são estratégicos para a transição energética. Os queridinhos da eletromobilidade, por exemplo, são: lítio, cobre, níquel, tântalo, cobalto e nióbio. O Brasil tem fartas reservas destes minerais e, por isso mesmo, podemos reiterar: as montadoras de caminhões estão otimistas com o segmento de mineração.
De acordo com o Ibram, o setor de mineração prevê investimentos da ordem de US$ 50 bilhões até 2027. As montadoras estão otimistas com setor de mineração e com estes números. Scania, Volvo, Mercedes-Benz e Volkswagen Caminhões e Ônibus têm produtos para oferecer a este mercado. E vale destacar um pormenor: diferente de caminhão pesado estradeiro, cujo valor médio é da ordem de 700 mil reais, esse tipo de caminhão off-road não sai por menos de 1,2 milhão de reais. Quase o dobro.
São caminhões mais robustos, com tração 8×4 e chassis rígido. É o típico veículo forte e robusto para encarar o trabalho duro e bruto nas minas do Brasil (quase a maioria em Minas Gerais, Mato Grosso e Pará). Ou seja, é operação em gigantescos buracos e sinuosas montanhas.
Fabricio Vieira, Gerente de Vendas Off-Road da Scania Brasil, está animado. Ano passado, meados de novembro, a montadora sueca apresentou linha nova, mais Premium, para este mercado. O executivo disse, à época, que mil caminhões deste tipo já estavam reservados para o setor fora de estrada que compreende, além da mineração, madeira, cana e construção.
“Estimamos crescimento de 5% nos setores fora de estrada, com destaque para mineração pois haverá significativo aumento da produção de minérios no Brasil”, diz Vieira.
Especificamente para operar na mineração, a Scania oferece seu modelo XT 560 Heavy Tipper Super, que lançou no final do ano passado. Além dele, os modelos P 450 6×4 e G 500 8×4 – ambos de motor 13 litros – e R 660 V8 10×4 Heavy Tipper (16 litros), todos de chassi rígido ou plataforma, são outros modelos do portfólio da montadora. Ainda na mineração e para a construção pesada, na aplicação 10×4, a Scania estreou o motor V8, de nova potência de 660cv, em substituição ao G 540, e o PBT técnico é de 71 toneladas.
Scania, Volvo e Mercedes-Benz atuam fortemente neste segmento de mineração. Perguntadas sobre participação neste mercado as três oferecem percentuais de liderança mas, no cômputo geral, os dados matematicamente não se harmonizam.
O fato é que cada montadora adota critérios diferentes para mensurar suas vendas. Todas estão certas dentro de seus próprios critérios: a Scania diz ter 35% deste mercado. Volvo, 42% e Mercedes, 40% mas considera todo universo de caminhões off-road. Umas consideram apenas veículos 8×4 rígidos, outras computam também 10×4 e, ainda, há percentuais considerando caminhões estradeiro que transportam minérios bem como veículos para outras aplicações off-road.
Jefferson Ferrarez, vice-presidente de Vendas e Marketing Caminhões da Mercedes-Benz, também está confiante na expansão do setor de mineração no Brasil. Comenta o executivo: “podemos observar aumento significativo da demanda por minerais com foco na transição energética e também o aumento da demanda global por bens materiais. Além disso, temos acompanhado uma evolução constante do setor em tecnologias que auxiliam na eficiência das operações e temos observado o posicionamento do Brasil como um dos principais players mundiais na exploração e beneficiamento dos mais diversos minerais”.
Ferrarez arrisca dizer que este crescimento vai para mais além de 2024 e por isso as montadoras estão otimistas com setor de mineração. Certamente ele sabe bem sobre os 50 bilhões de dólares previstos para serem investidos até 2027 no setor. A Mercedes-Benz tem tradição neste rico nicho do mercado nacional. Tinha bons produtos com a linha Axor off-road e, recentemente, lançou a família Arocs, que é mais vocacionada a este tipo operação bem mais bruta. São caminhões 8×4 e 6×4, chassis rígido, que também contam com produtos da Linha Atego, mais leve, nas mesmas versões de tração.
Ferrarez prefere considerar o histórico de emplacamento desde 2016 dos caminhões rígidos 6×4 e 8×4 para falar da participação da Mercedes-Benz no segmento off-road (que contempla também florestal, cana e construção): “temos 40% de market share e sabemos que parte considerável deste volume é dedicado ao setor mineral”, comenta.
De acordo com o executivo da Mercedes, em 2023, a empresa vendeu perto de 1.000 caminhões para o setor, levando em consideração os principais produtos na categoria rígido 6×4 e 8×4. “O produto de maior capacidade técnica de transporte, o modelo Arocs 8×4, registrou cerca de 260 unidades emplacadas apenas em 2023, cerca de 1/3 do mercado de veículos 8×4”, acrescentou.
Além deste produto, a Mercedes-Benz também atende aos clientes do setor com os produtos off-road 6×4 de 27, 31, 33 e 41 toneladas de PBT.
Clovis Lopes, gerente comercial de caminhões da Volvo, concorda com seus colegas da Scania e Mercedes-Benz: “o setor vai crescer muito neste e nos próximos anos”. Lopes diz que, ano passado, o setor poderia até ter comprado mais caminhões “não fosse pela freada nas aquisições em função de antecipação de compras dos modelos Euro 5 que aconteceram no ano anterior, em 2022”.
Lopes diz que, “mais do que preço, o importante neste setor é a disponibilidade do caminhão. O veículo não pode parar. Mina trabalha em regime de 24 horas. Por isso que customizamos o atendimento para definir o melhor produto para cada aplicação”.
De acordo com Lopes, a vida útil do caminhão de mineração gira em torno de três a cinco mil horas a depender das condições de cada mina. “Nossos produtos atingem o máximo deste patamar, ou seja, ultrapassam cinco mil horas”.
Lopes diz que a Volvo trabalha com perspectiva de 10% de crescimento para este segmento neste ano. “Algumas minas já estão em licença de operação e vai ter procura maior. Já temos pedidos colocados (ordem de compra) feita no ano passado para entregarmos neste ano”. Para não chamar atenção da concorrência, o executivo preferiu não especificar o número de pedidos já confirmados para este ano.
A Volvo tem dois super caminhões especificados para este segmento: FMX convencional, rígido, motor de 500cv ou 540c, capacidade de até 35 toneladas de carga líquida e o FMX MAX rígido, motor de 500cv ou 540cv, capacidade de até 40 toneladas de carga líquida.
A Volkswagen Caminhões e Ônibus tem dois caminhões mais vocacionados para mineração: o Constellation 32.380 6×4 e o Constellation 31.320 6×4. O primeiro vem com eixo redução no cubo, reforço em seu chassi e motor de 9 litros com 375 cv e 1.700 Nm de torque, bem como transmissão automatizada, V-Tronic de 12 marchas com a funções “rock-free”, que auxilia a saída de atolamentos e buracos; e off-road, que proporciona trocas de marchas rápidas de acordo com a velocidade.
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