Traton Financial Services estreia no Brasil e inaugura nova fase para Volkswagen Caminhões e Ônibus
Mauro Cassane
Imagem, Divulgação
A partir de 1º de julho, próxima terça-feira, entra em operação no Brasil a Traton Financial Services — o novo braço financeiro da Volkswagen Caminhões e Ônibus. Trata-se de uma mudança estratégica de bastidor que, embora invisível ao público geral, sinaliza um novo capítulo para a montadora no país e reforça a musculatura da Traton Group, holding global que controla marcas como Scania, MAN, International e a própria VWCO.
Durante quase quatro décadas, o financiamento de caminhões e ônibus da Volks no Brasil foi intermediado pelo tradicional Banco Volkswagen, uma instituição que, como o nome já indica, tem sua vocação voltada ao financiamento de carro de passeio. A despeito disso, o arranjo funcionou muito bem por quase 40 anos. A prova mais evidente desse acerto estão nos números: a Volks lidera o mercado de caminhões há quase 20 anos, graças a uma combinação de foco, soluções sob medida e uma rede de concessionárias alinhada às estratégias de produto.
Agora, a decisão é por especialização e, de acordo com Roberto Corte, CEO da VWCO, “mais foco”. Sai o banco multiuso, entra uma operação um braço financeiro com DNA no mercado de caminhões e ônibus. Lembrando que está tudo dentro de casa. O Grupo Volkswagen é dona da Traton.
“O mercado brasileiro é muito importante para a estratégia global da Traton”, afirmou Rene Renkemo, chefe da divisão financeira global do grupo, durante a apresentação oficial da nova operação. Ao seu lado, Roberto Cortes reforçou que a mudança segue a lógica de “manter o foco e também oferecer soluções financeiras sob medida”, um mantra que ele mesmo repete como elemento-chave do sucesso da montadora no Brasil quando se trata de produtos e serviços.
O Banco Traton — como será popularmente conhecido — nasce com uma estrutura robusta: são mais de 100 profissionais, dos quais cerca de 70% vieram diretamente do Banco Volkswagen. “Isso garante não só conhecimento acumulado, mas também continuidade de cultura e processos”, comenta Eduardo Portas, que comandará a instituição financeira no Brasil. Inclusive, o próprio Portas veio do Banco Volkswagen (trabalhou por mais de 30 anos lá).
“Não vamos reinventar a roda. Os serviços continuam os mesmos, e são bons. Mas agora o foco será total no cliente de veículos comerciais. Queremos ser parceiros estratégicos dos frotistas brasileiros e vamos atuara, com nossos profissionais, em campo, visitando os clientes e nossos concessionários”, disse Portas.
Inicialmente, o banco atuará com duas linhas principais de crédito: o CDC (Crédito Direto ao Consumidor), voltado para o financiamento de caminhões e ônibus; e o Crédito Consignado para concessionárias, que viabiliza capital de giro para aquisição de veículos diretamente da fábrica. Portas também sinaliza que operações via Finame estão no radar e devem ser liberadas em breve, assim que o Banco Central autorizar.
Entretanto, o diferencial mais imediato deve vir das condições comerciais. Embora ainda não tenha divulgado as taxas oficiais, a promessa é de juros mais competitivos. Hoje, com a Selic na casa dos 15% ao ano, a média de mercado para CDC gira em torno de 23%. Se a Traton Financial Services quiser ser agressiva na captação de clientes — o que é o mais provável —, veremos ofertas partindo da casa dos 20% ou até menos para frotistas de maior porte, que têm mais garantias e histórico bancário favorável. Como de praxe, os detalhes dessas condições dificilmente serão abertos ao público.
No segmento de financiamento de veículos comerciais confiança é tudo e o histórico conta. A Traton Financial Services começa agora no Brasi mas o peso da marca global, know-how transferido do Banco Volks e, principalmente, uma promessa de foco exclusivo no setor de caminhões e ônibus. Isso, num setor onde as margens são apertadas com um cenário de juros altos. Ou seja, as decisões de crédito exigem agilidade e conhecimento técnico e conhecer bem seus clientes certamente faz toda a diferença.
Se a nova operação entregar o que promete, a Volkswagen Caminhões e Ônibus terá em mãos, como pretende Roberto Cortes, uma poderosa alavanca para sustentar sua liderança de mercado — e para reagir ao avanço das concorrentes chinesas, que já começaram a balançar os alicerces do setor.