Fabricante de equipamentos rodoviários do interior de São Paulo tem projetos de expansão fabril, de novos produtos e mercados, e de verticalização de parte de componentes
Roberto Hunoff
Fotos Divulgação
Próxima de completar meio século de atividades, em março próximo, a Sergomel tem planos estratégicos audaciosos para os próximos anos. Com sede em Sertãozinho, interior de São Paulo, a fabricante de implementos rodoviários foi criada por Oswaldo Ilceu Gomes como uma mecânica vocacionada no segmento canavieiro em função da sua própria localização. Atualmente, a empresa está em processo de encaminhamento da sucessão para a segunda geração, mas desde 2020 tem comando profissionalizado, com a contratação de Antônio Marcos Dandaro para o cargo de diretor executivo, cabendo ao fundador a tarefa de presidir o Conselho de Administração e aos três filhos as demais funções diretivas.
De acordo com o gestor, a Sergomel está em mudanças contínuas há mais de duas décadas, com foco principal na busca da inovação tecnológica para ampliar o portfólio de produtos. Como resultados efetivos já tem forte presença no segmento florestal, com equipamentos fabricados com aço de alta resistência, resultando em menor e mais carga por tara livre, para atender clientes do porte de Suzano, Klabin e Eldorado, dentre outros. “Além de agregar mais produtos ao portfólio, abrimos novos mercados nas demais regiões do Brasil”, comenta Dandaro. Em seu parque industrial de 96 mil metros quadrados, emprega em torno de 400 pessoas e tem capacidade produtiva anual para cerca de 2,6 mil equipamentos.
Em sua estreia na Fenatran, em novembro passado, a fabricante experimentou a sensação de abrir-se para todo o mercado nacional, pois até então a atuação estava mais concentrada no interior de São Paulo, Mato Grosso, Goiás e Paraná. “Esse momento é um marco zero para nacionalizar a marca e conquistar novos clientes”, definiu. Dandaro reconhece que a posição de muitos visitantes, que não conheciam a marca, corroborou a visão da empresa de ingressar em novos segmentos, como a prancha apresentada na Fenatran. “Em linha com aqueles que nos questionaram se não tínhamos este ou aquele produto, temos definida uma programação para começar a desenvolver novos equipamentos em 2025. Já tivemos demandas geradas na feira”, frisa.
De acordo com o executivo, em torno de 70% dos visitantes do estande eram clientes novos, contrariando a expectativa inicial de receber entre 80% a 90% de parceiros já tradicionais. Clientes de setores já atendidos pela marca, mas principalmente em busca de novidades para outras atividades. “Acredito que teremos muitos negócios pela frente em outros segmentos, sem deixar de lado os já tradicionais florestal e canavieiro”, ressalta.
De acordo com o executivo, os resultados da Fenatran superaram as expectativas em número de visitantes, network e oportunidades efetivas de negócios. Na feira foram gerados R$ 41 milhões em negócios, com projeção de elevar o valor ao longo deste ano. A Sergomel apresentou como novidades a prancha carrega tudo, desenvolvida para a linha rodoviária; o rodotrem 11 eixos da linha leve canavieira; e o bitrem para o segmento florestal.
O projeto atual mais adiantado é o de base de contêineres para atender um mercado de forte demanda. No momento, o equipamento está em fase de homologação junto ao Conselho Nacional de Trânsito. “Fizemos uma pesquisa de mercado e identificamos muitas oportunidades. Acreditamos ser possível ter o produto à disposição ao longo deste ano”, confirmou. Quanto a avanços tecnológicos, a empresa trabalha em melhorias no segmento florestal, que está com uma demanda represada desde 2022 e deve acelerar compras em 2025. “De imediato são de 600 a 700 equipamentos por duas a três empresas. Mas a expectativa é bem maior para o setor como um todo”, estima Dandaro.
Em paralelo ao desenvolvimento de novos produtos e mercados, a empresa também estuda mudanças no atendimento pós-venda, atualmente concentrado na matriz, com atendimento por meio de representantes comerciais. A ideia, segundo o executivo, é criar polos regionais para assistência técnica. “Esta meta deve ser consolidada ao longo de 2025 e 2026. Precisamos ter mais proximidade com o cliente na ponta”, reforça.
Para este ano, o objetivo é crescer de 15% a 20%, principalmente pelas vendas para a área florestal, mas também com recuperação no canavieiro, que sofreu em 2024 em razão dos incêndios. “Acreditamos em um ano muito bom para a operação como um todo”, projeta.
Aprendizados com a pandemia
De acordo com Antônio Dandaro, até 2019 o cenário era positivo para a empresa, que vivia em uma zona de conforto, mas perdendo mercado em razão de preços e sem reagir. Como consultor à época, alertou para a situação e a necessidade de mudança. “Em 2020 fui convidado pela família a assumir a gestão para conferir caráter mais profissional ao negócio. É um trabalho lento e os resultados começam a aparecer no médio e longuíssimo prazo”, assinala.
Em plena pandemia, que trouxe ensinamentos à organização, teve início o trabalho de governança e definição de premissas, nas quais foram revisitados os processos existentes e criados outros, principalmente na atividade fabril, além da definição de prazos para efetivação destas mudanças. “Foi um período de investimentos robustos, algo como R$ 22 milhões, em equipamentos como máquinas a laser, robôs e prensas, na busca da eficiência e redução das perdas de materiais. Tudo feito com capital próprio, sem financiamentos externos. Foi uma decisão estratégica”, salienta.
A capacidade produtiva de então era de 1,2 mil a 1,3 mil equipamentos, operando em dois turnos, e 162 colaboradores. “Hoje temos o dobro de capacidade em dois turnos e 400 funcionários”, assinala.
A cadeia de suprimentos é outra preocupação da atual diretoria. Dandaro recorda que a política tradicional era de ter um fornecedor, no máximo dois, para cada tipo de produto, inclusive no sistema financeiro. A situação mudou em razão da pandemia sanitária e da necessidade de mais fornecedores para fazer frente às demandas dos novos projetos. “Na crise da covid, a marca de pneus que nos atendia reduziu a cota mensal em mais de 90%, de um mês para outro, sem oportunizar negociação. Era decisão da matriz chinesa”, salienta.
Para cumprir o cronograma das entregas, algo sagrado nos 45 anos da companhia, a determinação da diretoria foi buscar todas as alternativas possíveis e pagar o que era preciso. “Compramos pneus onde foi possível por preços até 100% acima do que era pago para a antiga fornecedora. Felizmente nenhuma entrega atrasou, mas o custo foi alto e veio a lição, que é a de ter diversidade de fornecedores em todos os itens, política hoje praticada com sucesso na empresa. Temos uma carteira variada, mas estamos sempre desenvolvendo novos parceiros”, observa. Destaca que, atualmente, a empresa trabalha com estoques de alguns produtos de até cinco meses, com reposição permanente.
De forma a ter maior segurança na cadeia de suprimentos, a Sergomel tem um projeto em andamento, a ser validado entre este ano e 2026, de ter fabricação própria de dois a três itens estratégico. “Isso vai andar em paralelo com o crescimento de algumas outras ações que vamos adotar”, explica. Sem detalhar, Dandaro adianta que a empresa também deve crescer por meio de aquisições, programadas para ocorrer em até três anos.