Animada com capacidade de produção de gás maior e infraestrutura melhor, engenharia de vendas da Scania reativa com otimismo teste com seu ônibus rodoviário equipado com motor do Ciclo Otto movido a gás natural
Mauro Cassane
Scania, Divulgação
Há movimentos na indústria que não fazem barulho, mas dizem muito. É o caso da recente decisão da Scania de reacelerar o passo com ônibus movidos a gás natural no transporte rodoviário. Em vez de ceder à sedução dos elétricos — caros, pesados, e ainda distantes da realidade da operação de longa distância — a marca sueca aposta no velho (e renovável) conhecido: o gás. E não está sozinha.
“A transição energética passa, obrigatoriamente, pelo gás”, comenta Alex Nucci, diretor de Vendas de Soluções da Scania. Sua colocação resume uma escolha estratégica, racional e bem contextualizada da fabricante sueca. Afinal, a Scania já tem expertise com caminhões pesados a gás. A diferença agora é a aplicação rodoviária em ônibus — e isso muda bastante o jogo.
A história desse modelo começou há quase cinco anos, com um chassi K 340 4×2 encarroçado pela Marcopolo. Bem padrão, sem invencionices, com capacidade para 45 passageiros. Foi testado por frotistas — a Viação Cometa entre eles. Funcionou a contento, tecnicamente. O problema, na época, era fora do veículo: abastecer ainda era uma epopeia.
Contudo, o tempo passou, e a Comgás fez a lição de casa. Hoje, há 240 postos com capacidade para abastecimento de gás veicular, sendo 20 em São Paulo com alta vazão — ou seja, abastecimento completo em 20 minutos. E tem mais: o biometano está virando realidade com 10 novas usinas e capacidade diária de produção que deve ultrapassar 400 mil metros cúbicos até 2029.
Henrique Sonja Penha, da Comgás, expos os resultados e números e a Scania se animou. Foi o suficiente para Gustavo Cecchetto, gerente de Vendas de Soluções de Mobilidade, bater à porta da Viação Santa Cruz. Francisco Mazon, CEO e fã declarado da marca, topou o teste com o rodoviário a gás. Nasceu ali um comodato mais amigável de 90 dias (prorrogável) para a linha São Paulo–Campinas.
O ônibus já está rodando, pintado no vermelho padrão. Segundo Francisco, está indo bem. Mas ele avisa: tudo depende de desempenho, consumo, e do custo real frente ao diesel. O limite é claro: o modelo a gás pode até ser mais caro, mas não mais de 20%. “Se ficar dentro dos conformes, compramos 10 unidades deste modelo ainda este ano”, afirma, sem rodeios.
Há, porém, uma pedra no caminho — ou melhor, debaixo do assoalho: os cilindros. Pesam, ocupam espaço e afetam diretamente a área reservada às bagagens e, principalmente, às encomendas. E esse é um ponto sensível: embora não se fale muito sobre isso, para muitos frotistas, transportar encomendas, muitas vezes, é mais rentável do que levar passageiros.
Por isso, a engenharia da Scania optou por um motor downsizing de 9 litros (280 cv ou 340 cv) e autonomia de 400 km com quatro cilindros. Dá para ampliar? Sim, é possível inserir mais dois cilindros. Mas o prejuízo no bagageiro pode não compensar a ideia de aumentar a autonomia.
E os elétricos? Não, obrigado
Francisco é taxativo. Quando o assunto é ônibus elétrico rodoviário, ele dispensa a conversa: “Preço absurdo. Não compensa nem pensar sobre isso.” No mundo real da operação de curta e média distância, o gás vence e nem tem comparação.
O empresário fala com a autoridade de quem renova frota todo ano — são 96 ônibus, todos Scania, encarroçados pela Marcopolo, com idade média de 1,8 ano. Em Minas Gerais a história é outra: lá ele usa Mercedes-Benz com motor dianteiro e carroceria Caio. Escolha estratégica, de novo: “Cada topografia vai melhor com um tipo de produto”.
Quem está no jogo: fabricantes que apostam no gás
- Scania………Caminhões pesados e ônibus urbanos/rodoviários Presente na Europa e América Latina
- Volkswagen…….protótipos e testes com caminhões leves
- Iveco (Daily, Tector, S-Way GNV)…..líder europeia em GNV, inclusive para ônibus
- Volvo sem atuação relevante no Brasil com GNV mas na Europa tem os caminhões FM e FH GNL
- Mercedes-Benz ainda tímida no Brasil com gás mas tem ônibus urbanos GNV disponíveis em vários países