Segmento acumula perda de 12% no primeiro semestre em relação a igual período de 2022

Roberto Hunoff

Foto Banco de Dados, Divulgação

Ao contrário dos segmentos de automóveis e comerciais leves, que se beneficiaram com os incentivos do governo para aquisição de veículos zero quilômetro, as vendas de caminhões não reagiram. Dados divulgados pela Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) apontam recuo de 2,17% na comparação com maio e de 28,8% sobre junho do ano passado. Foram emplacadas 7.722 unidades, elevando para 50.352 o volume do semestre, em queda de 12% sobre igual período de 2022.

Para o presidente da entidade, Andreta Jr., embora o setor de transporte de cargas tenha sido contemplado com R$ 700 milhões, a atividade passa por um momento difícil. Cita como causas os juros elevados e o aumento da inadimplência, dificultando financiamentos de produtos Euro 6, em função dos novos preços. “O mercado tem mostrado cautela para finalizar a aquisição de veículos novos em função dos preços dos produtos com a nova tecnologia”, afirma.

Apesar de ter sido o segmento que mais recebeu descontos tributários, a medida provisória não gerou negócios. “Os profissionais autônomos, principalmente, aguardam o Programa Renovar, que está em discussão entre o governo e as entidades do setor, e que visa promover a renovação gradativa da frota”, reforça.

As vendas de chassi de ônibus seguiram o movimento de retomada dos emplacamentos, mesmo que partindo de uma base baixa e com um dia a menos em junho, justificativa para a queda de 5,5% sobre maio. O setor somou 2.115 unidades entregues, elevando para 13.399 o acumulado de seis meses, com alta de 46%. Sobre junho de 2022 o acréscimo foi de 22%. “São duas as razões para o incremento: turismo crescente com impacto nos ônibus rodoviários e o programa Caminho da Escola. Essa recuperação pode se intensificar, pois é esperada nova concorrência governamental para o programa escolar”, projeta. O único resultado que não se mostra ascendente é para os ônibus urbanos, que vêm perdendo espaço para as motocicletas como alternativa de transporte nas cidades.

Os implementos rodoviários registraram recuo de 4,6% em junho sobre maio, com 7.323 emplacamentos. Ainda assim, o acumulado do ano segue positivo em 4,5%, com total de 42.096 unidades entregues. Em relação a junho de 2022 a alta é de 5,5%. “O setor se descolou dos emplacamentos de caminhões, algo incomum nestes segmentos, que costumam apresentar comportamentos similares. Notamos que, apesar da queda nos emplacamentos de caminhões, os transportadores têm mantido o cronograma de investimentos em implementos”, analisa o presidente da Fenabrave.

Em junho, o mercado absorveu 37.674 unidades de comerciais leves, alta de 18% sobre igual mês do ano passado e recuo de 3% sobre maio. No semestre, o acréscimo é de 19,5%, com total de 201.077 emplacamentos. O segmento de automóveis foi o principal beneficiado com os incentivos. Foram vendidas 142.017 unidades, alta de 11,5% sobre maio, e 6,3% em relação a junho de 2022. O acumulado do semestre avançou 7%, totalizando 773.442 emplacamentos.

Os segmentos enfrentaram grande volatilidade por conta da edição da MP 1.175. “Iniciamos o mês com um volume tímido de emplacamentos, mas, após a publicação da medida provisória, houve um salto de movimento nas concessionárias, com algumas registrando aumento no fluxo de loja e de negócios de até 260%. Parte do volume vendido foi emplacada em junho, mas teremos a real dimensão do impacto da ação nas próximas semanas devido ao intervalo de tempo entre a venda do veículo e seu emplacamento”, analisa o presidente.

O volume total de vendas no segmento foi de 348.460 unidades em junho, alta de 10,3% na comparação com igual mês do ano passado e queda de 2,5% sobre maio. O resultado negativo sobre maio deve-se, principalmente, pelo recuo de 14% no segmento de motos, equivalente a mais de 20 mil unidades – os emplacamentos somaram 140.312. O acumulado do semestre subiu para 1.881.359 emplacamentos, incremento de 14%.

Entraves e novo programa

O presidente da entidade explica que alguns entraves inviabilizaram que o sucesso da medida provisória aparecesse mais em junho. Segundo Andreta Jr., o prazo médio entre o fechamento da venda de um veículo e seu emplacamento costuma demorar cerca de 15 dias. A isso soma-se o fato de que, após a publicação da MP, concessionárias e montadoras tiveram de realizar trâmites de ajustes de notas fiscais e alguns Departamentos Estaduais de Trânsito ainda enfrentaram problemas de lentidão em seus processos. “Esse cenário fez com que o salto nos emplacamentos fosse observado apenas na última semana do mês, mas já foi suficiente para termos um resultado melhor que o de maio. Isso nos mostra que os primeiros dias de julho poderão ser positivos, pois devem refletir emplacamentos de vendas realizadas e não registradas em junho”, analisa.

Com o fim dos recursos disponíveis no programa temporário, a Fenabrave demonstra preocupação com os resultados das vendas nos próximos meses. Nesse sentido prepara um projeto para apresentar ao governo federal a fim de oferecer uma solução que vise o crescimento sustentado para o setor automotivo, sem perdas de arrecadação. “A primeira iniciativa de impulso ao mercado de veículos foi um sucesso e tenho a certeza de que, junto ao Poder Público, encontraremos novas alternativas para buscar o crescimento contínuo”, ressalta.

Diante do cenário de incertezas, a entidade manteve as projeções de vendas para o ano em 3.664.829 unidades, alta de 3,3% sobre 2022. Para caminhões são 124.584 unidades, com crescimento zero; para ônibus, 22.953, alta de 5%; e, para implementos rodoviários, 74.866, recuo de 10%.

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