Logística verde deixa de ser tendência e se torna estratégia essencial para um Brasil sustentável
Redação TranspoData
Imagem, Divulgação
O setor de transporte e logística brasileiro está passando por uma transformação profunda. Em um cenário onde as mudanças climáticas são uma preocupação global crescente, a logística verde emerge como um imperativo estratégico para empresas que desejam manter sua relevância no mercado.
Brasil pode reduzir 68% das emissões de CO₂ até 2050
Um dado impressionante revelado em estudo recente apresentado no evento “Brasil Rumo à COP30” mostra que o setor de transportes brasileiro tem potencial para reduzir 68% de suas emissões de CO₂ até 2050.
“Com todas as alavancas, a gente descarboniza 110% do que o Brasil tem hoje em cargas de emissões, mas ainda não é o suficiente para chegar efetivamente ao ‘net zero’ em 2050”, afirmou Bruno Vasconcellos, sócio-diretor do Boston Consulting Group (BCG).
Considerando que o setor é responsável por aproximadamente 11% das emissões brutas nacionais, totalizando 260 milhões de toneladas de CO₂ em 2023, essa redução representaria um avanço significativo para as metas climáticas do país.
As três principais alavancas para a descarbonização
O estudo identificou 90 “alavancas para a descarbonização”, sendo que três delas têm maior impacto, com potencial de corte de 60% sobre as emissões:
- Mudança na matriz de transportes: Privilegiar modais de menor emissão como ferroviário e navegação marítima e fluvial
- Expansão do uso de biocombustíveis: Etanol, biodiesel e SAF na aviação
- Eletrificação de veículos: Ou adoção de novas tecnologias como o hidrogênio verde
Brasil: Potência Verde em potencial
O Brasil ocupa uma posição privilegiada nesse cenário de transformação, sendo reconhecido internacionalmente como um “Green Power House”. O país se destaca pela:
- Pluralidade de fontes de energia renovável
- Liderança mundial na produção de biocombustíveis, como o etanol de cana-de-açúcar
- Potencial para adoção de combustíveis alternativos nos transportes
Além disso, o Gás Natural Veicular (GNV) apresenta-se como uma alternativa importante para o segmento de veículos pesados, como ônibus e caminhões, sendo menos poluente que o diesel e disponível a preços acessíveis.
Estratégias práticas para uma logística mais verde
- Otimização de rotas e transporte
A otimização de rotas visa minimizar o impacto ambiental e urbano das operações de transporte. Esta abordagem contribui diretamente para a redução da emissão de gases poluentes e pode ser implementada com o auxílio de softwares especializados que calculam rotas mais eficientes.
- Diversificação de modais
A transferência da carga para modais ferroviário, dutoviário, hidroviário e de cabotagem pode gerar significativas reduções nas emissões. Os trens, em comparação com outros meios de transporte, emitem menos gases de efeito estufa e consomem menos recursos naturais.
- Pontos de distribuição estratégicos
A implementação de pontos de distribuição em locais estratégicos e sistemas de cross-docking reduzem o tempo de armazenamento e o deslocamento. Estas iniciativas, aliadas a uma frota sustentável, têm por objetivo reduzir a pegada de carbono gerada a partir das operações de transporte.
- Integração tecnológica
A integração da tecnologia através de sistemas de informação que permitem o monitoramento em tempo real das operações é primordial para a eficiência e sustentabilidade das cadeias de suprimentos. O uso de sensores e algoritmos de análise preditiva reduzem a necessidade de movimentação excessiva de mercadorias.
Empresas brasileiras que lideram a transformação verde
No cenário brasileiro, algumas empresas já se destacam pela adoção de práticas de logística verde:
- Natura: Implementa práticas sustentáveis em sua cadeia de suprimentos, utilizando embalagens recicláveis e incentivando a logística reversa.
- Ambev: Investe em transporte sustentável, utilizando veículos movidos a gás natural e otimizando rotas de entrega. Possui programas robustos de reciclagem para embalagens.
- Magazine Luiza: Implementa práticas de logística reversa, facilitando a devolução e o reaproveitamento de produtos e embalagens.
Desafios a superar
Apesar do potencial e dos avanços, a implementação da logística verde no Brasil enfrenta desafios significativos:
- Custos elevados para aquisição de veículos elétricos
- Integração tecnológica em larga escala
- Falta de infraestrutura de abastecimento, como estações de recarga
- Necessidade de métricas de acompanhamento das reduções de impacto ambiental
Uma legislação nacional sobre as emissões de escopo 3 que incluem as cadeias de valor das empresas, somada a um mercado de carbono funcionando, poderia promover incentivos para os investimentos necessários em tecnologia e infraestrutura.
O Futuro é verde
O futuro da logística verde no Brasil depende de um equilíbrio entre iniciativas privadas, políticas públicas e avanços tecnológicos. A crescente pressão por práticas sustentáveis indica que empresas que não se adaptarem podem enfrentar desafios significativos.
As empresas que adotam práticas de logística verde não apenas melhoram sua reputação, mas também contribuem para a redução de custos operacionais a longo prazo, ao otimizar processos e utilizar recursos de maneira mais inteligente.
A descarbonização no transporte de cargas não é apenas uma tendência, mas uma necessidade urgente para um futuro sustentável. E o Brasil, com seu potencial único em energias renováveis e biocombustíveis, tem todas as condições para liderar essa revolução verde na logística global.