Marca japonesa indica, pela primeira vez, em 49 anos, brasileiro para o cargo de presidente da unidade fabril no país
Roberto Hunoff
Fotos Komatsu, divulgação
Com atuação na fabricação e no fornecimento de equipamentos, tecnologias e serviços para os mercados de construção, florestal, mineração e industrial, a marca japonesa Komatsu consolidou vendas superiores a R$ 150 milhões durante a realização da M&T Expo 2024, em abril, em São Paulo. Com base no resultado e nas negociações encaminhadas, a expectativa da diretoria é fechar o ano com aumento de 3% a 4% sobre 2023, um pouco abaixo das estimativas de 6% a 7% da Sobratema (Associação Brasileira de Tecnologia para Construção e Mineração).
Paulo Torres, diretor de vendas e marketing da divisão de equipamentos de construção, entende que a projeção da entidade é otimista demais, embora admita que ela é atingível. A principal expectativa do executivo é com os dois próximos exercícios. “Os anos de 2025 e 2026 serão de grande movimentação no mercado de máquinas em geral. Logicamente, que o impulso forte na construção dependerá de investimentos do Estado e, na mineração, da liberação de licenças. Esta não é uma situação simples, pois tem uma tramitação mais longa, que toma tempo”, analisa.
Mesmo com índice inferior ao do mercado, Torres define a projeção da empresa para 2024 como boa diante da demanda interna da construção. Na mineração são vários projetos de grande porte em andamento, mas, por características do mercado, têm um ciclo diferente e mais longo. Torres reconhece que, na virada do ano, a empresa vislumbrava um cenário ainda mais contido em função dos altos juros e incertezas de 2023. “Mas já no primeiro bimestre, o mercado se mostrou mais aquecido”, frisa.
Torres vislumbra no segmento de locação uma grande oportunidade para negócios, essencialmente nas máquinas para construção, pois as voltadas à mineração são vendas diretas ao cliente, sem intermediação de concessionários. O executivo avalia que, em função dos juros altos do ano passado, as empresas estão optando por colocar o capital em investimentos mais estratégicos e não em ativos, o que torna o mercado de locação muito atrativo. Segundo o diretor, a Komatsu não deve investir em operação própria para locação, como outras marcas vêm fazendo, deixando a atividade para os concessionários, atualmente sete, com várias lojas cobrindo todo o território nacional.
Brasileiro no comando
Desde abril, a unidade fabril da Komatsu é comandada por um brasileiro. Jeferson Biaggi (foto), que atuava como vice-presidente há cinco anos, foi designado para a função de presidente. O movimento representa uma mudança histórica, pois é a primeira vez, em 49 anos de atuação no país, que a subsidiária tem um brasileiro à frente. Até então, a presidência era sempre ocupada por executivo japonês, vindo como expatriado para o Brasil.
A fábrica se consolida como uma das mais importantes do grupo no mundo, reportando diretamente ao Japão, ao mesmo tempo em que reforça o compromisso com o desenvolvimento de produtos adaptados às necessidades locais e regionais. Nesse sentido, um dos principais focos será o crescimento em pesquisa e desenvolvimento locais. De acordo com Biaggi, o plano é aumentar em 50% o quadro de engenheiros de produto na unidade fabril em 2024, visando impulsionar o lançamento de novos modelos desenvolvidos no Brasil para exportação global.
Alinhado a esse movimento, a empresa planeja expandir em 7% a produção neste ano para atender à demanda estimada de crescimento no mercado brasileiro. Até 2026, o objetivo é adicionar 10% à capacidade atual por meio de investimentos em novas linhas de robôs de solda, máquinas de usinagem e outras melhorias. “O Brasil tem um papel fundamental no desenvolvimento conjunto com a engenharia do Japão, uma vez que a fábrica local exporta para toda a América Latina, Estados Unidos, Mercado Comum Europeu e África, representando 40% da produção total”, afirma Biaggi.
Com foco no agronegócio, que representa 30% das vendas de linha amarela, e na infraestrutura, com 70%, a Komatsu do Brasil está preparada para atender às necessidades de um país com enorme potencial de crescimento nesses setores. “O Brasil é o sexto maior mercado global de máquinas rodoviárias e ainda tem números expressivos para avançar”, comenta o novo presidente. Inaugurada em 1975 em Suzano (SP), onde segue até hoje, a fábrica brasileira foi a primeira fora do Japão.
Novos produtos
A M&T 2024 foi o palco para a apresentação de lançamentos por parte da Komatsu. Uma das novidades é a escavadeira hidráulica PC200-10M0, desenvolvida para atender atividades mais leves, como terraplenagem, construção de prédios e obras de infraestrutura urbana. A empresa aponta como principal diferencial a maior produtividade em comparação com outras máquinas da mesma categoria. A escavadeira hidráulica PC360LC-8M2 foi projetada especialmente para a construção pesada e mineração de agregados, com melhorias em segurança, produtividade, manutenção e conforto do operador.
Outra novidade é o Smart Construction Retrofit Kit, um sistema de tecnologia embarcada utilizado em escavadeiras para tornar a operação mais precisa e rápida, trazendo mais eficiência. Intuitivo, o sistema guia o operador por meio de uma tela, mostrando, por exemplo, se a máquina está aterrando ou escavando no local correto ou se a escavação está de acordo com a inclinação determinada no projeto topográfico.
Segundo a empresa, a tecnologia traz um ganho de eficiência de até 52% em operações de terraceamento e projetos de drenagem e de até 39% em terraplanagem, quando comparados com métodos convencionais. “O diferencial é que o sistema opera via satélite, sendo mais rápido e fácil de usar do que outras soluções do mercado”, de acordo com Paulo Torres. Anteriormente, o sistema se limitava a equipamentos para mineração. Agora, se estende também às máquinas para construção.