Jeep Gladiator: Robusta, tecnológica e verdadeiramente capaz de encarar qualquer tipo de terreno possível para um veículo 4×4 mas tudo isso tem um preço: R$ 500 mil reais
Mauro Cassane
Imagem, Divulgação
Lançada em agosto do ano passado, a picape Jeep Gladiator é um legítimo representante do legado da marca que, há 80 anos, lançou o icônico Jeep. Lembra tanto seu tataravô que mais parece que a alta engenharia pegou o famoso jipinho e resolveu fazer a versão dos sonhos tanto para os aficionados por jipes como para a nova geração de picapeiros que tem como hobby encarar trilhas inacessíveis a veículos 4×4 convencionais. Junto com a picape Gladiator a Jeep também lançou o novo Wrangler que é, sem si, o tataraneto do Jeep primordial.
Mas que fique claro logo de cara: ambos custam meio milhão de reais. Sim, um valor salgado e nem se trata tanto de luxo mas evidentemente de alta tecnologia que transforma esses dois veículos em “monstros” do universo “off road”. Esses dois modelos foram cuidadosamente pensados para, verdadeiramente, encarar qualquer tipo de terreno. São tratores vestidos de carro de luxo. E, convenhamos, tratores e carros de luxo são produtos acessíveis a quem tem, e de sobra, muita grana.
Avaliamos em Transpodata da versão picape Jeep Gladiator. E, sem enrolação, vamos dar logo no início um veredito para os frotistas que buscam uma picape de luxo e que encare genuína aventura “off road”: se é essa sua pegada, a Gladiator é sua melhor opção. E o que essa picape entrega em performance (especialmente “off road”), conforto, dirigibilidade e flexibilidade, justifica o valor que a Jeep bota como preço referencial.

A Jeep Gladiator é mesmo um Jipe modernizado e vestido com mais elegância e refinamento. A versão que a Stellantis apesentou ao mercado brasileiro vem com renovação na grade frontal, rodas, interior, com nova centra multimidia, painel frontal, saídas de ar e novos bancos (em couro e com costuras reforçadas e visíveis) elétricos dianteiros. A versão “Rubicon” é a topo de linha e traz equipamento exclusivos tanto de conforto como, também, para proporcionar uma experiência “off road” diferenciada.
O que faz essa diferenciação na terra é a robusta tração 4X4 Rock-Trac certificada pelo selo, criado pela própria Jeep, cujo nome é “Trail Rated”. Esse é o atestado que garante que a picape Gladiator encara mesmo qualquer tipo terreno. E, pode acreditar, esse selo a Jeep não dá para todos os seus modelos. É algo bem sério.
Outro item que chama atenção nessa picape é que ela é movida a gasolina. O Jeep Gladiator vem equipado com um motorzão V6 de 3.6L que desenvolve 284 cv de potência com 347 Nm de torque. Na estrada impressiona como um esportivo agora, na terra, além do silêncio, trabalha mesmo como um trator. O motor se harmoniza com a transmissão ZF automática de oito velocidades e as trocas são certeiras, curtas e quase imperceptíveis. Economia não é bem seu forte, aferimos, na média entre 60% estrada, 10% cidade e 30% terra, 4.9 km/l.
Já o interior da Gladiator, bem ao estilo jipão mesmo, embora o conforto mereça destaque, espaço não é o ponto forte. Os bancos são bem anatômicos, a ergonomia é justa, mas é notório que, na comparação com as demais picapes do mercado, até mesmo as médias pequenas, a Gladiator fica para trás no quesito espaço. Mas, claro, é jipe, é um carro pensado para encarar desafios onde outros, por certo, não chegariam nem perto.
A robustez cobra seu preço, naturalmente, sacrificando espaço interno.


Agora, falando do interior: o espaço interno da Gladiator Rubicon revela bom acabamento, materiais de toque acima do que se veria em picapes utilitárias tradicionais, mas também mostra o compromisso com o off-road — botões metálicos robustos, alavancas de 4×4 e reduzida à vista, bancos com revestimento de qualidade, central multimídia grande, conectividade e opcionais de conforto que ajudam a tornar o carro usável no dia-a-dia (apesar de sua vocação aventureira). O túnel de transmissão é alto, refletindo a arquitetura 4×4 pesada, o que impacta a posição de condução e acentua a percepção de “veículo bruto”. A visibilidade geral é boa, embora as dimensões maiores exijam atenção em manobras urbanas.
Do ponto de vista técnico, a robustez se sente: a suspensão reforçada, os eixos Dana de grande porte, a barra estabilizadora desconectável eletronicamente para maior articulação, e o sistema Rock-Trac® com reduzida ajudam a explicar que esta picape não é apenas “uma caçamba sobre chassi”, mas sim um 4×4 preparado para trilhas sérias. Em estrada, o comportamento é competente, embora não tão refinado quanto SUVs premium voltados para uso urbano. O peso, o centro de gravidade mais alto e a proposta off-road costuram uma condução que exige domínio e paciência — não é o tipo de veículo para quem espera leveza ou agilidade de carro híbrido. Os freios, o sistema de direção, a ergonomia evidenciam que os projetistas privilegiaram a aventura, o desafio fora de estrada, antes da economia de combustível ou da manobrabilidade urbana.
Um ponto de destaque curioso é que portas e teto são removíveis — algo cada vez mais raro em veículos de preço elevado no Brasil. Isso confere à Gladiator Rubicon um caráter “open-air” de verdade — você pode rodar com o teto removido, praticamente como um utilitário de lazer. É uma função cara — e que poucos vão usar regularmente —, mas reforça o posicionamento da picape: ela é para quem quer sentir mais do que simplesmente ter um veículo.
Parte do que ajuda a entender o preço da Gladiator Rubicon está em seu pacote técnico. A picape carrega uma engenharia que foge completamente dos parâmetros usuais de picapes médias. O sistema de tração Rock-Trac 4×4 com reduzida de 4:1 e crawl ratio de 77:1 foi pensado para situações de baixa velocidade e máxima aderência, oferecendo força bruta para vencer obstáculos extremos sem exigir aceleração excessiva. O bloqueio eletrônico dos diferenciais Tru-Lok® permite travar os eixos dianteiro e traseiro para garantir que as rodas girem em sincronia — essencial em lama, areia fofa ou rampas de pedra onde um simples giro em falso compromete o avanço. Esses recursos, somados à desconexão eletrônica da barra estabilizadora (que aumenta a articulação da suspensão em até 30%), mostram que o preço reflete capacidade mecânica real, não apenas estética.


Outro ponto é a estrutura de proteção e reforço que cerca toda a Gladiator. Os eixos Dana 44, os Rock Rails laterais de aço e os protetores inferiores metálicos protegem cárter, transmissão, tanque e caixa de transferência, transformando o veículo em uma fortaleza sobre rodas. Em complemento, a TrailCam frontal — câmera off-road integrada — permite visualizar o terreno logo à frente dos pneus, algo muito útil em subidas cegas ou passagens estreitas. Os ganchos de reboque dianteiros e traseiro e o sistema Hill Descent Control completam o pacote de segurança e praticidade em trilhas, entregando confiança ao motorista em terrenos que outras picapes não ousam enfrentar.
E se o espaço interno não é o ponto forte, a caçamba funcional de 1.000 litros, com porta de três posições, e tomada elétrica de 220 V e ganchos móveis de fixação, faz a compensação a favor da Gladiator. A capacidade de reboque surpreende pois é de 3.138 kg o que deixa claro que a Gladiator é tão forte quanto refinada.
Junte a isso um interior com central multimídia Uconnect de 12,3”, sistema de som Alpine, bancos de couro elétricos e vidros acústicos, e tem-se um produto que une conforto premium à rudeza de um autêntico off-roader. O preço próximo de meio milhão de reais, portanto, encontra respaldo técnico: a Gladiator é um veículo que não finge ser robusto — ela realmente é.













