Por Gregori Boschi   

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Muito se discute sobre o futuro do mercado de transporte de carga rodoviário e as rotas para a descarbonização, e pouco se comenta da importância dos caminhoneiros autônomos e o papel fundamental que lhes cabe em qualquer estratégia.

O mercado de caminhões possui uma frota circulante de aproximadamente 2,2 milhões de veículos com peso bruto total superior a 3,5 toneladas, com idade média acima de 12 anos. Mais de 60% desta frota possui 11 anos de idade – em 2014, veículos com mais de 11 anos representavam menos de 40% (Relatório de Frota Circulante – SINDIPEÇAS), revelando envelhecimento da frota. Outra informação importante é que a parcela de caminhões com menos de 5 anos diminuiu consideravelmente nos últimos 10 anos (de 38% para menos de 24%).

Os autônomos representam cerca de 67% do mercado de caminhões, de acordo com dados da CNT. Por característica, possuem menor acesso ao crédito, menor poder de barganha e são detentores dos veículos com idade média mais elevada – por volta de 20 anos. Para descarbonizar é essencial criar condições favoráveis aos autônomos, por meio de linhas de crédito específicas e taxas de financiamento especiais que favoreçam a renovação da frota.

Olhando pelo retrovisor, foram as preocupações ambientais legítimas que incentivaram as evoluções técnicas no mercado de transporte, por meio do Proconve (Programa de Controle de Emissões Veiculares) – que regula emissões de gases de efeito estufa, mas não controla dióxido de carbono (CO2). A missão de descarbonizar o transporte pesado será do Programa MOVER, que possui um conjunto de medidas para reduzir as emissões, contudo ainda não estabeleceu metas.

Reduzir a intensidade de carbono dos energéticos e substituir combustíveis fósseis por renováveis é uma das rotas para a descarbonização e, possivelmente, a mais vantajosa para o meio ambiente a curto prazo, pois permite a mitigação dos impactos para toda a frota, garante a isonomia entre autônomos e grandes frotistas, sem a necessidade de substituição do veículo, atende a anseios da sociedade, a pressão social de fundos ESG e incentiva aspectos regionais como a produção de biogás, biometano para próprio consumo, enquanto infraestrutura para elétricos, armazenamento e distribuição de hidrogênio e reciclagem e reuso de baterias não avançam.

Resumidamente será muito importante ter um olhar para as sinergias de produto global e conexão com as cadeias de fornecimento, pela questão da escala, a fim de favorecer o custo de produção, sem perder o foco na regionalização e vantagens nacionais – matriz energética 93% renovável (EPE – relatório síntese), vocação para biocombustíveis renováveis e possibilidades de produtos de nicho que favoreçam as tecnologias locais já existentes.

Fonte: [BIM]³
Considerando todos estes elementos apresentados e um arrefecimento a adoção das novas tecnologias nos países desenvolvidos, se não for estimulada a renovação da frota para os caminhoneiros autônomos, e o desenvolvimento de soluções locais e de nicho, apenas os grandes frotistas terão condições de aquisição de produtos novos com maior tecnologia embarcada – potencialmente importada pelas questões de escala – isto poderá estabilizar o mercado local em uma produção anual de 125 mil caminhões até 2030, com baixa competitividade para exportação.

Fonte: [BIM]³
(*) Gregori Boschi é fundador da [BIM]³ – Boschi Inteligência de Mercado

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