Urubatan Helou, Diretor Presidente da Braspress, é um empresário que tece sua própria jornada e tem motivos de sobra para celebrar os 46 anos da companhia, que fundou em 1977 e atualmente conta com 116 filiais. Com seu perfil empreendedor aos 72 anos, Urubatan esbanja vitalidade e tem uma presença muito forte no setor de transportes e logística.
Tayguara Helou, é formado em administração de empresas, com ênfase em Finanças, pela Bond University, na Austrália, pós-graduado em gestão de negócios, pelo Holmes College, também na Austrália; MBA em Gestão Empresarial, pela FGV. Tayguara finalizou seu segundo mandato à frente da Setcesp, entidade que congrega mais de 20 mil transportadoras do Estado de São Paulo, no final do ano passado. Sob sua diração, a entidade passou por forte processo de inovação tecnológica se tornando mais digital e inclusiva. Atualmente é o Diretor de Desenvolvimento e Novos Negócios da Braspress.
Tayguara Helou, que desde adolescente frequentava a Setcesp, como também passava férias na Braspress, empresa criada e comandada por seu pai, Urubatan Helou, tornou-se o primeiro passo para tomar gosto pelo o negócio e decidir dar continuidade aos negócios da família.
Nessa entrevista exclusiva, fruto de uma conversa descontraída que tivemos em nosso estúdio, na gravação da edição de julho de Transpodata, foi rica em conteúdo e, também, muito assertiva como o papel coorporativo familiar e o sucesso da continuidade dos negócios no transporte rodoviário de carga no Brasil.
TranspoData: Quando a Braspress foi fundada?
Urubatan: A Braspress foi fundada em 1º de Julho de 1977, na verdade ela começou operar em 1º de Julho de 77. A Braspress hoje opera em todo país, com 116 centros de distribuições em todo país e 9 mil colaboradores. Fazemos 150 entregas por minuto, manuseamos um milhão de pacotes para o Brasil inteiro por semana. Então a movimentação é muito grande, só o ano passado o grupo Braspress manuseou e transportou 60 bilhões de reais em valor de mercadoria.
TranspoData: Tayguara, em qual momento você decidiu entrar nos negócios da família?
Tayguara: Eu acho que não é uma decisão trabalhar no negócio da família, é uma série de vivências primeiro, de experiências e depois de uma série de decisões. Não é um projeto empresarial.
Primeiro, acho que é um gosto pelo negócio, pelo ambiente. E uma das coisas que meu pai fez no passado que foi muito assertivo, foi nunca levar eu e meu irmão de castigo para empresa. Então, não era um lugar que eu ia de castigo, era um lugar para se divertir, um lugar agradável de ir. Acho que assim começa a lapidar um pouco o perfil para o futuro.
Quando eu terminei o colegial aos 19 anos, eu decidi fazer um intercâmbio e ir para Austrália, quando cheguei lá, as coisas foram dando certo, acabei entrando na faculdade e acabei morando lá por 4 anos. Mas quando eu estava na metade da faculdade eu comecei a observar que não encontrava grandes oportunidades de trabalho. Eu acompanhei a vida, a história do meu pai e vi o quanto que ele lutou para construir tudo isso. Nesse momento, o garoto que saiu da escola adolescente, surfista, que foi para a Austrália estudar com os amigos, entrou na faculdade, aprendeu técnicas de gestão de negócios, percebeu que oportunidade estava aqui e que eu precisava de fato ajudar meu pai a dar sequência nos negócios que foram criados e construídos ao longo do tempo. O CPF a gente sabe que um dia vai para um lugar e a gente espera que seja um lugar melhor, mas a marca e o CNPJ podem ficar aqui eternamente. Então cabe a nós, gerações, manter o legado e multiplicá-lo.
TranspoData: Urubatan, você incentivou seus filhos a trabalharem com você, como uma opção de manter os negócios da família?
Urubatan: Eu não tinha tempo pra isso. Eu fiz renúncias absurdas para poder criar o que nós criamos e eu não tinha tempo para dizer você vai ou não vai, você faz você ou não faz. Nem pensava nisso, na verdade, eu percebi que foi gerado os exemplos, no dia que eu ganhei dos meus filhos um busto de um homenzinho de terno e gravata com uma pasta na mão. Quer dizer, naquele momento eu tive a sorte de que o exemplo foi eficaz. Porque na verdade, o jovem, é um livro em branco para escrever uma história. Mas eu não me preocupei em fazer essa escrita, eu não me preocupei em fazer uma formação para eles. Eu me preocupava em fazer os negócios para que os negócios pudessem efetivamente trazer recursos para que nossa família pudesse viver em um certo conforto, com dignidade etc… E essa aplicação ao trabalho e aos negócios passaram a gerar exemplos.
Enquanto crianças, eles ficavam no pátio, ficavam na oficina, que não tinha tantos recursos. Hoje nós temos respectivamente um plano de manutenção que está no estado da arte mas naquela época não existia, eles voltavam sujos de óleo e de barro para casa. Às vezes ficavam na plataforma recebendo mercadorias, corrigindo peso e volume e quando chegavam as férias, eu perguntava para eles se eles queriam ir para a empresa e eles falavam: lógico pai, vamos! E aí, foram adquirindo gosto. Até porque é muito fácil adquirir gosto pela logística, pois ela não é estática, ela é dinâmica e isso apetece o jovem, que é motivado por desafios. Eles foram se formando, e mais tarde eles começaram a frequentar o SETCESP quando eu era o presidente. Em 2004 eu recriei a COMJOVEM e meus filhos passaram a frequentar essa entidade também também. Ou seja, o melhor conselho é o exemplo.
TranspoData: Urubatan, você já pensava em sucessão?
Urubatan: Não, eu não penso em sucessão. Eu queria criar jovens empresários, jovens de liderança que pudessem cuidar das entidades dali pra frente. Os caminhos se abrem, mas se você aplicar muitas orientações, você talvez passará vícios adquiridos ao longo dos anos. Todos nós, principalmente os homens da minha geração, que nasceram na década de 50, trazem seus vícios, suas falhas, seus conceitos, que nem sempre são os conceitos mais atuais e mais eficazes. Então é preciso deixar que a nova geração encontre o seu próprio caminho, deixar que eles traçem suas próprias histórias para que isso possa efetivamente caleja-los, para assim termos jovens empresários, a exemplo do Tayguara, que não tem cabelo branco mas tem a experiência de tal e tem a competência de tal, quer dizer, você conseguir aliar essas duas coisas é efetivamente muito bom. Mas não houve um planejamento estratégico, houve uma sensibilidade para quê isso pudesse ocorrer e quando você faz pela sensibilidade você pode acertar, você pode errar e felizmente acertamos, deu certo, funcionou!
TranspoData: Você acha que a sucessão familiar pode trazer riscos para uma empresa?
Urubatan: Tem empresas no nosso setor que quebraram por falta de uma sucessão correta Se eu tiver que recitar um rosário de empresas que quebraram por uma por uma sucessão mal feita, vamos ficar aqui o dia inteiro falando. Mas você sabe por que elas se quebraram? Porque foi uma sucessão imposta. Quando você tem uma sucessão imposta aquilo vira fardo. Quando você tem uma sucessão que ocorre pelos meios naturais e pela escolha do sucessor ela acontece de forma simples, ela acontece de forma fácil. Eu nunca tive que impor sucessão. O meu jeito de ser é o seguinte, o que nós vamos fazer? Você acha que isso vai dar certo? Vamos tentar. Errou? Vamos consertar? E as coisas vão acontecendo de forma serena, sem trauma, sem conflito e sem confronto.
TranspoData: Como é trabalhar em família em uma empresa como a Braspress?
Urubatan: Amigo, não deu certo não, deu certo! Vamos tomar uma providência, até porque é o seguinte: toda iniciativa é absolutamente válida até quando ela é errada. Porque quando ela é errada você tem oportunidade de saber que aquele ponto esta errado e você tem tempo de corrigir. Agora pior mesmo é a inércia, porque na verdade é o seguinte: se você ficar parado com os braços cruzados nada vem ao seu encontro você precisa ir ao encontro das coisas. Quem não faz nada, nunca erra. Eles foram inseridos dentro do negócio, se eles errarem é porque eu também erraria. Porque não há uma diferença de experiência.
Tayguara: Eu acho que o trabalho em família, não é uma ciência exata, mas tem muita gente que encara assim. Coloca pilares muito definidos e diretos ao ponto. Nós só aprendemos todos os dias que se dedicar aos negócios, é mais do que só um compromisso, a gente vive isso realmente como um estilo na nossa família. Porque a gente pensa que nos estamos trazendo um valor para a sociedade brasileira, para a economia brasileira, estamos ajudando também as nove mil famílias que estão envolvidas dos nossos negócios, estamos pensando em nossos filhos, pensando nas próximas gerações.
TranspoData: Qual é a receita para a Braspress ter tanto sucesso no setor de transportes?
Urubatan: O mundo está se transformando. Aquilo que eu já passei muito provavelmente não seja a receita para uma nova fórmula, que esta sendo criada pela nova geração. A velha geração é espectadora das novas fórmulas. Se eu, Tayguara, o Júnior ou minha família nos afastarmos por alguns meses da nossa empresa quando nós voltarmos, a empresa estará no seu trilho. Nós não criamos um negócio que efetivamente vá nos escravizar, nós riamos um negócio que é o benefício das nove mil pessoas que trabalham nessa companhia. Portanto ela não pode depender apenas de um Tayguara, ela não pode depender apenas de um Urubatan Junior e muito menos de Urubatan Sênior, que do alto dos seus 72 anos de idade não tem mais disposição e nem saúde para fazer longos expedientes. Então você tem que criar um planejamento que possa efetivamente ser automatizada, que ela possa fluir, por que a responsabilidade com essas 9 mil pessoas, tem que ser muito maior do que o seu próprio ego. Não tem um ano que nós não tenhamos experimentado crescimento, não tem um ano que nós não tenhamos experimentado resultado positivo, não tem um ano em que nós não ampliamos a nossa massa humana dentro da empresa, não tem um ano que nós deixamos de construir um novo terminal, não tem um ano que nós deixamos de investir em tecnologia a receita está pronta, essa é a receita.
Tayguara: Ninguém construiu isso, tudo foi resultado de erros e todas as vezes que você erra você tem oportunidade de consertar e quando você conserta, você criou a primariedade daquela solução, porque o conserto real ele vai começando acontecer na evolução, ao longo do tempo. E é por isso que temos o sucesso da Braspress.
TranspoData: Com tanta experiência na família, vocês pensam em novos negócios juntos?
Urubatan: Enquanto o Tayguara estava no SETCESP eu criei uma empresa, uma factoring para fazer operação para os nossos clientes, com desconto direitos creditórios, etc. Tayguara saiu do SETCESP e criou o Urbano Bank, uma empresa de sistema de financiamento. Ele fez uma revolução nesse negócio, que está operando dentro do nosso próprio ecossistema. Não é que ele está escolhendo o caminho, ele está estruturando uma coisa para eventualmente olhar para outra. O Júnior está ali todo dia olhando a frota, uma frota de 3.000 unidades, ele criou um sistema de governança corporativa e de gestão em nosso sistema de frotas. Você não vê um caminhão sujo ou parado no acostamento e olha que nós verticalizamos 85% das nossas transferências em detrimento, inclusive dos autônomos que nós tínhamos. A mesma coisa está acontecendo hoje no nosso braço financeiro, que está sendo comandado pelo Tayguara. Nós acabamos de comprar uma empresa de tecnologia na área de sistema financeiro que está criando uma plataforma tecnológica para o Urbano Bank que nos colocará eu acho que nesses 15 meses, 24 meses, na vanguarda de fintechs brasileiras.
TranspoData: O que faz o Urbano Bank? Como funciona?
Tayguara: O Urbano Bank é uma fintech que potencializa e melhora o ecossistema de empresas, ou seja, dar suporte a fornecedores, colaboradores e clientes. O Urbano Bank estendeu seus conhecimentos em Gestão Empresarial e Financeira a todos os ramos e buscamos potencializar os negócios de nossos lientes na relação com seus parceiros, fornecedores e seus colaboradores, onde oferecemos todos os benefícios de uma conta digital completa, serviços financeiros e de gestão empresarial.
TranspoData: Qual conselho vocês dão para as pessoas que querem começar a empreender no setor de transportes?
Urubatan: Eu sou um testemunho da história e se eu puder dar um conselho para alguém é o seguinte: não faça nada por dinheiro porque quando você faz a coisa por dinheiro você torna isso, quase que é obrigatório. Faça por desejo de fazer, faça por desejo de realizar e faça por amor. Quando você coloca amor e sentimento naquilo que você está fazendo, ele acaba dando dinheiro durante o processo, por que você faz muito bem feito. Quer dizer não é o dinheiro que tem que te mover, o que tem que te mover é a paixão.
Tayguara: Então, o dinheiro, é uma parte importante, mas não pode ser o objetivo principal do seu crescimento e do desenvolvimento de seus negócios. Dedicação, é o meio básico, além da honestidade e sempre olhar e valorizar suas pessoas. Busque aquilo que você tem admiração para fazer. Admiração é matéria-prima do amor e quando você ama alguma coisa você faz e pode ter certeza de que o resultado vai ser muito positivo. Persista, por que os obstáculos sempre vão existir, insista e tenha coragem.
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