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Seguro obrigatório na ANTT — Um divisor de águas para transportadoras e autônomos

Nova regra da ANTT impõe seguros obrigatórios e inaugura uma fase de maior formalização no transporte de cargas

Redação TranspoData

Imagem, Divulgação

Recentemente, a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) reforçou suas normas para exigir seguros obrigatórios de transportadoras e caminhoneiros autônomos. Trata-se de uma mudança regulatória que já está em vigor, e que vem provocando consequências importantes — financeiras, operacionais e jurídicas — no setor de transporte rodoviário de cargas. Confira o que mudou, quem é afetado, quais são os principais desafios e como o mercado pode se adaptar.

O que mudou?

Novas normas 

  • A Lei nº 14.599/2023 – chamada de Marco Legal do Transporte Rodoviário de Cargas – já previa alguns seguros obrigatórios, mas não havia clareza ou fiscalização suficiente para garantir sua aplicação efetiva em todas as operações.

  • A Resolução ANTT nº 6.068/2025, publicada em 17 de julho de 2025 e com vigência a partir de 18 de julho, formalizou a obrigatoriedade expressa dos seguros RC-DC (Responsabilidade Civil por Desaparecimento de Carga) e RC-V (Responsabilidade Civil de Veículos), que se juntam ao já exigido RCTR-C (Responsabilidade Civil do Transportador Rodoviário de Carga).

  • A Portaria SUROC nº 27/2025, de 7 de agosto de 2025, definiu os procedimentos para comprovar que esses seguros estão contratados e válidos. Ela exige que transportadores, cooperativas e autônomos mantenham os seguros ativos para emitir ou renovar o RNTRC (Registro Nacional dos Transportadores Rodoviários de Cargas). A ausência de comprovação pode levar à suspensão do registro.

Prazos de adaptação e fiscalização

 

 

  • A fiscalização normativa começou em julho de 2025, com foco inicial em orientações e adequações.

  • A fiscalização eletrônica plena, que cruza dados de apólices via sistemas como o MDF-e, será implementada a partir de 6 de outubro de 2025.

  • O prazo final para adaptação completa — incluindo o envio automático das apólices pelas seguradoras à ANTT — foi definido para 10 de março de 2026.

Responsabilidades adicionais

  • Em casos de subcontratação de autônomos (TAC – Transportadores Autônomos de Carga), a responsabilidade pela contratação dos seguros obrigatórios pode recair sobre o contratante do serviço. Ou seja: mesmo autônomo que presta serviço para transportadora ou empresa pode ter cobertura exigida por quem contrata.
  • A fiscalização passará a incluir formas eletrônicas/digitais de comprovação. Não basta só ter o seguro; é necessário manter documentação em dia, autorizar quando necessário o acesso de dados e obedecer às normas da ANTT.

Quem é afetado e como?

Transportadoras de porte médio e grande

  • Essas empresas normalmente já dispõem de apólices de seguro, mas terão de rever cláusulas, prazos e coberturas para cumprir os novos requisitos — por exemplo, garantir que o RC-V esteja ativo, algo talvez menos utilizado antigamente.
  • Também há impacto nos custos operacionais (prêmios de seguro, gestão documental, auditoria interna), que possivelmente serão repassados aos clientes/fretes.

Caminhoneiros autônomos

  • Autônomos que não têm MEI ou estrutura formal — ou que operam com seguros mínimos — serão os mais prejudicados: os valores dos prêmios e das apólices podem representar uma parcela significativa das despesas fixas.
  • Além disso, muitos não estavam plenamente cientes dessas exigências ou não sabiam como proceder para manter tudo regularizado. Isso pode gerar problemas práticos, como o registro suspenso ou impossibilidade de contratar fretes de empresas que exijam conformidade.

 

Consequências para ambos os lados

  • Aumento do custo do frete: Com os seguros obrigatórios mais amplos e fiscalização mais rigorosa, os custos para operar aumentam, o que pode fazer com que transportadoras reajustem os preços ou repassem parte desse custo para quem contrata o frete.
  • Maior formalização: Transportadoras e autônomos serão forçados a se organizar melhor — documentalmente, financeiramente e no cumprimento de normas — para evitar penalizações.
  • Risco de perda de mercado: Aqueles que não se adequarem podem ser excluídos de contratos com grandes embarcadores, que tendem a exigir segurança jurídica e proteção contra riscos.

Principais desafios enfrentados

  1. Custo elevado dos seguros
    Prêmios mais caros para seguros mais abrangentes, ou para autônomos que possuem veículos mais antigos ou que operam em rotas de alto risco.
  2. Informação e conscientização insuficientes
    Nem todos os autônomos sabem das novas exigências, nem como contratar ou manter seguros adequados. Há relatos (em outras matérias) de que grande parte dos caminhoneiros desconhece a tabela de frete mínimo, por exemplo.
  3. Burocracia e adaptação operacional
    Manter documentação em dia, lidar com auditorias, comprovar vigência de apólices, gerenciar seguros digitalmente — tudo isso demanda organização, conhecimento ou consultoria.
  4. Desigualdade de capacidade de adaptação
    Transportadoras maiores têm mais poder de negociação, acesso a capital, seguro mais favorável; autônomos ou pequenas empresas ficam em desvantagem.
  5. Avaliação de riscos e seguros compatíveis
    Escolher apólices que cubram efetivamente os riscos enfrentados, sem pagar por coberturas desnecessárias, exige conhecimento técnico.

Dados recentes que mostram a magnitude

  • A ANTT estipulou o RNTRC como documento indispensável, sem o qual não se poderá operar no transporte de cargas remunerado. A nova regra torna explícito que os seguros RCTR-C, RC-DC e RC-V sejam exigidos para emissão ou renovação.
  • Segundo dados da Confederação Nacional das Seguradoras (CNseg), a arrecadação dos seguros do tipo RC-DC cresceu 8,1% entre janeiro e maio de 2025, totalizando cerca de R$ 570 milhões em prêmios, com indenizações correspondentes também em crescimento.
  • Estimativas da Confederação Nacional dos Transportadores Autônomos (CNTA) apontam que mais de 37% dos autônomos se aposentem até 2026, o que cria uma pressão adicional sobre a necessidade de autônomos mais jovens e devidamente preparados para atuar seguindo as normas recentes.

Possíveis soluções e caminhos de adaptação 

 

 

  1. Consultoria ou assessoria especializada
    Autônomos e transportadoras menores podem recorrer a contadores, advogados ou empresas de seguro que ofereçam pacotes ou orientação para escolher apólices compatíveis, negociar prêmios e documentar tudo de forma correta.
  2. Cooperativas ou associações
    Participar de cooperativas ou associações de transportadores pode dar acesso a melhores condições de seguro, negociação coletiva e facilitação de processos burocráticos (emissão de notas, gestão de RNTRC, etc.).
  3. Uso de tecnologia para gestão de seguros e compliance
    Aplicativos ou plataformas que lembrem vencimentos de seguro, guardem certificados digitais, façam monitoramento de apólices, ou permitam comprovantes digitais automáticos junto à ANTT.
  4. Educação da categoria
    Campanhas de conscientização são necessárias para informar autônomos sobre os seguros obrigatórios, seus direitos e deveres; esclarecer custos, obrigações e sanções.
  5. Negociação de fretes mais justos para cobrir custos adicionais
    Transportadoras e autônomos deveriam considerar esse novo custo de seguro ao negociar fretes, não simplesmente aceitar preços “baixos demais”. Isso pode envolver maior transparência nos contratos com embarcadores.

 

Comparativos: Antes e depois

 

A exigência de seguros obrigatórios reforçada pela ANTT representa uma mudança de paradigma para o setor de transporte rodoviário de cargas no Brasil. Transportadoras e autônomos enfrentam um momento de ajustes forçados: quem se adapta ganha segurança legal, protege seu patrimônio e se torna mais confiável aos embarcadores; quem abandonar pode ficar exposto a perdas, sanções ou exclusão de contratos.

Esse é um momento de transição, e a adaptação rápida será um fator determinante para a sustentabilidade no setor. A combinação de regulamentação, fiscalização, educação e estratégias de mercado será o que definirá quem prospera neste novo cenário.

A exigência de seguros obrigatórios reforçada pela ANTT representa uma mudança de paradigma iniciada em julho de 2025, com fiscalização efetiva até março de 2026.

 

 

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