Digitalização de processos e foco na eficiência operacional são a tônica para tornar o setor mais rentável e sustentável
Mauro Cassane
Intermodal, Imagens
Quase 50 mil visitantes, gente interessada em logística, visitaram o novo espaço do Anhembi, em São Paulo, nos três dias da Intermodal South America, que aconteceu de 22 a 24 de abril. Todo pavilhão foi ocupado por 550 expositores engajados em demonstrar soluções que podem transformar o processo logístico no Brasil e no mundo, tornando tudo isso mais eficiente e, o que é melhor, mais rentável também.
Entre expositores, visitantes e fóruns com especialistas em logística um ponto em comum se destacou: a busca pela eficiência como primordial vetor de desenvolvimento econômico, justiça social e equilíbrio ambiental. E o Brasil, com sua posição geográfica estratégica, dimensões continentais e força produtiva consolidada há quase um século, tem tudo a seu favor para liderar essa nova era. Porém, e sempre tem esse tal “porém”, há o alerta firme e contundente dos especialistas nacionais e estrangeiros: “será preciso saber aproveitar o momento favorável de forma inteligente”.
Essa foi a questão mais comentada no evento: “como aproveitar mesmo esse novo momento favorável?”. Quem entende de logística sabe o que é preciso fazer. Começando basicamente por investir, o mais urgente possível, na melhoria da infraestrutura. Os governantes também sabem disso, só não sabem como ganhar votos, no curto prazo, caso realmente façam a lição de casa.
Poderiam, contudo, caso alguns possam pensar no longo prazo, ganhar votos no futuro. Temos bons exemplos que servem como inspiração: Coréia, Japão, Singapura e China investiram nesse negócio e colheram os melhores frutos. Ninguém duvida disso. Investimento firme e contínuo em melhoria de nossa infraestrutura logística (estradas, hidrovias, portos, ferrovias e aeroportos) vai pavimentar o caminho para um desenvolvimento econômico sustentável com forte impacto em melhorias sociais.
A 29ª edição da Intermodal South America deixou esse recado claramente em todas as suas ações. Estamos resumindo para facilitar. O evento foi realmente grandioso e com recorde de público — quase 50 mil profissionais, 15% a mais que no ano passado — e uma pauta fortemente marcada pela digitalização de processos, sustentabilidade e rentabilidade operacional. A Intermodal reforçou, de fato, seu papel como epicentro estratégico para os modais logísticos das Américas.
Em um mundo em que as rotas comerciais se redesenham em resposta à geopolítica (muitas vezes equivocadas ou trágicas quando um país está sob o comando de pessoas despreparadas), à emergência climática e à revolução tecnológica, a Intermodal 2025 mostrou que eficiência logística não é apenas um diferencial competitivo: é o que determina a própria sobrevivência dos negócios.
Ao longo de três dias, executivos, operadores, autoridades e fornecedores tecnológicos debateram como a digitalização está reformulando toda a cadeia de suprimentos. Soluções em nuvem, automação intralogística, robótica, big data e inteligência artificial deixaram de ser promessas futuras e passaram a ocupar o centro das estratégias de empresas que operam em todos os modais — rodoviário, ferroviário, aquaviário e aéreo.
Fernando D’Ascola, head de negócios da Informa Markets (empresa que faz toda organização do evento) resumiu o espírito da feira: “A Intermodal se reafirma como ponto de encontro essencial para quem constrói o presente e planeja o futuro da logística. Estamos rumo a um setor cada vez mais integrado, tecnológico e sustentável”.
A equação é clara: mais eficiência gera menos desperdício que, por sua vez, entrega mais rentabilidade. E quem ganha também é o consumidor final, que terá acesso a produtos com preços mais competitivos e prazos de entrega reduzidos. Sem contar que a máxima “consumidor satisfeito compra mais” é, neste caso, a mais pura verdade.
Protagonistas da Revolução Logística
- Um dos momentos mais simbólicos da feira foi a entrega oficial do Certificado de Operador Aéreo (COA) à Braspress Air Cargo (BAC), nova companhia aérea da gigante brasileira. Urubatan Helou, diretor-presidente da empresa, recebeu o documento ao lado do presidente da ANAC, Roberto Honorato, oficializando o início das operações de transporte aéreo de cargas da Braspress.
Com isso, a empresa fecha o ciclo de atuação em todos os modais terrestres e aéreos, oferecendo rotas mais rápidas e cobertura nacional. “É um passo decisivo para integrar ainda mais nossa malha logística. O cliente quer agilidade e agora podemos oferecer isso com controle de ponta a ponta”, afirmou Helou.
- Já a FedEx, de volta à Intermodal, apresentou sua estratégia de eficiência e sustentabilidade baseada na digitalização e na redução de emissões. A empresa reforçou seus investimentos em tecnologias limpas e soluções que integram dados em tempo real para aumentar a previsibilidade logística — um recurso crítico em tempos de instabilidade geopolítica e gargalos globais.
- A JWM reforçou seu posicionamento como provedora de soluções tecnológicas com foco em monitoramento, controle e segurança de frotas. A digitalização do transporte, no caso da empresa, está aliada à rastreabilidade e à performance.
- E a Fretebras apresentou a abrangência nacional de sua plataforma digital capaz de conectar com segurança e agilidade milhares de caminhoneiros e transportadoras, otimizando cargas e rotas com base em inteligência artificial. Em tempos de combustível caro e pressão por entregas rápidas, a conectividade proposta pela Fretebras representa mais do que inovação: é sobrevivência, especialmente para os autônomos.
Fóruns Estratégicos
A Intermodal 2025 não foi apenas um showroom de tecnologias. Os fóruns e painéis trouxeram diagnósticos e propostas importantes nas discussões que buscaram harmonizar eficiência com sustentabilidade.
Lars Jensen, CEO da Vespucci Maritime, trouxe um alerta impactante: “Não teremos um mundo fácil de navegar nos próximos dois anos”. Com a guerra tarifária entre EUA e China e os conflitos no Mar Vermelho, Ucrânia, Gaza e crescente tensão Índia-Paquistão, o comércio global está se reconfigurando. “E o Brasil pode se beneficiar dessa fragmentação, desde que invista pesado em infraestrutura”.
Onara Lima, especialista em ESG e professora da Fundação Dom Cabral, não poupou os ouvintes: “Sustentabilidade não é apêndice — é estratégia”. Ela destacou que os investidores já precificam riscos ambientais e que as empresas que não se adaptarem perderão competitividade. A lógica é de causa e efeito: menos emissão, mais resiliência, mais retorno.
Inovação em Movimento
Diversas empresas lançaram tecnologias durante a feira. A BYD apresentou o Dolphin Mini Cargo, um veículo 100% elétrico voltado à logística urbana de última milha, já operando nos Correios. Já a Heli Brasil mostrou a primeira Reach Stacker elétrica movida a lítio — com 6h de autonomia e 2h de recarga — que promete revolucionar operações portuárias.
No setor intralogístico, a WEG, em parceria com a Senior Sistemas, expôs robôs autônomos de transporte integrados a plataformas WMS, mostrando como a automação brasileira compete em nível internacional.