Michael Bogajo é especialista no combate às fraudes digitais. Atualmente é Head de Prevenção à Fraude da FreteBras. Formado na área de logística, pós graduado em gestão de pessoas e com MBA em gestão empresarial, Bogajo tem mais de 10 anos de experiência atuando na prevenção à fraude digital e gestão de risco. Iniciou sua carreira combatendo fraudes financeiras no banco Santander, trabalhou por mais de quatro anos no Mercado Livre, onde teve vivência na América latina gerenciando times multidisciplinares. Antes de aceitar o desafio na FreteBras, ele trabalhou por dois anos no Magazine Luiza, montando estrutura para combater a fraude e o ecossistema digital da companhia. Neste período se especializou em políticas e regras de utilização de marketplaces/ e-commerces e junto ao seu time registrou os menores índices de fraude e perda financeira da empresa lhe rendendo uma palestra no Fraud Day 2020.

Na Fretebras há um ano, o profissional idealizou o serviço “Motor de Risco do Frete” da plataforma, gerando mais segurança para as embarcadores e motoristas. Bogajo, que também é professor universitário, tem, também, conhecimento em melhorias de processo, criação de regras de risco, fluxos de onboarding, monitoramento e detecção de risco.

Quais os golpes mais comuns contra caminhoneiros e frotistas?

Quando falamos do universo do transporte de cargas, infelizmente, existem diversas tentativas de fraudes, mas os golpes mais comuns que identificamos no dia a dia são os seguintes: Golpe da Carga falsa, os golpistas se passam por empresas que possuem um frete a ser transportado. Estas empresas (assinantes da plataforma) anunciam o frete, sendo que algumas não realizam as devidas verificações sobre a carga.
Com isso, o motorista interessado entra em contato com a empresa que realizou a postagem e acaba sendo direcionado para terceiros (golpista).
Após o alinhamento de local de embarque e valor do frete, o motorista se desloca para o local e isso pode acarretar os seguintes golpes:

  • Golpe da Taxa: antes do carregamento o golpista solicita os dados do motorista (CNH, CRLV, etc). Ele menciona que precisa ser atualizada uma documentação do motorista para que prossiga com o carregamento e cobra uma taxa de atualização da GR, por exemplo. O motorista ao pagar a suposta taxa recebe outro endereço para carregamento e ao se deslocar identifica que não há carga a ser transportada.
  • Roubo do caminhão: Ao chegar no local acordado para carregamento o motorista é surpreendido por golpistas (na maioria dos casos estão armados) e tem seu caminhão roubado.
  • Roubo da Carga:
    Os golpistas se passam por caminhoneiros legítimos e ao iniciar o transporte da carga ocorre o sinistro de roubo.
    É importante salientar aqui que temos muitas situações de roubo de carga que são reais e sem o envolvimento do caminhoneiro que também é vítima.
  • Golpe do adiantamento do frete:
    Os fraudadores identificam fretes em potencial de golpe e entram em contato com a empresa se passando pelo motorista interessado em transportar a carga.
    Assim, o golpista realiza a negociação com a empresa, na maioria dos casos neste momento, ele envia dados de terceiros (informações utilizadas desde o início da negociação).
    Após fecharem o acordo, o golpista pede para que o valor do adiantamento seja creditado em outra conta bancária devido a problemas em sua conta. Assim que recebe o depósito, o golpista não aparece para o carregamento da carga e não atende mais a empresa.
  • Golpe da triangulação:
    Uma empresa cadastrada faz a publicação do frete de forma pública e o golpista encontra o frete e se passa por embarcador. Ele contata o motorista dizendo que possui uma carga e solicita ao motorista que envie os seus documentos.
    Então, ele contata a empresa dizendo ter encontrado o motorista e encaminha os documentos do motorista verdadeiro. Com os documentos do motorista, o golpista consegue abrir uma conta em um banco digital, na maioria dos casos. Ele passa para a empresa os dados do motorista e os dados da conta digital. Assim, a própria empresa faz o pagamento na conta falsa.Com isso, o motorista verdadeiro vai até o local do carregamento e carrega a carga sem confirmar que o pagamento foi efetuado. Durante o trajeto percebe que o pagamento não foi realizado, contata a empresa e neste momento identificam que caíram no golpe.

Como é possível evitar ou minimizar esses golpes?

Para evitar e minimizar esses golpes, em 2021, nós da Fretebras investimos R$ 30 milhões em ações para o programa Frete Seguro, auxiliando as transportadoras e os caminhoneiros a conseguirem trabalhar de forma mais segura.

Dentro das ações do programa, nós triplicamos o time de ouvidoria, canal oficial para fazer denúncias e solicitar ajuda, criamos um time de prevenção à fraude, com especialistas com mais de 10 anos de experiência na área e realizamos diversas campanhas educativas para ajudar tanto caminhoneiros quanto transportadoras.

Olhando especificamente para os caminhoneiros, o carro-chefe do programa foi a criação do “Motor de Risco do Frete”, um robô que avalia e valida milhares de fretes diariamente para identificar o seu risco, e que permitiu à Fretebras barrar grande parte das ações de fraudadores. Como resultado, as fraudes efetivas contra caminhoneiros tiveram uma redução de 67%, passando de 273 casos, em 2020, para 90 em 2021.

Quando olhamos as ações para as transportadoras, o programa Frete Seguro ajudou a aumentar a segurança da plataforma ao permitir a publicação de fretes apenas para caminhoneiros logados e validados. Dessa forma, as transportadoras puderam evitar que qualquer visitante do site da Fretebras conseguisse visualizar os fretes disponibilizados, o que auxiliou para evitar possíveis fraudes. Nós reduzimos para 0,74% o volume de fraudes efetivas contra empresas em 2021, o que significa uma taxa de segurança de 99,26% para mais de 14 mil transportadoras ativas na plataforma.

E numa visão de caminhoneiros e transportadoras dentro da plataforma da Fretebras, eles podem contribuir também com a realização da avaliação de mão dupla, que permite que caminhoneiros e empresas se avaliem após a conclusão de um frete, trazendo mais confiança e segurança na hora de fechar um novo.

Quantos por cento vem crescendo ao ano a utilização de aplicativos de frete no Brasil? E qual a tendência para os próximos anos?

O crescimento da Fretebras nos últimos anos comprova o aumento da digitalização do setor, principalmente quanto à terceirização digital do frete, por meio de aplicativos como o nosso.

A tendência para os próximos anos é que isso continue, afinal, ano a ano, o PIB do setor logístico brasileiro cresce proporcionalmente mais que PIB do país no geral. Só em 2022 já são mais de 240 aplicativos relacionados ao transporte, e na Fretebras nossos números comprovam a tendência.

Quais são os números da Fretebras?

Quanto ao número de empresas na plataforma, nós passamos de 12 mil para 17 mil em janeiro de 2021 para janeiro deste ano. Houve mais de 40% de crescimento. Sobre o número de caminhoneiros na plataforma: passou de 470 mil para 675 mil. Também mais de 40% de crescimento. E o volume de fretes na Fretebras foi de 5,8 milhões para 8 milhões (2020 x 2021). 38% de crescimento. Todos esses aumentos vistos na Fretebras confirmam a digitalização do setor, que além de facilitar o transporte de cargas entre as partes, também ajuda no controle dos custos. Fizemos um cálculo interno e descobrimos que as transportadoras que optam por usar a nossa plataforma tem 23% de economia de custos da contratação do frete em comparação com este mesmo frete utilizando frota própria.

Novos serviços serão agregados? Podemos pensar em alguma experiência para tornar o transporte mais seguro e sustentável?

Sim, constantemente estamos adaptando novas funcionalidades e serviços na plataforma. Recentemente, iniciamos um processo de migração do cadastro dos motoristas, da placa do veículo para o CPF do condutor, e já superou os 120 mil caminhoneiros com o CPF validado. Este novo cadastro vai trazer ainda mais segurança e confiança para a transportadora em relação ao transporte de sua carga.

Além disso, estamos incluindo uma verificação de biometria no cadastro do caminhoneiro para auxiliar na identificação dos motoristas. Neste sentido, a Fretebras está implementando um sistema de proteção de identidades digitais, contas e dispositivos das empresas, com o objetivo de evitar invasões e acessos indevidos na plataforma, trazendo mais segurança para o setor.

Hoje se fala muito em sustentabilidade logística. É um fator crucial especialmente para grandes embarcadores comprometidos com a Pauta ESG. Como é possível se valer da tecnologia para oferecer transporte cada vez mais amigável ao meio ambiente?

Em 2020, nós recebemos investimento de milhões de reais do Bid Investe que prestou uma consultoria e analisou o impacto ambiental da Fretebras. Descobrimos que a cada ano, tiramos pelo menos 20 milhões de toneladas de CO2 da atmosfera ao ano. Isso equivale a 4x as emissões de todo o Uruguai. E tudo isso acontece graças à tecnologia. Com os caminhoneiros usando o nosso aplicativo, nós possibilitamos uma redução da capacidade ociosa do caminhão, já que a máquina fica operando com a sua máxima capacidade. Aquela viagem de retorno que o motorista voltava vazio, com a Fretebras ele pode voltar com outro frete no cargueiro.

Aplicativos de frete podem se tornar Market Place para venda de peças, serviços e até mesmo caminhões?

Claro, pode sim, de acordo com a diretriz de cada companhia. No nosso caso faz mais sentido focar em serviços como: seguros, financiamentos, empréstimo pessoal, etc.

Como a Internet das Coisas pode transformar o setor logístico como um todo nos próximos anos?

Acho que podemos vincular o termo “Internet das Coisas” mais a segurança do setor, principalmente quanto a acompanhar a jornada do frete do ponto de vista do motorista.
Pense em uma conexão de toda a jornada. Desde o momento do surgimento do frete até a sua entrega existe uma conexão das pontas. Auxiliando no rastreamento dos fraudadores, na prevenção e antecipação de golpes.

Entretanto, temos que pontuar que o conceito de “Internet das Coisas” ainda não é tão usual em nosso país. Atualmente, temos um problema maior de infraestrutura e acesso a rede nas estradas.

Qual a expectativa de vocês para esta quinta geração de internet, a 5G?

Como dito anteriormente, a realidade da internet no Brasil não é das melhores. Menos de um terço da população do país tem acesso pleno à internet, portanto o ponto chave aqui é atingir todo o território nacional e cobrir bem as estradas, antes de tudo.

Mas sim, as expectativas são boas. As empresas que têm conexão ruim, em função de sua localização terão mais facilidade com a internet 5G e os caminhoneiros terão mais segurança, por estarem conectados por mais tempo.

Um último destaque que faço é que quando falamos de fraudes e golpes, o maior risco está na falha humana e não no sistema. Por isso, sempre temos que continuar olhando para o lado mais educativo do processo. A internet 5G vem sim para ajudar no quesito segurança, mas se o lado humano não acompanhar esse desenvolvimento, as possibilidades de riscos continuam altas.

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