Francisco Alberto Madia de Souza, mais conhecido como “Madia” é considerado a maior autoridade em marketing do País, e é diretor-presidente e sócio do MADIAMUNDOMARKETING – empresa líder em consultoria empresarial, sob a ideologia do marketing. Com 77 anos, Madia tem motivos de sobra para celebrar os 40 anos da empresa que fundou e, nesta entrevista exclusiva para TranspoData, o professor nos conta sua visão do marketing e do que ele denomina de “admirável mundo novo”.

Por Rinado Machado

 

TRANSPODATA – Madia, você pode começar contando um pouco da sua trajetória?

MADIAEu nasci em Bauru e trabalho desde os sete anos de idade. Até os 37 trabalhei em 12 empresas diferentes. Dentre outras, comandando o marketing do ITAÚ, da ALMAP, da WALLIG, da CARTA EDITORIAL. Aos 38 montei o MADIAMUNDOMARKETING, empresa de consultoria empresarial, que vai completar 40 anos em setembro 2020.

TD – O que é o MadiaMundoMarketing?

MadiaO MADIAMUNDOMARKETING é uma empresa de prestação de serviços de consultoria empresarial. Somos médicos de empresa. Fazemos o diagnóstico, construímos o planejamento estratégico, reposicionamos essas empresas, e cuidamos da ativação do plano. Todo o processo de ativação tem por objetivo fazer da empresa, seus produtos, serviços, e seu capital humano, marcas líderes em seus territórios de atuação.

TD – Toda essa onda de marketing digital vai decretar no curto prazo, o fim do marketing convencional? Ou é possível convivência harmoniosa entre ambos?

MadiaNem uma coisa nem outra. O marketing é único. No passado, anos 1970, era uma caixa de ferramentas. A partir dos anos 1990, finalmente as empresas entenderam o que PETER DRUCKER anunciou ao mundo em seu livro PRÁTICA DE ADMINISTRAÇÃO DE EMPRESAS do ano de 1954. Que marketing muito mais que uma caixa de ferramentas, muito mais que um departamento, é uma ideologia. A ideologia da empresa moderna. A forma de pensar e proceder das empresas que ambicionam ingressar no novo mundo que está nascendo em busca da liderança de seus territórios de atuação, e da sustentabilidade. Assim, o marketing, pensamento e postura, tem que se encontrar presente em toda a empresa. Em todas as áreas. Marketing deixou de ser uma exclusividade das áreas de marketing e passou a ser a forma das empresas planejarem, pensarem e agirem.

TD – Muitas marcas migraram grandes verbas publicitárias das mídias convencionais (revistas, jornais e programas de TVs) para as Redes Sociais, considerando-as como a mais importante mídia da atualidade. Na sua opinião, esse cenário traz algum risco real para o fim do jornalismo?

MadiaDo jornalismo não. Jornalistas continuarão existindo só que provavelmente, e não mais, nos jornais e revistas tradicionais. E sim em blogs, aplicativos de informação, outras plataformas de comunicação. Jornais e revistas é que estão agonizantes. Hoje os jornais e revistas sobreviventes acompanham tensas as tentativas lancinantes de sobrevivência do THE NEW YORK TIMES, e do THE WASHINGTON POST. Mas, com possibilidades mínimas de sucesso. Por outro lado, a instituição que procurou perenizar essas plataformas de comunicação convencional, muito especialmente os jornais, o NEWSEUM de WASHINGTON, fechou suas portas agora no início de janeiro. Uma espécie de premonição com o que acabará acontecendo com as plataformas convencionais de comunicação, com raríssimas exceções.

TD – Esse negócio de “ser disruptivo” acabou virando um mantra de todo mundo que quer passar um verniz de modernidade em seus negócios. Todos agora querem oferecer algo “disruptivo”. Como você encara esses exageros?

MadiaTodos tem que se reinventar. Mas, e antes de qualquer providência ou procedimento açodado, entender as razões e motivos dessa necessidade premente e inadiável. Com a criação do microchip no ano de 1971, e com as conquistas da medicina a partir do projeto Genoma Humano ingressamos em duas novas realidades. Absolutamente novas. Aos três  ambientes originais do universo, da biosfera – atmosfera e hidrosfera e litosfera – agregou-se um quarto ambiente, a digisfera. Que modifica os três originais e imprime uma velocidade e mudanças na natureza das coisas inimagináveis, criando a escalabilidade e o nascimento das organizações exponenciais. Com o Projeto Genoma Humano nasce a medicina corretiva – hoje podemos corrigir os erros com que as espécies nascem e assim a perspectiva de vida aumentou de forma extraordinária. Nos últimos cem anos, só com a medicina preventiva, ganhamos 40 anos a mais de vida. Com a corretiva, que agora está começando, viveremos muito mais de cem anos. Assim com um novo ambiente, e vivendo mais, tudo o que nos trouxe até aqui tem que ser repensado. E com o que chegamos até aqui não chegaremos a lugar algum, ou seja, temos que nos reinventar. Pessoas e empresas.

TD – Um dos efeitos colaterais dessa digitalização toda é que as pessoas estão cada vez com mais pressa como se o mundo fosse mudar radicalmente amanhã ou, pior, como se todos estivessem com o prazo de validade perto do final. Como oferecer informações profundas, como oferecer conhecimento para pessoas que têm pressa e querem consumir coisas rasas e, frequentemente, superficiais?

MadiaDurante anos acreditamos que era suficiente fazer uma faculdade, eventualmente uma pós, e nunca mais precisaríamos pegar nos livros. Hoje essa é apenas a primeira parte. Todos nós teremos que, depois de formados e capacitados, contratarmos serviços de mentoria permanente e em tempo real. Que nos preservem atualizados 24 X 24. Sozinhos, não conseguiremos permanecer intelectualmente vivos.

TD – Para inovar em comunicação é preciso romper com tudo o que dava certo há duas décadas? Ou é possível alinhar e harmonizar o passado com o futuro?

MadiaPensar em comunicação é decorrência, caminho, meio. Primeiro precisamos, mais que nunca, termos uma consciência plena das pessoas com as quais queremos falar, conversar, sensibilizar, convencer, vender uma primeira vez, ter como cliente para sempre. Tendo essa consciência, só aí, iremos definir a qual caminho recorreremos para realizar essa comunicação. Ou seja, os fundamentos continuam rigorosamente os mesmos. Os recursos que agora se multiplicaram quase ao infinito. Muito especialmente com a Inteligência Artificial que nos permite conhecer suspects e prospects não mais por pesquisas eventuais, mas pelo seu comportamento permanente, pelas suas manifestações espontâneas a cada momento de seu dia e pelos rastros que vão deixando pelas redes sociais, pelo ambiente digital, e muito mais. Ou seja, por suas pegadas comportamentais.

TD – Com as facilidades do universo digital, cada vez mais incauto e aventureiro, mais pessoas se tornam “influencers” e passam a seus seguidores conceitos, opiniões, notícias e informações. Em seu ponto de vista, qual o perigo desse processo e como as pessoas que querem e precisam estar bem informadas vão conseguir separar o joio do trigo?

MadiaAssim como em outras circunstâncias e eventos, multiplicam-se picaretas de toda a ordem em momentos de mudança e transformação. No atual então, em que isso acontece de forma radical, os picaretas abundam! Hoje o Brasil tem 500 mil Youtubers, e parcela expressiva deles se intitulam INFLUENCIADORES. E tentam vender para os incautos seus comentários, preferências e opiniões. Isso posto, fuja de influenciadores mais que o diabo foge da cruz, e segure sua carteira com as duas mãos sempre que for conversar com um deles. O que continua contando, como sempre, são LIDERES E FORMADORES DE OPINIÃO. E se você quiser contar com um comentário favorável deles, terá que sensibilizá-los e convencê-los. Jamais com dinheiro. Verdadeiros FORMADORES DE OPINIÃO não vendem sua opinião. Comentam sobre o que dominam e são especialistas para atender a demanda, as pessoas que lideram e formam opinião.

TD – Como uma marca pode avaliar atualmente se é melhor: investir em um “influencers” com milhares de seguidores, mas sem conhecimento técnico algum sobre seus produtos ou investir em uma mídia especializada mas com alcance mais restrito?

MadiaJamais invista em influenciadores. Invista em formadores de opinião contando com os serviços profissionais das empresas ou profissionais de relações públicas.

TD – Como fazer marketing digital de maneira inteligente, estratégica e eficiente?

MadiaComo disse, não existe marketing analógico ou digital. Existe marketing, e para se fazer marketing de excepcional qualidade, ou se tem esse conhecimento dentro da empresa, ou recorre-se aos serviços de uma empresa de consultoria especializada, e comprovadamente por seu curriculum de realizações e credenciais, capaz.

TD – Como fazer bom jornalismo quando se observa que muitas áreas de marketing estão notoriamente mais preocupadas em obter quantidade de visualizações do que a qualificação de quem visualizou?

MadiaFazendo bom jornalismo, respeitando os fundamentos da profissão, recorrendo exclusivamente as melhores práticas, e gradativamente ir sensibilizando os verdadeiros e competentes profissionais de marketing de que o jornalismo de qualidade é insubstituível. Devido ao furacão que se abateu sobre o mundo, as pessoas encontram-se perdidas e desorientadas, mas a poeira já começou a baixar e brevemente se resgatará o juízo e prevalecerá a verdadeira qualidade.

TD – Como mostrar para as empresas que, mesmo diante de toda essa revolução no jeito de se comunicar, a verdade é que as pessoas sempre vão preferir qualidade à quantidade?

MadiaCom argumentos consistentes e relevantes, com exemplos, com conhecimento, com informação. Mas, e se mesmo assim, empresas e profissionais optarem pela quantidade, pelo tumulto, pela mistificação, merecem.

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